sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Sobre as coisas antigas ou Historicizando minha poesia...

Esses últimos quatro escritos que publiquei são textos que encontrei numa caixa. Os escrevi muito tempo atrás, em momentos significativos de minhas vivências. Formas de transformar em concebido o que percebi em minhas cercanias. Términos de namoros, louvores a amores primeiros, desilusões de amores perdidos, novas perspectivas para o caminhar... fazendo arte do que nos reparte.. confesso que hoje os acho simplórios, mas como tanto dizemos nos discursos historiográficos, há que se compreender as relações de poder e regimes de verdade que informam a confecção desse discurso, nisso incluso o arcabouço de semânticas menos apurado do pobre e jovial autor.
Sempre me foi caro escrever. Isso muito foi instigado pela Ju (a Juzão), amiga de quem inevitavelmente ainda hei de falar aqui em alguma das sessões do "Tenho uma amiga chamada..." Trocavamos muitas cartas. Precisam ver as cartas dela, aliás, qualquer dia.. magníficas pra dizer o mínimo. Poemas em todas as direções, colagens, desenhos.. um arsenal extenso de expressões.. Juliana é ser de rara habilidade.. e loucura.. risos..
Passei a escrever ainda mais depois do término de um de meus namoros.. minha forma de gritar ao mundo.. daí em diante explodi em verborragia, lapidei alguns verbos que costurei em minhas asas e resolvi viver o que pensava, já que nossas concretudes são a expressão mais significativa de nossas sinapses.. credos, imaginários, ideologias.. resolvi virar doidão por ser essa minha bandeira.. seja doido e escreva em abundância.. dê a ler suas razões, intenções, propostas, desgostos, afinidades.. e se puder caprichar em algum sentido estético que lhe apetece, o faça, para arranhar as satisfações alheias..
Não quero ser longo. Apenas marcar a irrupção de minha escrita, algumas de suas influências e o compasso de sua cadência..
Como certa vez - que aliás será meu próximo post, por lembrar-me disso agora - disse um grande amigo... "Eu só quero que você se COCE!!!"

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Coisas antigas ou Diálogos com meu querido...

Quantas pessoas somos capazes de amar?
Quantos tipos de amor podemos sentir?
Onde o amor vai parar quando acaba?
Os olhos brilhantes não mais confortam
Eles fitam paredes brancas, mesas e cadeiras
Há somente cansaço e respeito
Cadê o amor?
Os cabelos agora ondulam em outra direção
Enquanto as palavras são temidas e avaliadas
E o vento gelado não mais suavisa o suor quente
Besteiras sentimentais diriam os tolos
Estes que se crêem sábios
Bobeiras demais diriam os calculistas otimizadores de sobrevida
Devaneios infantis diriam os experientes
Experimentados pela própria violência
De ter perdido a estrutura óssea da própria alma
Então... cadê o tal amor?
Não sentimos o corpo cair com sua perda
Será que além do coração somos todos pedras
E ficaremos parados como estátuas
Para ficarmos expostos tendo o tempo como única - e fiel - platéia?
Não.
Cada pessoa que fomos capazes de amar virá nos ver
E a cada olhada nos será restituído um pouco
Do amor sentido
Quando enfim
Não seremos mais pedras...

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Coisas Passadas ou Aos heróis

No passado, eu segui meus heróis
Pois eram bravos, destemidos, corajosos
Belos, valentes, invencíveis e magníficos
Enquanto que eu... bem, eu não era nada disso
Eu era só o garoto que admirava os heróis
Como tantos outros garotos, admirando
Admirando tantos heróis
Como outros tantos garotos
Tímidos, temerosos, medrosos
Feios, covardes, derrotados e simplórios
Querendo ser um herói
Mas de que me servem esses modelos?
Por que seguir os caminhos do mapa?
Como os malditos heróis viviam amores?
Eu aprendi o que não sabia vivendo
Criando meus próprios caminhos
Cauterizando as feridas reais dos meus amores
Meus amores antigos, presentes e fictícios
De tudo isso, nada me restou...
Nem heróis.. nem amores.. só caminhos
E, por isso, não desanimo
Veja, lá no horizonte
Lá meus caminhos somem da vista
Dessa vez vou atrás dos meus amores
Mas vou sendo corajoso, bravo, destemido
Belo, inebriante, invencível e magnífico
E não vou seguindo modelos
Desta vez, vou desconstruí-los
Havendo batalhas.. e elas haverão
Eu as vencerei e meus amores estarão comigo
Pois este universo estará contido
Dentro de mim e por mim feito
Levando a cabo isso.. tudo consigo
Tragam-me os louros da vitória
Hoje sei que não estou perdido
Mesmo não sabendo para onde estou indo
Vou eu a pé, descalço, sorrindo
Lágrimas dos olhos aos lábios
Cabelo dançante ao vento
Um lenço, um beque e meus pensamentos
Esta é minha vitória.. minha vida
Livre das barreiras do tormento
Pense o que quiser disso.. mas pense
Pense por si só e seja pleno
Ame por si só e seja divino

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Coisas antigas ou Um amor na mesa ao lado...

Meu eu é como a sua bola nova
Algo intocável
A finalidade é usar
Mas você tem medo de sujar
Você que sente receio de ousar
Refreia a ânsia de gozar
Perde o amor no horizonte
Vê suas estrelas se apagarem ao longe
Engole o vômito azedo
Regujita a bílis amarga
E chora... por dentro
Pois sua vida é consumida pelo quase...
Se o meu destino "eu mesmo faço"
Eu faço torto e errado
E se eu busco o certo
Mande-me à merda
Pois à latrina com os porcos
E já que nada eu provoco
Que eu sufoque em minha autopiedade...
E no ponto final de meu martírio
Eu veja...
Sonhos somem, a vida se vai, o gozo termina...
Termina doce... doce..
Doce... longe... longe...

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Coisas antigas ou Você...

Em meio ao meu caos cotidiano, eu procuro você
Depois de tantos desabafos e enfrentamentos, eu procuro você
Mesmo feliz e satisfeito, eu procuro você
Caminhando, vivendo e amando
E procurando você

Nas incertezas de minhas escolhas procuro você
Alucinado doidamente, eu procuro você
Não me adiantam as vitórias
Nem me derrubam as derrotas
A cegueira pode me levar por caminhos tortos
Mas logo a visão me trará à trilha correta
Pois no fim de tudo, eu estou procurando você

Queria ser um bandoleiro solitário
Um errante confiante na própria independência
Só que não o sou, pois tenho consciência
Estou preso a você por vontade
Sigo a trilha dos teus passos
Rumo a abismos distantes e mares profundos
Procurando você e consumido pela saudade
Vivendo amores fadados ao fim
E no fim procurando você
Tonto, cansado, louco e desesperado
E mesmo assim confiante
Por mais que demore e seja difícil
Por mais que me desgaste esse martírio
Eu caminho pra frente sem ver-te
Porque em algum lugar eu acho você...

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Venha-se embora para Pasárgada ou Convite para minha festa de aniversário de 20/10

Venha, venha-se embora para Pasárgada
Pois cá és amigo do rei
E haverão gloriosas e tamanhas festividades
Pelas quais sempre esperei

Venha, venha-se embora para Pasárgada
Venha, venha-se embora para Pasárgada
Que aqui serás feliz
Aqui, existir será uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que loucura será traquejo
E o delírio será vertente
Tudo fazendo manejo
Da ebriedade mais potente

Irás dançar delirante
Tornar a ser infante
Expandirá suas sinapses
E tropeçará em suas sintaxes
Viverá o prazer do êxtase
Lindos e Suaves Delírios
Numa conjunta catarse
Digna das histórias
Que em seu tempo de menino
Rosa vinha lhe contar
Venha, venha-se embora para Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem processo seguro
De se expandir a percepção
Haverão sons multicoloridos
Haverão beberrâncias à vontade
Damas e senhoritos
Para um bom prosear

E se por ventura entristecer-se
Mas entristecer-se de não ter jeito
Se ao amanhecer der alguma vontade
De ir-se de vez mesmo
- Pois cá és amigo do rei –
Terás a fumaça que queres
Que eu mesmo apertei
Venha, venha-se embora para Pasárgada



A quem interessar possa, a costumeira festa épica dar-se-á na famigerada Chácara do Gordo, no altiplano da perdição. Aguardo as encomendas dos produtos necessários ao divertimento dos participantes e vos lembro, não ser permitido realidades estáticas e descoloridas por lá..
Todos os dragões, fadas, diabretes, seres místicos, poetas, loucos, entre outros, são mais do que bem vindos...

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Atlas ou trutas contra a correnteza

Tanta
Tamanha
Levanta
E apanha
Senão arranha
A continuidade tacanha
E não reclama não
Vai pra lá ficar aturdido
Bestificado pela televisão
Incompreendido
Esse grito comprimido
Nessa eterna procissão
Enquanto tudo derrama
O buraco alarga
Escorre a lama
A vara enverga
Nas costas a carga pesa
"Vai Titã"..

A língua amarga
Esquecem Pasárgada
Pela nação impávida
A empresa modelo
A tradicional família
É trancar a porta
Esquecer os caminhos do espelho
Todos sugando a pilha
E erodindo as margens da ilha
Enquanto o cardume segue
Rio acima e inerte
Lutando pra desovar na nascente
E deixando a foz de lado
Um bando descrente
De que ainda haja um fado
Esquecidos do mar
De quão bom é voar
De gritar que cantam e dançam
Porque vomitam peculiaridades
Repetições para se contar
Amenidades que encatam
Os espectantes de pensar
E pensam
O que lhes ensinaram a pensar
Mesmo se subjetivam
Se afogam antes de respirar
"Vai Titã"..

Vai Titã
Porque ou vai ou racha
Mesmo se tudo não encaixa
Ou segues ou se esborracha
Sinta todo o peso do mundo em suas costas
E ainda sinta mais
Porque te convencem que gostas
Esses bostas
Inomináveis
Que corróem a tua paz
Seja sagaz
Corra pra cá
Pasárgada a vista
Vamos pra lá...

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Papos de irmão ou entre certo e errado...

Se estiver por perto
O que for certo
Te alerto
Melhor ficar esperto
Pois o dito metido a besta
E que logo atesta
Não aceita fresta
Nos muros da realidade
Vã ingenuidade
Dessa representação da modernidade

Mas estando à mão o errado
Diga-o profano de tão sagrado
Estarás muy bien acompanhado
Como que bailando num fado
De êxtase inebriante
Errar é gozar o instante
De quem padece mas segue avante
De ser infante não ter temor
Padecer mas com ardor
Se tropeço enquanto ando
É por só pensar em estar voando...

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Augúrios de ninguém ou divinações em um papel qualquer...

Numeração. Nome. Registro geral... comprovante de pessoa física. Um sorriso enrugado. Ela correu os dedos velhos e enrugados sobre o papel com sua pontual e ordeira tinta preta perfeitamente grafada... uma luz branca solitária e díspare em meio ao papel...
- Você tem emprego?
- Não, não senhora. - disse a jovem de cachos com seu melhor sorriso para ser simpática com a anciã que a atendia, à despeito de todo cansaço e correria do dia-a-dia.
- Mas então você arranjou um emprego!
- Sim, começo no fim do mês.
- É que eu vi uma luz branca aqui sabe. Sabe, eu vejo essas coisas e quando vejo, pode saber, é porque uma benção vai aparecer pelo seu caminho...
- Uma benção? - a jovem disse naquela desconfiança inicial contra tudo aquilo que é estranho, que é seguida pela certeza na senilidade da senhora de pele enrugada e olheiras.
- Sim, uma benção. Você é casada?
- Não.
- Mas é noiva!
- Sim, sou noiva, mas.. - ela ficou embaraçada com aquele acerto.
- Mas? - inquiriu a velha senhora com a satisfação do acerto.
- Mas nada... nada não, a senhora já terminou?
- Quase, minha filha... quase... eu sei que está com pressa..
- Um pouco. Tenho outras coisas a fazer.. de pegar um nada-consta na polícia...
- Certo. Bem, aqui está. Boa sorte pra você e pro seu noivo, e quando chegar a benção não façam resistência. Deixem que ela entre na vida de vocês...
- Isso não é um filho não, né senhora? - disse a jovem já em tom apreensivo.
- Não. Quando é criança a luz que eu vejo é assim.. hmmm.. mais azulada sabe.. luz branca geralmente é coisa boa, assim.. pacífica.. coisa de vida boa..
Mais aliviada por não dar importância aos presságios da velha preenchedora de carteiras de trabalho, a jovem de cachos, sorriu, e ainda assim, ficou satisfeita de saber que a benção não seria o problema de ter filhos, que não seriam uma benção por agora. Despediu-se da velha, enquanto os olhos ávidos da próxima pessoa na fila já brilhavam espectantes pelo atendimento após quase uma hora de espera naquela galeria.
A velha senhora passou os olhos pelo ambiente de ar estagnado e luz bruxulenta e vacilante de subsolo. Respirou entre o bufar e o suspirar. Era mais feliz noutros tempos, quando abriam vísseras de animais para que os lesse e levavam-lhe oferendas para que fizesse suas divinações. Mas esses tempos haviam passado a muito tempo e ela sabia que não tornariam. Os oráculos eram mais respeitados no passado e suas palavras eram tidas como alicerceadoras de verdades... Estava cada vez mais difícil nesse tempo em que ninguém quer sonhar.. todos querem viver apenas aquilo que é real, quando o real não passa de um sonho... ela pigarreou e assistiu a caminhada do rapaz que vinha até sua mesa. Quando era jovem fora treinada para ler o funcionamento do mundo no vôo dos pássaros, ver as estruturas da vida nas entranhas ensanguentadas de qualquer bicho, saber os desígnios divinos e humanos nos restos de chá ou nas pedras dispostas na praia.. até mesmo em signos criados por muitos povos que ela sequer conhecera. Hoje os lia em carteiras de trabalho para pessoas que não acreditavam...
- Bom dia. - disse o rapaz sentando-se.
- Bom dia... - ela disse cansadamente...