terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Uma certa indecência ou [P]or que não?

Eu sei que gostas
Dessas unhas nas minhas costas
Arranhando tal qual anzol
Enquanto desarrumamos o lençol
Desalinhamos os cabelos
Completamente nús.. em pêlo
Saboreando nosso gosto
Enquanto desses pelo rosto
E atinge o meu pescoço
Sim, sou teu moço
E vim te deixar louca
Vim deslizar a minha boca
Para que grites
Até ficar rouca
Não duvides
Toda indecência, contigo, é pouca
E esse teu cheiro
Me deixa faceiro
Enquanto danças em minhas mãos
Pra que a cama
Se temos o chão
Pra atiçar as chamas
Já que sois a lenha
Pro meu fogo acender
Enquanto bebo-te a alma
Com a devida calma
De quem quer se perder
Nessas coxas
Deixar as vontades frouxas
E desfazer os nexos
Deixar os decentes perplexos
Refazer nossos sexos
E ter sempre no meu vivido
Algo que nunca sonhei ter tido
Mais que prazer
A magnificência do teu gozo em meu ouvido...

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Pedaços de um compasso sem sintonia ou Não me arrependo de nada...

Eu vejo as praias
Da areia
Penso nas sereias
Ao longe algumas vaias
Invejosas das saias
Presas nas teias
E sempre que a noite alteia
Irrompem as asas
Sangradas mas firmes
Para me levar aos culmes
Pra esquecer das casas
Tão insulares...

Eu precisaria apenas de uma brisa
Uma calça velha, um chinelo e uma camisa
Dos meus cabelos compridos
Algumas reminicências do vivido
Pra lembrar que consigo
Que é tudo comigo
Que sou meu próprio abrigo
Pra ver se sigo
Cantarolando um sambinha
Esquecido de tudo que tinha
E nunca tive...

Se eu pouso
Tem de ter festa
E se não tiver
Escapo pela fresta
Porque sempre ouso
O quanto quiser
Afinal não existe colher
Por isso pra que dobrá-la
Melhor me livrar da mala
De tudo que cala
E amá-la
Como se não houvesse amanhã...

Mas é só mais um começo
Quem busca o certo
Não percebe o avesso
Do avesso, do avesso.. do avesso
Então fico esperto
Me lembro do Humberto
E de todos os amigos
Dos aprendizados antigos
Que me fizeram um refugo
De tantas possibilidades
Me libertaram do julgo
Das estéticas e das vaidades
Mas eu não me arrependo de nada
De absolutamente nada...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Coisas passadas ou melhor post de novembro...

Pois é pessoas, enfim chegou ao fim a retrospectiva dos posts de 2007.. ufa né.. risos. Esse conto me deu muito gosto de escrever.. aquele gosto de falar algo pessoal por sensações mais do que por palavras... ele é bem pessoal, além da pessoalidade que todos os escritos carregam...
Enfim, próxima postagem coisa nova... aguardem e confiem...

Dano ou Estar...

(Ele correu os dedos pelo papel. A caneta havia caído pesada sobre a materialidade que servia de veículo àquelas palavras.. e isso facilitava sua leitura...)

- Decidi escrever-te porque não mais aguentava pensar em você, precisava expulsar esses pensamentos de mim para o papel, para fora de mim, para algo alheio a nós dois...

(Ele parou. Levantou-se e deu três passos longos. Chegou até o som e ligou-o e apenas deixou tocar o cd que por lá já estava..)

- "The lunatic is on the grass.. the lunatic is on the grass.. remembering games and daisy chains and laughs.. got to keep the loonies on the path..."

(Tomou a taça na mão esquerda e tornou à leitura manual..)

- Muitas, tantas, inúmeras vezes as palavras me assaltam, me corroem, me impelem e dobram minha vontade com todo esse potencial limitante de percepções. Não me entenda mal, o problema não é você.. nunca foi.. nunca será. O problema sou eu.. sempre foi.. sempre será. É essa maldita besta insaciável que vive em meu íntimo, desejosa de banquetes apoteóticos a todo instante e desavergonhada de pedir, ainda assim, um 'teco' de qualquer lanche de outrém que lhe passe pela vista...

"The lunatic is in the hall.. the lunatics are in my hall.. the paper holds theirs folded faces to the floor.. and every day the paper boy brings more..."

(O papel ainda tinha o perfume dela. Era sempre inebriante e instigante aquele perfume, que para ele tinha um certo cheiro de kinder ovo.. ao mesmo tempo que conseguia invadir suas narinas, penetrar escorregadio pelo seu íntimo e atiçar suas partes. Bebeu vinho..)

- Por isso cheguei até você. Por isso preciso seguir o meu caminho. Sei que deve doer muito ler o que estou dizendo, mas tenho de ir para não me perder. Ficar seria dar algo de mim, que uma vez dado, me fará uma falta suprema. Não taxe-me de egoísta.. não que eu não seja.. sou sim, por escolha, inclusive.. mas não uma egoísta qualquer, sou egoísta pelo bem do equilíbrio universal. Posso jurar meu amor, mas não posso trair a mim mesma. Você que bebeu do melhor e do pior de mim, não irá querer ficar para ver o vinho tornar-se vinagre...

"And if the dam breaks open many years too soon.. and if there is no room upon the hill.. and if your head explodes with dark forebodings too.. I'll see you on the dark side of the moon..."

(O vinho já não desceu tão doce. Ele afastou a taça amarga, que agora mais parecia um réles copo de requeijão. Tateou o cinzeiro e retirou de lá uma ponta sobrevivente.. deixou a carta e acendeu-a. Deu uma longa tragada e a prendeu dentro de si, apenas para sentir a fumaça castigar seus pulmões. Não queria sentir nada de bom naquele momento..)

- Houveram tantos antes de você. Haverão muitos ainda.. eu espero.. pelo menos é como sempre tem funcionado. Mas nenhum como você. Como sei que nunca encontrará ninguém como eu. Não por sermos especiais. Simplesmente por sermos humanos. Demasiado humanos. Incomensuravelmente humanos.. mundanos.. fulanos e ciclanos...

"The lunatic is in my head.. the lunatic is in my head.. you raise the blade, you make the change.. you rearrange me untill I'm sane..."

(Soltou a fumaça, que já era quase ar. Seus sentidos inclinaram-se um pouco, mesmo que o mundo permanecesse na escuridão de sempre. Um mundo sem cores, sem curvas, ângulos e entalhes. Um relógio para ele era muito mais um tic-tac constante, do que um círculo numérico e cíclico. Uma carta era pra ele um ato quase sexual de desvendar um corpo com seu arguto tato.. e ela sabia muito bem disso...)

- Eu queria ter o direito de te dizer que sou sua. Mas seria mentira. E não que eu não minta.. minto o tempo todo.. mas seria leviano lhe retribuir dessa forma, seria como cuspir nos seus óculos. Um dia já acreditei que podíamos ter as pessoas.. hoje sei que podemos estar com elas e nada mais. E estar com você foi profanamente divino. Nunca ninguém me tocou como você. Muitos correram a mão pela minha carne, poucos pela minha alma.. nenhum antes, pelos meus medos. E sei que eu vi em você o que me ensinastes a ver de olhos fechados. Nosso retrato sempre ficará aqui guardado, num belo lugar do álbum, com menção honrosa.. entre o meu cão Gumercindo e um coleguinha de 2a série chama Leonardo Matias da Silveira que me roubou o primeiro beijo que tenho lembranças...

"You lock the door.. and throw away the key.. there's someone in my head but it's not me..."

(O baseado findou-se, já quase lhe queimando os dedos. Largou-o de volta no cinzeiro transbordante sobre a mesa de carvalho pintada de tinta acrílica branca.. o branco sempre tinha uma textura diferenciada das demais. Largou novamente a maldita carta da maldita dama com suas malditas palavras. Levantou-se e foi até a janela. Eram cinco passos médios. Parou esticou os braços e o batente estava lá como devia. Abriu-a. Sentiu a brisa da noite, desejoso de que ela trouxesse um perfume menos embriagante. Veio apenas o cheiro da fumaça suja da cidade.. da urina feita nas junções entre o prédio e a calçada.. o excremento de pombos que recobriam o telhado.. as damas da noite, que no parque ao longe, ondulavam ao sabor do vento.. pensou por onde estaria o mar...)

- Sendo assim, meu oráculo.. meu profeta.. meu apóstata.. meu espelho.. tenho de ir e já tendo ido, deixo este pedaço de mim transcrito para que nunca digas que não lhe dei nada. Sei sim que tanto recebi e tão pouco dei.. mas assim é a nossa natureza.. você é de dar, eu sou de receber.. e sou sedenta de muitas fontes.. sou como o mar, que precisa de muitos rios e da chuva e de sabe-se lá mais o que, para seguir em seu movimento de ir e vir. Quando nos encontrarmos novamente, sorria com carinho...

"And if the cloud bursts, thunder in your ear.. you shout and no one seems to hear..."

(Retirou as mãos do batente velho e já cheio de fissuras do tempo e levou-as até o cabideiro, ao lado, sempre ao lado, onde estava seu chapéu. Colocou-o sobre os cabelos longos como faria um gângster em um daqueles filmes antigos que ele nunca vira. Pegou o sobretudo, vestiu-o sentindo desde já o peso do que havia nos inúmeros bolsos.. caminhou os oito passos que o separavam da porta.. passos pequenos...)

- Ainda assim, sei que tens todo o direito de me odiar. Não o recrimino.. talvez ninguém me odeie mais do que eu mesma. Minha mãe sempre me dizia que eu era minha pior inimiga e não que eu devia tomar cuidado. Nunca fui do tipo cuidadosa mesmo. Mas que seja um ódio amável, ódio de querer arrancar-me do mundo e prender-me numa gaiola dourada, com boa água e alpiste da melhor qualidade. Certamente, seria a mais bela gaiola de minha vida. E, ainda assim, contigo lá.. com água.. alpiste.. conforto.. vinho, poesia e boa música.. ainda assim, não seria a liberdade. Perdoe minha vaidade e minha vã idade, mas tenho pés inquietos, asas sangradas e braços abertos para receber muitas flechadas...

"And if the band you're in starts playing different tunes.. I'll see you on the dark side of the moon..."

(Pegou a bengala que sempre ficava junto à porta. Girou a maçaneta. Olhou uma última vez para mesa, onde não mais jazia a carta, que chegara ao chão levada pelo vento que vinha da janela, como se pudesse vê-la. Suspirou uma longa desilusão. O corredor o esperava com a luz que se acendia sozinha. Pensou se deveria chorar. Acabou por sorrir o sorriso de quem já chorou demais. Fechou a porta atrás de si e foi-se adiante pela escuridão...)

- Por isso tenho de ir.. sozinha.. avante pela escuridão. Até qualquer dia, até um dia qualquer, onde talvez eu não parta, onde talvez você não fique, onde talvez eu suplique por estar farta de tanta tolice. Agora só sei que preciso ser tola e nada mais.. até outro dia.. meu amor tão fulgaz...

"I can't think of anything to say except... I think it's marvellous! HaHaHa!"

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Coisas passadas ou melhor post de outubro

Esse aqui foi o post relativo ao meu primeiro dia do ano, que é meu aniversário a cada 12 de outubro... tinham outros bons, como o da festa.. mas esse ficou mais poético eu creio...

Ao 12 de outubro ou Mais um ano que começa...

Mais um ano que começa
E lá vou eu sem muita pressa
Que esses vinte e sete anos
Parecem deveras promissores
Se já sem tantos infalíveis planos
Muito mais assenhorado das dores
Aplainados os maiores danos
E executados os árduos labores
Vou festejando meu janeiro em outubro
E sempre convidando senhoras e senhores
Pra saborear de meu sangue rubro
Temperado pelas vicissitudes de meus amores
De honras vos cubro
Que é momento de festividades
E conto com a vossa assiduidade
Para nessa nova idade
Seguir um fauno insône
Destroçador de amenidades
E entoador do que me consome
À parte a realidade
É loucura que temos imbrincada no nome

O sempre esperado dia doze
Foi cheio de ébrias doses
De entortar as mais firmes poses
E elevar mais altos as vozes
Eram circundantes os queridos e queridas
Meu tipo de gente preferida
Que me agracia com vosso encanto
E quase trás aos olhos um satisfeito pranto
Toda essa gente referida
Que eu bordo no meu manto
Já que o carinho é tanto
Que os arrasto pra tudo quanto é lado
São expressos em cada sutileza do meu fado
Em cada nota retumbante do meu brado
Quase um espanto
Este seguir num incrível crescente
Mas é meu jeito insistente
De marcar o meu canto
Com a grandeza de toda essa gente
Que diáloga comigo
Que se veste de abrigo
E leva um tanto de mim no umbigo

Depois de muito beber
Foi então a vez de dançar
Que noitada pra valer
Tem que ter uma música pra se acabar
E eu sempre hei de gostar
De sonoridade verter
Deixar o corpo com o ar reverberar
Dispersar todo o meu ser
Enquanto deixo minha mente voar
E para tanto nada como uma bala
Uma doçura extasiante
A mais capaz de fazer ressoar
A pala mais inebriante
Capaz de meus sentidos multiplicar
E assim fui avante
Até toda a madrugada desbravar
De alma devidamente lavada
Pude tornar à minha morada
Com altivo semblante
E satisfeito com essa minha estrada
Já que sou sempre um infante
Cuidando de fazer estilosa sua caminhada...

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Coisas passadas ou melhor post de setembro...

Já tá acabando pessoal.. setembro foi dificil, mas tinha um que era or con cour.. risos.. o convite da minha festa...
Descobri Pasárgada inspirado por uma musa e nunca mais arredei o pé de lá... lugar sem igual..
Quem quiser ler em conjunto com o Bandeira, verá que é um diálogo direto.. risos
Grande abraço e infindáveis energias...

Venha-se embora para Pasárgada ou Convite para minha festa de aniversário de 20/10

Venha, venha-se embora para Pasárgada
Pois cá és amigo do rei
E haverão gloriosas e tamanhas festividades
Pelas quais sempre esperei

Venha, venha-se embora para Pasárgada
Venha, venha-se embora para Pasárgada
Que aqui serás feliz
Aqui, existir será uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que loucura será traquejo
E o delírio será vertente
Tudo fazendo manejo
Da ebriedade mais potente

Irás dançar delirante
Tornar a ser infante
Expandirá suas sinapses
E tropeçará em suas sintaxes
Viverá o prazer do êxtase
Lindos e Suaves Delírios
Numa conjunta catarse
Digna das histórias
Que em seu tempo de menino
Rosa vinha lhe contar
Venha, venha-se embora para Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem processo seguro
De se expandir a percepção
Haverão sons multicoloridos
Haverão beberrâncias à vontade
Damas e senhoritos
Para um bom prosear

E se por ventura entristecer-se
Mas entristecer-se de não ter jeito
Se ao amanhecer der alguma vontade
De ir-se de vez mesmo
- Pois cá és amigo do rei –
Terás a fumaça que queres
Que eu mesmo apertei
Venha, venha-se embora para Pasárgada



A quem interessar possa, a costumeira festa épica dar-se-á na famigerada Chácara do Gordo, no altiplano da perdição. Aguardo as encomendas dos produtos necessários ao divertimento dos participantes e vos lembro, não ser permitido realidades estáticas e descoloridas por lá..
Todos os dragões, fadas, diabretes, seres místicos, poetas, loucos, entre outros, são mais do que bem vindos...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Coisas passadas ou melhor post de agosto

Agosto foi difícil. Eram pelo menos umas quatro postagens dignas de figurar aqui. Mas escolhi essa, porque acho que foi o melhor conto que já escrevi...

Fábula ou na contra-mão dos sentidos...


Alice.
Lá estava Alice.
Só Alice.
Alice só.
Ali se via no espelho.
Alice via-se no espelho. Analisava-se os pormenores desajeitamente caprichados. Mudar a cor das mechas? Ou talvez tentar um novo passo? O espelho, por sua vez, seguia frio e reflexivo.
Alice passou os dedos da mão direita sobre a franja, tentando ajeitá-la, apenas para vê-la retornar ao mesmo lugar.. seria o mesmo? Agiu novamente, para obter a mesma reação..
Alice deu-se por vencida.
Suspirou... assim como a Alice do espelho...
Alguém a gritou lá de dentro. Dentro de onde? Da casa.. mas ela ignorou, era experienciada em ignorar. Ignorava os professores.. os locutores.. os pais.. a maior parte dos conhecidos.. até mesmo aquele cão chato que insistia em latir quando entrava em casa... se ignorar era uma arte, Alice era uma artista. Austista. Artista.. sorriu por um segundo tão breve, que mal viu o próprio sorriso no espelho.. Alice não era de sorrir. Guardava os sorrisos para os momentos devidos. Mesmo assim alguns escapavam dos ovários... e ela não se importava muito, desleixada em tantas coisas, negligenciava qualquer preocupação mais profunda...
O grito lá de dentro da casa que diziam ser de Alice, mas a bem da verdade não era, voltou a soar.. como um sino.. como na Igreja, aqui era a casa de um Deus e demônios como Alice tinham dificuldades de ficarem confortáveis, mesmo se fossem sindicalizados...
- Alice??? ALICE??!??! - o barulho que se seguiu foi o dos murros contra a porta que faziam até mesmo o espelho tremer, tornando a imagem de Alice difusa e imprecisa, de contornos indefinidos.. como Alice.. mas lembre-se, Alice era uma artista..
Baixou os olhos para as mãos pequenas, querendo com as próprias mãos acabar com tudo aquilo. Não por não suportar.. suportar não é uma condição, é um estado.. queria-o simplesmente pela possibilidade de fazer tudo diferente. Tudo novo. Não ser Alice. Ser talvez Aline. Ou quem sabe Alícia.. e até mesmo, Bruna... Alice tinha certeza de que seria uma excelente Genoveva.. mas Alice não era artista de certezas e, mal sabia, que não conhecia nenhuma Genoveva...
- A SENHORITA QUER FAZER O FAVOR DE DESTRANCAR A M-E-R-D-A DESSA PORTA?!!!! - retumbou a voz da mão cansada de golpear a porta... Alice só aspirou. Expirou. Estava pálida... era sempre pálida, pele alva com pequeninas sardas esporádicas a perturbar a brancura de sua imensidão. Isso destacava os lábios finos e que não eram vermelhos, como diziam ser vermelhos os lábios.. aliás Alice nunca vira um vermelho que satisfizesse suas espectativas.. e ela tinha tantas espectativas, que esmeradamente esperava. Destacavam-se também os olhos cotidianamente castanhos.. castanhos como o céu cinzento de uma grande metrópole.. sobre eles dois finos riscos chamados sombrancelhas. Quando pequena.. menor que agora ao menos.. Alice gostava de arrancar pêlos das sombrancelhas.. sua mãe sempre a recriminava por isso.. e como tudo que é repreendido, Alice parava para prosseguir na solidão de sua intimidade.
Isso a fez pensar em fumar um cigarro.
Tirou do bolso a carteira de alguma coisa light. Light? Era quase uma piada... fumaça light... ao menos o filtro era branco. Tinha o cigarro mas não tinha fogo.. e não poderia sair ou teria de lutar com a besta-fera que guardava a porta.. tanta vida, tantos desafios.. fitou-se no espelho...

- Tem fogo?
- Não, só cigarros..
- Então estamos na mesma.
- Pois sim..
- E de que me serves nessa prisão?
- Da serventia que me deres..
- Não serve pra acender o cigarro. - ela disse pondo-o entre a ponta de todos os dedos reunidos como se fosse um anel de casamento..

- TEM ALGUÉM AÍ COM VOCÊ?!?? MENINA.. - a voz parecia buscar alguma calma inexistente - Abra a porta, Alice.. prometo que não vou fazer nada..

- Promessas.. - Alice pensou para então falar - E o que tem desse lado aí?
- O mesmo que aí..
- Mais do mesmo?
- Sempre mais do mesmo..
- Não era isso que eu queria ouvir.
- Sinto muito..
- Sente nada.
- O nada tambem o sinto..
- Eu só sinto isso.
- O nada? Não.. não.. sentes mais..
- Não. - E foi tão retumbante aquela negação que findou qualquer possibilidade de diálogo.. Alice virou as costas para o espelho, colocou-se de joelhos e esperou que suas asas começassem a sangrar...

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Coisas passadas ou melhor post de julho...

Meu respeito...


Meu respeito
É diretamente proporcional
Ao que aprendo
Com quem me deleito
Não tem jeito...
Se não me potencializas
Logo deslizas de minha atenção
Ficas pelo chão
Enquanto ganho os ares
Buscando meus pares
Seres alados
Que anseiam pela imensidão

Podes muito bem ser um rei
Ou, ainda, uma imperatriz
E muito mais terei a dialogar com a meretriz
Que além das pernas
Me adorna as idéias
Mostra-me perspectivas
Além do balanço de seus quadris
Ou, quem sabe, com o bufão
Um bêbado fanfarrão
Recostado num balcão
Conservando a sanidade por um triz
Entenda que não me importa tua cor, seu tamanho ou sua forma
Mas o que te conforma
Teus credos, tua dor e teus medos
E as semânticas que elejes para defendê-los
Bebo muito mais de teus meios
Que de teus fins

Devo a tantos
O suplantar dos prantos
A extensão dos mantos
Que passei a saber
Era meu direito escolher
Assim como as lágrimas que hei de verter
Não mais pelos cantos
Mas assenhorado das escolhas
Cioso de toda a culpa
Sempre minha se me envolvo

Também pelos diálogos fortuitos
Instigadores de minha atenção
Recebidos como uma benção
Fazendo-me atentar para os caminhos infindáveis e múltiplos
E assim, aqui, não caberiam todos
Nem todas
A quem ostento admiração
Inigualável devoção
Incondicional nos modos
Por mostrarem novas modas
A este tolo doidão

Posso tecer imensuráveis honras ao meu pai
Este que ensinou-me a ser
Ou ainda à minha mãe
Que instigou-me a ler
Houveram ainda os amigos de infância
Comigo transpondo a ordem
E sorvendo a bonança
Pit, Robertão, Gordo...
Amigos dignos de minha criança
Vieram então os amigos maiores
Destruindo a ordem a cada gole
A cada tragada
A cada estrada
Camaradamente trilhada
Thiago, Humberto, Artur, Ju, Sinita, Pt, Fred, Kauara...
Hermana, Mirna, Cléia, Jujuba, Patrícia, Zanon, Tiaguera...
Tantos
Tamanhos
Inigualáveis
Não menores foram os amores
Que com seus intensos ardores
Me entortaram os louvores
Fizeram-me aprender a entender
A dor de cada um
O peso de cada escolha
A textura tênue da bolha
De nossos contatos dialógicos em comum
Thaís, Amanda, Débora
Aprendizagem que impera
Nessa criatura que se esmera
Em merecer tal anunciação

Aprendi com os vadios
Os notívagos
Os descrentes e inquietos
Os sem teto
Com Raul, Morrison, Marley e Jimmy
Lenon, Neruda, Vinicius, Renato
Buarques, Foucault, Pesavento, Jenkins e Certeau
Drummond, Pessoa, Cortazar, Saramago
Enfim, como já dito
E repetido
Tantos e tamanhos
E mesmo com pessoas que nunca conheci
Ou até já vi
Mas ainda não pude mergulhar
Não com a devida intensidade
Damas profanas que singram o mar
E oferecem a preciosa atenção
A esse ser que não para de falar..

Tens todos e todas
Tantos e tamanhos
Meu respeito
Minha devoção
Avatares de minha atenção
E sujeitos plenos de minha linguagem
De todos os mecanismos de meu ensino
E da expansão de minha aprendizagem

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

E foi assim... ou um começo de ano em um Universo Paralelo...

(E assim ele chegou, chegou como quem chega do nada, não trouxe nada e nada perguntou.. puxou uma cadeira com certo molejo, que a fez dançar sobre as pernas de madeira antes de interromper o movimento com espectância em frente a ele. Desfez-se do chapéu em movimento de certa elegância, a brasa dos lábios deixou descansar no canto num falso equilíbrio.. só então ergueu os olhos..)

- Muitas boas noites.. desculpe a demora.. mas é que lá fora tem tanto chão, tem tanta estrada.. e eu vou na contra-mão e minha passada é larga, que voltar demora, delonga minha hora, mas faz valer a ralação. Um ano é muita história, que ressoa na memória, 2007 foi embora e 2008 mal começou..

(Os olhos dele brilhavam com aquela chama de quem viu, se despiu e se curvou. Nos pés trazia lama.. não havia interlocutora que não lhe conhecesse a fama.. o precedia, mas isso ele nunca evitou. Tinha seu próprio passo.. um tempo seu, que fazia simulacro e camafeu do léu, do véu e de tudo aquilo que mesmo perdido, ainda era seu. Levou a chama aos lábios e deixou a impressão pirotécnica da fumaça falar por ele.)

- Ando sempre em companhia alada, gente amada, da qual sou cheio de precisão.. à vossa excelência, já agradeço a paciência e a atenção. Nessa vida saber saborear uma companhia é coisa de rara sabedoria e não é todo dia que podemos dar, porque quem dá mesmo não diz. Teria vindo antes, mas como o agora é nosso único instante, doravante lá fora há de parar tudo, ficar mudo o mundo.. nada mais justo.. pois agora, nesse instante, essa apoteóse do nosso contato, irei lhe confessar um relato..

(Equilibrou o fogo dos lábios. Chamou-a para dançar..)

"Deixe-me ir, preciso andar, vou por aí a procurar, rir pra não chorar..
Quero assistir ao sol nascer, ver as águas dos rios correr, ouvir os pássaros cantar.. eu quero nascer, quero viver.."

- Sim, minha dama, assim começa a trama, venha se enveredar. Toda boa história, todo relato, precisa duma chama, algo que se assanha, que eu chamo de musa, pra facilitar. Não é invenção minha, nem dos gregos, nem de qualquer leigo, que eu possa me lembrar. As musas tão por aí, por toda parte, em cada arte, até mesmo em Pratigí.. é só saber espiar. Eu fiz o translado, já ia deslumbrado, que doido que é bom nisso, bem sabe se deslumbrar.

(Ele baixou o tom de todas as cores, pois elas lhe deviam favores e era hora de impressionar a parceria, fazer além de prosa, poesia e bem sabia o que lhe agradaria e só então, de fumaça, dança e versos à mão, começou a suspirar..)

"One good thing about music, when it hits you, you feel no pain.. Oh, oh, I say, one good thing about music, when it hits you, you feel no pain.. Hit me with music, hit me with music now.. This is Trenchtown rock.."

- Era um mar e areia.. era gente em profusão.. eram incontáveis imensidões a derramar aos borbotões, saindo pelo ladrão. Eu tinha par.. sempre levo em mim minha sereia e quando a noite alteia, a gente sai pra dançar a psicodelia, esse ininterrupta e pós-moderna sonoridade que me invade, causa alarde, além de ter a primazia de me transmutar. Foi tanto, tão intenso, e eu ainda assim não canso.. fiquei etério, fiquei extenso. Eu ia de um nascer do sol até a constelação mais distante, orbitava por uns cometas e colidia com cada amante, cada profeta, cada errante.. cada grito, até na mais leve brisa, no mais fulgaz brilho, enquanto saia do trilho e descobria, mais uma vez, que é sempre primeira, que é tudo uma besteira. Uma piada tão bem contada, que só nos resta dar risada e celebrar a apoteóse da jornada.. a catárse caótica de cada confronto, de cada diálogo, saber boiar sobre o lago pra depois nadar contra a correnteza, porque no fim não há certeza maior que a nossa própria lapidação.

(Ele achou que ficou tudo muito extenso e resolveu deixá-la descansar.. colocou o chapéu na cabeça, reequilibrou o fogo nos lábios, enquanto esperava que ela enlouqueça..)

"Tente me ensinar das tuas coisas, que a vida é séria, e a guerra é dura.. Mas se não puder, cale essa boca, Pedro.. E deixa eu viver minha loucura.."

- O ano vai começando bem, 2008 promete. Temos só de ir para o infinito e além, para o alto e avante, que o resto é confete. E quando tudo estiver delirante, nesse instante, olhe pro lado, que nosso fado estará pronto e renderão esses nossos novos e constantes inícios, saborosos vícios que vem com os ciclos..

(Bateu as asas, sorriu seu melhor sorriso, enquanto os cabelos esvoaçavam..)

"Um grito de estrelas vem do infinito, e um bando de luz repete o grito, todas as cores e outras mais, procriam flores astrais, o verme passeia na lua cheia..."