quinta-feira, 16 de julho de 2009

Novidade

Creio que o que mova a humanidade
Seja a curiosidade
O desejar experimentar alguma novidade
Invadidos com certa perplexidade
Gozar da possibilidade
Que à despeito da rigidez da realidade
Nos balança
Veja os da mocidade
As crianças
Que deixam o saborear entrar na dança
E atiçados
Saem atrás dos tesouros cobiçados
Com ímpar esperança
Quase abobados
Em um lazer que não se cansa
Querem o prazer
E nunca a temperança
Se não sabem fazer
Aprendem
E o mundo se trança
Não se rendem
E enquanto a maioria
Aos costumes antende
Pela periferia
O que eles quebram
Que se remende
E sirva para toda cidade
Para toda e qualquer vaidade
Não alguma essencial verdade
Mas sim a magnificidade
De uma nova beleza
Ante o velho cansaço
O deixa que depois eu faço
O postergar do passo
O arrefecer no traço
A perpétua continuidade no espaço
Pelo tempo
Tem pó
Mas quem tem pé
Corre atrás
Não de paz
Mas sempre de algo mais
Pois onde a curiosidade jaz
Mil vidas
Se vive
Ou mais até...

terça-feira, 14 de julho de 2009

Fábula ou Na contra-mão dos sentidos...

Alice.
Lá estava Alice.
Só Alice.
Alice só.
Ali se via no espelho.
Alice via-se no espelho. Analisava-se os pormenores desajeitamente caprichados. Mudar a cor das mechas? Ou talvez tentar um novo passo? O espelho, por sua vez, seguia frio e reflexivo.
Alice passou os dedos da mão direita sobre a franja, tentando ajeitá-la, apenas para vê-la retornar ao mesmo lugar.. seria o mesmo? Agiu novamente, para obter a mesma reação..
Alice deu-se por vencida.
Suspirou... assim como a Alice do espelho...
Alguém a gritou lá de dentro. Dentro de onde? Da casa.. mas ela ignorou, era experienciada em ignorar. Ignorava os professores.. os locutores.. os pais.. a maior parte dos conhecidos.. até mesmo aquele cão chato que insistia em latir quando entrava em casa... se ignorar era uma arte, Alice era uma artista. Austista. Artista.. sorriu por um segundo tão breve, que mal viu o próprio sorriso no espelho.. Alice não era de sorrir. Guardava os sorrisos para os momentos devidos. Mesmo assim alguns escapavam dos ovários... e ela não se importava muito, desleixada em tantas coisas, negligenciava qualquer preocupação mais profunda...
O grito lá de dentro da casa que diziam ser de Alice, mas a bem da verdade não era, voltou a soar.. como um sino.. como na Igreja, aqui era a casa de um Deus e demônios como Alice tinham dificuldades de ficarem confortáveis, mesmo se fossem sindicalizados...
- Alice??? ALICE??!??! - o barulho que se seguiu foi o dos murros contra a porta que faziam até mesmo o espelho tremer, tornando a imagem de Alice difusa e imprecisa, de contornos indefinidos.. como Alice.. mas lembre-se, Alice era uma artista..
Baixou os olhos para as mãos pequenas, querendo com as próprias mãos acabar com tudo aquilo. Não por não suportar.. suportar não é uma condição, é um estado.. queria-o simplesmente pela possibilidade de fazer tudo diferente. Tudo novo. Não ser Alice. Ser talvez Aline. Ou quem sabe Alícia.. e até mesmo, Bruna... Alice tinha certeza de que seria uma excelente Genoveva.. mas Alice não era artista de certezas e, mal sabia, que não conhecia nenhuma Genoveva...
- A SENHORITA QUER FAZER O FAVOR DE DESTRANCAR A M-E-R-D-A DESSA PORTA?!!!! - retumbou a voz da mão cansada de golpear a porta... Alice só aspirou. Expirou. Estava pálida... era sempre pálida, pele alva com pequeninas sardas esporádicas a perturbar a brancura de sua imensidão. Isso destacava os lábios finos e que não eram vermelhos, como diziam ser vermelhos os lábios.. aliás Alice nunca vira um vermelho que satisfizesse suas espectativas.. e ela tinha tantas espectativas, que esmeradamente esperava. Destacavam-se também os olhos cotidianamente castanhos.. castanhos como o céu cinzento de uma grande metrópole.. sobre eles dois finos riscos chamados sombrancelhas. Quando pequena.. menor que agora ao menos.. Alice gostava de arrancar pêlos das sombrancelhas.. sua mãe sempre a recriminava por isso.. e como tudo que é repreendido, Alice parava para prosseguir na solidão de sua intimidade.
Isso a fez pensar em fumar um cigarro.
Tirou do bolso a carteira de alguma coisa light. Light? Era quase uma piada... fumaça light... ao menos o filtro era branco. Tinha o cigarro mas não tinha fogo.. e não poderia sair ou teria de lutar com a besta-fera que guardava a porta.. tanta vida, tantos desafios.. fitou-se no espelho...

- Tem fogo?
- Não, só cigarros..
- Então estamos na mesma.
- Pois sim..
- E de que me serves nessa prisão?
- Da serventia que me deres..
- Não serve pra acender o cigarro. - ela disse pondo-o entre a ponta de todos os dedos reunidos como se fosse um anel de casamento..

- TEM ALGUÉM AÍ COM VOCÊ?!?? MENINA.. - a voz parecia buscar alguma calma inexistente - Abra a porta, Alice.. prometo que não vou fazer nada..

- Promessas.. - Alice pensou para então falar - E o que tem desse lado aí?
- O mesmo que aí..
- Mais do mesmo?
- Sempre mais do mesmo..
- Não era isso que eu queria ouvir.
- Sinto muito..
- Sente nada.
- O nada tambem o sinto..
- Eu só sinto isso.
- O nada? Não.. não.. sentes mais..
- Não. - E foi tão retumbante aquela negação que findou qualquer possibilidade de diálogo.. Alice virou as costas para o espelho, colocou-se de joelhos e esperou que suas asas começassem a sangrar...

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Pra ser sincero ou Quando desafio titãs...

Houve um tempo
Em que tudo era perfeito
Em que ao seu olhar eu era afeito
Que tudo que eu mais queria
Era tê-la no meu leito
Pra tudo dava-se um jeito
E nada interfiria
Era então, o tempo do aceito

Nesse tempo
O tesão era desenfreado
Todo e qualquer problema
Era facilmente superado
E tinhamos um lema
Vamos viver um amor alado
Tínhamos a paixão como tema
Embalando nosso fado

Bom tempo aquele
Em que agradar era o objetivo
Estavamos aí pra mostrar serviço
Mesmo nas dores
Não havia sumiço
O semblante era altivo
Era um tempo das flores
Perfumando nossos amores

Mas o tempo passa
As coisas costumam perder a graça
Tem dias que a gente nem se abraça
Se deixa ficar ali pela praça
E pensa que tudo podia ser diferente
Em como o mundo é cheio de gente
E no que faríamos daqui pra frente
Mas mesmo assim, a gente rechaça

Pois eu irei falar com Cronos
Mas não pra declarar nenhuma desgraça
Nem pra pedir abonos
Apenas pra lembrá-lo do espaço
Esse intertício físico do tempo
Onde fazemos nosso regaço
Impomos a necessidade de um amasso
E esquecemos de apressar o passo
Porque ainda temos todo o tempo do mundo...

"Pra ser sincero
Não espero de você
Mais do que educação
Beijos sem paixão
Crimes sem castigo
Apertos de mão
Apenas bons amigos...

Pra ser sincero
Não espero que você
Me perdoe
Por ter perdido a calma
Por ter vendido a alma ao diabo..."

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Encontros e encruzilhadas ou 10 anos de um bom povo...

Não sei se é porque o mundo é um ovo
Mas não há nada de novo
Na terra ou no firmamento
É tudo um perpétuo momento
Espiralado movimento
Nada se perde
Nada se cria
Tudo se transforma
Simplesmente varia
À despeito da norma
Crendo que tudo conforma
A vida é vadia
Mas sempre numa circunscrita cercania
Mais do mesmo
E mesmo a esmo
Remar contra a maré
É pé em Deus
E fé na tábua
Pois é
E nada de mágoa
Melhor aproveitar a estrada
A vertigem da queda
E cada alvorada
Toda a gente que devia ser citada
Que em ti se envereda
E que 10 anos depois
Entre carne, cerveja e arroz
Conversa
Versa
Entre tanta possibilidade dispersa
Percebe-se imersa na infinitude do que mudou
Os milimetros do que passou
Elipses de um vôo
Pra cada qual uma vida
Encontros e encruzilhadas
E pro oceano em que nadas
Uma gota perdida
Quase nada
Tanto universo infinito
Nada novo
Mesmo povo
Mas de algum modo mais bonito
Ao alcance de onde me movo
E pito...