quinta-feira, 29 de julho de 2010

O que será?


Saiamos do mundo da culpa
E esquecidos das desculpas
Outras palavras
Essas mesmas que lavras
Borboletas ou larvas
Do teu gelo
Saem nuas em pêlo
Parvas de sentido
E o que deve ser lido
Alheio a qualquer poesia
São as entrelinhas da sintaxe vadia
Sei que não é de praxe
E até esse moço
Abusado você ache
Mas é tudo esboço
E se tiveres um troço
Um tanto mais eu coço
E se com rimas adoço
Bem posso abrir um foço
E se não há encaixe
Atropele
Desgele
Rasgue a pele
E acharás quem vele
Por um tal estado
Desdenhoso da verdade
Vendo que é vã vaidade
Ser achado
Concluir
Definir
Vencer o mundo a nado
Melhor é transformar o brado
Em canto
Que esse mundo é tanto
Que não me cause espanto
Nenhuma parte
Da arte do teu desmoronar...

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Repente...


(Encontrando-se começaram a dançar..)
- Precisa?
- Preciso de tudo.
- Pois só sei ser impreciso e nunca mudo...
- Você se faz de surdo.
- Só se tiver repique e pandeiro...
- Você me deixa indecisa e assim nunca me ajudo.
- Você precisa jogar-se no samba e dançar pelo terreiro...
- Não. Isso é desatino seu. Eu preciso preparar meu terreno. Quero um futuro tranquilo.
- Pois eu quero um presente efervescente. E até se meu mundo pequeno for carregado pela torrente, direi fí-lo porque quí-lo...
- Esse seu comportamento de bacilo é destrutivo e nada producente. Vai morrer no próprio vômito, sempre vítima do próprio vacilo.
- Mesmo se suas palavras me deixam atônito, acho bonito que busque o futuro. Acho triste só que se concentre na fresta do muro e deixe a paisagem passar tão rente, sem que toques.. chega a me parecer um choque, que você tudo agora troque, pelas devaneios de mais à frente.
- Sou dessa gente que tem que deixar suas marcas, constituir família, engrandecer a sociedade, multiplicar a cultura, desenvolver a economia e reafirmar a política.
- Entendo.. guardo então minhas críticas.. sou dado a coisas casuísticas, mas sem efeitos.. é meu jeito.. trago a tempo no peito minha contra-cultura.. da sociedade ela me cura.. deixa minha trilha elíptica, sem economia na magia.. expande em rede a energia.. e tudo vira samba.. até se descamba, eu danço partido alto...
- Pois é pela lógica que eu me pauto. Nâo vim ser tomada de assalto. De salto me basta o alto.
- Então vou-me com minhas havaianas.. simplórias e mundanas.. sujar meus pés de terra por aí...

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Memórias...



Quando eu era pequeno
Morria de medo de injeção
Da anestesia do dentista então
Era terror pleno
E pra resolver a situação
Meu pai me dava a mão
E meu medo ingênuo
Logo perdia terreno
Para essa paterna solução

E hoje em dia ele está doente
Sofre com um câncer inclemente
E conforme o fim se aproxima
Lá na sala da quimioterapia
Sou eu que seguro a mão dele...