sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Fazendo a curva...

(Eram cabelos o que ele tinha entre os dedos e que pendiam de um pensamento deveras concreto..)
- São multicoloridos estes fios!
- Todos o são..
- Não, este aqui é todo castanho!
- Apenas porque você assim o quer..
(Ele silenciou ofendido. "Só porque você quer" retumbava em seus pensamentos.. não era árbitro, tampouco juiz.. não havia feito direito, e era pródigo em fazer errado.. quando o cansaço o venceu, falou..) - Não sou eu quem quer.. a cor que nele está..
- Não! Não há cor no cabelo.... nem em lugar algum.. a cor é um frequência de onda da luz que o atinge e após refletida, estimula seu nervo óptico que acaricia com sensações seu cérebro.. e você chama isso de castanho.. ou melhor, alguém.. como Platão.. disse-o castanho e outros tantos o aceitaram, que aqui está você a me dizer bobagens..
(Novamente ele buscou refúgio no silêncio temendo repetir as bobagens..) - Então não existem cores? (disse em tom ofendido..)
- Não...
- Hunf!
- Mas não é culpa sua.. aliás a culpa também não há...
- Então não há nada! (Os braços dele moveram-se com aquela revolta própria de ser contida por camisas de força)
- Sim, o nada há e nele há tanto que não haveria como abarcar..
- Há sim! Só dizer.. TUDO!!!
- Tudo não quer dizer nada...
- Quer sim! Quer dizer todas as coisas..
- Mas não diz nada.. já que lhe escapa o outro..
- Que outro?
- O nada...
- Nada não existe!
- Sem o nada não há tudo, ou melhor, só pensas no tudo se pensas no nada...
(Ele buscava algo que rechassasse aquele sofisma incômodo.. soltou os cabelos de seus dedos, que se desfizeram em finas e sinuosas fumaças..)
- Não me agrada essa conversa!
- Nada mais justo... o desagrado é imanente.. assim como o degredo é necessário..
- Pensava ser este um refúgio!
- Ele é sempre que assim desejas...
- Mas aqui não acho a paz...
- A paz é uma condição e não um estado.. é uma tensão e não uma conquista... a paz é uma luta constante...
- A morte é a paz eterna! (ele disse como quem nada tem a dizer, mas quer muito dizer algo esperto e inquestionável..)
- Não foi isso que ela mesma me disse...
- Quem?
- A morte...
- Não se pode conversar com a morte!
- Talvez você apenas ainda não tenha tido essa sorte...
- E o que mais ela te disse?
- Que aquele era meu dia de sorte...
- E o que você disse para ela?
- Que me sentia com sorte... mas tinha medo..
- Medo de que?
- Da sorte...
- Mas sorte é algo bom..
- A sorte não é algo... nem intrissicamente boa... a sorte é um desejo...
- Realizado?
- Desejos não se realizam..
- Mas que diabos.. (ele protestou levantando-se e bufando... como se ficar ereto e de pés no chão o fizessem mais convicto...) Essa conversa não vai levar a lugar algum..
- Parece que finalmente você está começando a entender... tire esse terno sufocante, solte esse cabelos e dobre seus sentidos... eu adoro essa curva da espiral... (e ela lhe sorriu seu sorriso mais caprichado com seus lábios negros, fosse de batom ou da ausência de cor que representavam.. os cabelos esfumaçados dela dançavam em corcodância com a penumbra e a brancura de mármore da pele dela refletia todos os pensamentos dele.. ao fundo podia-se ouvir algum hino clássico dos anos 6o e por toda parte havia um cheiro de sândalo e orégano..) Melhor dançarmos ou podemos cair...

9 comentários:

Camilla. disse...

quebraram muito minhas asas,se voar é profissão,estou desempregada,irei virar mendiga.
alguém me ajude,quero meu coração de volta,e dar novamente pra mesma pessoa,que nem sei,se sabe,se eu dei,mas eu dei.
Fada me fazia voar,e agora,quem fará?
quero voar,voar,voar...
pra perto dela.
regra.

Camila Queiroz disse...

Meu inquestionável fez-se na ausencia de ter-te a me explicar algo... Sim, pode-se ter tudo no nada, pode-se ter nada no tudo. Pode-se conviver com paradoxos alucinantes, pode-se viver na cristalidade dos ambientes inóspitos.
Sei lá...

Anônimo disse...

durante a minha ausencia lembrei-me de ti varias vezes... sempre que ouvia a musica "Se..." do Djavan em que ele canta: São Jorge por favor me empresta o dragão.

Salve Jorge, me empresta um dragao que me leve para longe da dor?

beijinho

Mah disse...

ganhaste um link no meu blog

Anônimo disse...

Eu me senti de volta aos bancos da faculdade [que nem deviam ser bancos, eu os chamava assim porque, ora, vai saber...]

Camilla. disse...

aos poucos todos iremos molhar essa folha-de-dor,e sair rasgando do mar,todas as estrelas-do-mar,pra contar,pra contar.
Que vida,que vida.
Às vezes estúpida,mas sempre divina.
(exagero,haha)

Mah disse...

grata Jorge...

mas seria Jorge seu nome?

tayná. disse...

um grito no céu
um desespero no mar
eu mando flores
não recebo sorriso
eu me afogo
saudade do teu colo
do calor das tuas asas
do vibrar dos teus suspiros
do sentir do teu peito
quero me afogar na tua divindade
como me afoguei nesse mar sem luz
não me deixe, como os outros
não sei andar
voar, nem penso
estou presa
eu flor,
você abelha.

Camilla. disse...

e não é só o dedo perdido, é em geral.
nossa,que banal!
quero sorrir,quero sorrir.
será que é pra mim ?
sou eu,uma abelha?

Jorge,Jorge,nunca vou deixar aquela Fada-flor!
(quero chorar,quero chorar, não posso,tem tantos aqui,mas é de alegria,ou de tristeza,nem sei nem sei,só sei que eu amei,amo,amarei).