sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Sonho de valsa ou Primeiro eu como a casquinha...

Isso vai ficar brega
Tem coisa que a gente não nega
Mas vê se por isso não se apega
Por aqui se assossega
Que vamos sonhar uma valsa
Embalar uns sentidos
Trepidar umas sintaxes
Revoltear umas semânticas
Quem sabe deixar as coisas românticas
Embriagando as sinapses
Saracotiando pelos ápices
Dar ares de tango
Correr a perna sobre a outra
Esmiuçar uma possibilidade
Arredia
Assanhada
Safada possibilidade
Apenas por maldade
E por termos vontade
Nos fazer tremer de tanta liberdade
Para nos perder
Mais uma vez
Pela cidade
Mais uma vez
Verter
Suar
Sonhar
Ousar
Reaquecer
Reverberar
Tremeluzir
Um seduzir
Um assanho
Tamanho
Quase um dengo
Ali pelo quengo
Quando arranho
Certas idéias
E rodopias
Em meus sentidos
Mesmo sem ter sido
A colisão dos corpos é o objetivo
É nesse tipo de universo em que vivo
E dessas pequeninas essencialidades nunca me livro
Faz tempo em que transcender é meu verbo preferido
Me agrada
O poderia ter sido
E não é por nada
Mas essa valsa
Já tá delongada
Então voltemos à estrada
Que a vida danada
Tá chamando...

Ah, e obrigado pela dança...

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Uma torre de waifel ou começou porque quis...

Não é o caos
Nem o mar bravio
Que levam meu navio
A encarar o desafio
E largar minha náu
No teu precipício

É que sempre tive por ofício
Honrar sua existência
Essa sua profana indecência
Que me alicia
Que me vicia
Me faz deslizar no teu mar

Ah mar
Ao mar
Que é preciso viajar
Sem rumo nessa vida
E ao voltar ter onde se aninhar
Pra fazer valer a caminhada

E eu tenho essa tela
Que por já ter desenhos
É ainda mais bela
E tudo que eu almejo
Vislumbro nela
Sento na minha sela
Na musa dou um beijo
Com todo meu empenho
E rompo com a cela
Porque me deste trela
Então agüente a dança
Minha conversa é mansa
E a paisagem é boa da janela

E mesmo se a gente às vezes cansa
É só lembrar daquela crença
De quando eramos criança
E íamos viajar até a França
E dançar com o Alceu Valença
Na torre de waifel...

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

De joelhos por uma musa ou É precisão mesmo...

O que me cativa
Não é sua beleza
Nem qualquer proeza
Nenhuma escolha subjetiva
Muito menos uma certeza
Dessas pretenciosamente objetivas

Seja você uma alteza
Ou uma meretriz
Nada disso condiz
Com receber minha carícia
Com o olor do meu cuidado
O que me prende
Nesse alpendre
É seres propícia
A reverberar no meu brado
É essa vida
Que só existe em você
Que me põe à sua mercê

Ela faz girar a roda
Desalinha meus sentidos
Me da outra perspectiva
Essa tua vida
Transveste minha moda
Potencializa meus vividos
Ressucita nas minhas cinzas
Uma criatura altiva
Que te devora

Mas lá fora
Tem sempre uma procissão de gente normal
Lendo jornal
Olhando as horas
Senhores e senhoras
Bufando monogamias
E eu com as sereias
Percorrendo a periferia
Melhor o ostracismo da tua companhia
Que o azedo indolor de mais um dia

Por isso eu canto
Vinde a mim, ó musas
E obliterem minhas memórias
Pois tenho um arsenal de metáforas
Ainda que sejam simplórias
São um tanto profusas
Outro tanto singulares
Capazes de engraçar nossos olhares
Enquanto seguimos mundo a fora...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Pra ser sincero ou Quando desafio titãs...

Houve um tempo
Em que tudo era perfeito
Em que ao seu olhar eu era afeito
Que tudo que eu mais queria
Era tê-la no meu leito
Pra tudo dava-se um jeito
E nada interfiria
Era então, o tempo do aceito

Nesse tempo
O tesão era desenfreado
Todo e qualquer problema
Era facilmente superado
E tinhamos um lema
Vamos viver um amor alado
Tínhamos a paixão como tema
Embalando nosso fado

Bom tempo aquele
Em que agradar era o objetivo
Estavamos aí pra mostrar serviço
Mesmo nas dores
Não havia sumiço
O semblante era altivo
Era um tempo das flores
Perfumando nossos amores

Mas o tempo passa
As coisas costumam perder a graça
Tem dias que a gente nem se abraça
Se deixa ficar ali pela praça
E pensa que tudo podia ser diferente
Em como o mundo é cheio de gente
E no que faríamos daqui pra frente
Mas mesmo assim, a gente rechaça

Pois eu irei falar com Cronos
Mas não pra declarar nenhuma desgraça
Nem pra pedir abonos
Apenas pra lembrá-lo do espaço
Esse intertício físico do tempo
Onde fazemos nosso regaço
Impomos a necessidade de um amasso
E esquecemos de apressar o passo
Porque ainda temos todo o tempo do mundo...

"Pra ser sincero
Não espero de você
Mais do que educação
Beijos sem paixão
Crimes sem castigo
Apertos de mão
Apenas bons amigos...

Pra ser sincero
Não espero que você
Me perdoe
Por ter perdido a calma
Por ter vendido a alma ao diabo..."

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Quatro partes ou leia de trás pra frente...

- Você já foi melhor nisso.
- É verdade. Já fui.. mas ainda sou bom em outras coisas.
- Sim, sim.. claro.. quem foi rei nunca perde a magestade.
- Isso eu não sei.. mas ainda tenho meus méritos.
- Ou desméritos né..
(Risos) - Pode ser.. de qualquer forma, eu faço o que posso.
- Claro, claro.. afinal nessa competição nunca tem vencedor.
- Mas a gente tem nossos momentos né..
- O que seria de nós sem eles.. cigarro?
- Não, obrigado.. você sabe que eu não fumo..
- Não fuma tabaco..
- É.. isso jaz no passado.
- Bom.. eu não perco tempo controlando meus vícios e além do mais..
- Com licença..
- Quem é você?
- Isso mesmo.. quem é você? Isso aqui é um diálogo em um mundo dicotômico..
- Sim, sim.. mas eu sou a terceira parte..
- Terceira parte?
- Como assim terceira parte?
- Terceira parte oras.. um.. dois.. três.. entenderam? Eu achava que vocês fossem mais espertos..
- É difícil.. não estamos acostumados à uma terceira parte..
- É porque vocês vivem nessa velha panelinha.. "nesse romance astral"..
- E pra que serve uma terceira parte?
- Pra mostrar que as coisas não precisam ter uma serventia para serem, por exemplo..
- Muito interessante.. muito interessante.. aceita um cigarro?
- Sim, claro.. vocês tem algo pra beber?
- Não é uma má idéia.. cerveja?
- Nada melhor no meu entender...
- Mas então.. o que você veio fazer aqui?
- Mudar de ares um pouco.. estava muito quente lá do outro lado..
- Ah sim, as coisas são realmente mais frias por aqui.
- Eu diria mais.. frias, certas, estanques, definidas, acertadas, divisadas.
- Pois é.. vocês não me levem a mal, ou a bem, conforme o caso, mas as coisas por aqui parecem meio monótonas, na verdade.
- Diótonas, no mínimo. E a culpa é dele. Fica tolindo os vícios e os prazeres.
- "É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro".. você acha mesmo que não tem seu quinhão de culpa?
- Muito fácil pra você ir chegando e levantando problemas.
- Você não faz idéia dos conflitos que vivemos por aqui.
- Esqueçam.. ele é sempre assim.. cheio de meio-termos...
- Só me faltava essa..
- E você quem é?
- Devíamos é aproveitar e fazer uma festa logo...
- Eu sou uma outra parte qualquer...
- A quarta parte?
- Se você quizer dizer assim... ontem mesmo eu encontrei um grupo de prolegômeros de alicarnassos e eles me chamavam de "elo mais fraco"... ano passado umas concepções escatológicas me taxaram de "letra f".. mas se quiserem me chamar de quarta parte, fiquem à vontade..
- Entendam que as coisas nunca são tão movimentadas por aqui..
- Claro, claro.. aqui é um mundo dicotômico, eu sei como são essas coisas..
- Pois é, a gente tá acostumado com coisas mais harmônicas..
- Tudo tem uma certa harmonia..
- Isso é você quem diz..
- Mas e então, para que você serve?
- Eu já disse que nem tudo tem serventia..
- Mas eu mesmo tenho muitas.. sou pau pra toda obra..
- E qual é o objetivo disso tudo?
- Isso mesmo? Qual é a de você dois aparecendo aqui?
- Eu queria mostrar o interstício que existe entre vocês...
- E eu não queria mostrar nada além de tudo que algumas coisas podem não representar...
- Ãh?
- Que?
- Nada.. tudo.. alguma coisa.. não representar.. ah, e não necessariamente nessa mesma ordem...

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Escorregando pelos sentidos ou Meus pedaços preferidos...

Talvez você prefira
Um pouco de cortesia
E é claro que toda a côrte
A ti se dobraria
Pelo ar ressoariam as liras
E toda cor te invejaria
Pois tens a primazia
De fazer cócegas nos meus sentidos
De fazer reais
Meus sonhos descabidos
Fazer coisas banais
Aquelas simploriamente cotidianas
Meus momentos preferidos

É que essa entropia que emanas
Me assanha
Me atiça
Me faz todo cobiça
Por essas pernas
Que minha mão arranha
Por esse pescoço
Em que me roço
Onde esqueço
Por esse colo
Onde posso ser tolo
Mas não mais padeço
E nele me enrolo
Me enrosco
Me enveredo
Len.. ta.. mente...

É esse vício no teu gozo
Que sem ele não há delírio
Sem mordiscar sua orelha
Não tenho repouso
E tudo vira martírio
Contigo tanto mais ouso
Pois teu ventre é minha prisão
Tanto quanto
É o prenúncio da libertação
E eu acompanho teu canto
É seu prazer que janto
Espectante da anunciação
Desse nosso acerto
Desacertado, espasmótico e frenético
Esse nosso diálogo poético
Em que tudo verto...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Nâo exatamente o que eu queria ou Prefiro puro mesmo...

(Certo dia, ele resolveu beber a vida. A vida nunca foi sua bebida preferida. Começava doce.. mas sempre amargava no final. Tirou a tampa.. colocou no copo.. rodopiou-a enquanto a olhava e a vida olhou de volta.. nissou surgiu alguém, que já tivera nome, mas hoje preferia ser alguém qualquer, mais que ninguém e com um não ser que só sabe ser a mulher..)
- O que está bebendo?
- Você poderia dizer "o de sempre.."
- "O de sempre" hoje em dia eu prefiro com gelo.
- Eu sempre prefiro puro..
- Certas coisas nunca mudam.
- Tudo muda o tempo todo..
- Foi o que eu quis dizer. (ela disse antes de sentar ao lado dele ali no balcão..) Posso sentar?
(Ele olhou com seu melhor olhar de você já sentou..) - Claro. O bar não existe mais mesmo..
- Ouvi dizer. Então o que faz aqui?
- Estou bebendo.. sabe como é.. já sei foi o carnaval..
- Mais um. Agora o ano começa.
- Pois é.. mas eu não tenho pressa..
- Você nunca teve. Soube que passou num concurso.
- Passei.. pra professor substituto em Santa Maria..
- Parabens. Eu acho..
- Obrigado. Eu acho..
(Ele voltou a olhar o conteúdo do copo buscando melhor companhia..)
- Não adianta. Eu só vou quando eu quiser ir.
- Eu tinha esquecido..
- A maconha destruiu o seu cérebro. (e ela riu com deboche)
- Sei.. o que você quer afinal?
- Nada. Só resolvi dar uma passada.. ver esse seu corte novo de cabelo.. achei que você não ia cortar nunca.
- As coisas sempre mudam.. eu gostei dele um palmo mais curto..
- Pra mim ficou uma merda. (e ela acendeu um malboro light)
- Obrigado. Eu acho.. (e ele pensou se não era melhor tomar tudo de um só trago..)
- Disponha. (soprou a fumaça espeça como mármore) Você disse que gosta puro. Vai terminar o mestrado?
- Sim.. eventualmente.. em algum momento.. ao menos antes que ele acabe comigo..
- E como foi de viagem?
- Viajar é preciso. Viver..
- "Bem.. isso é uma longa conversa.. deixa eu apertar um enquanto falamos à respeito..." Você podia pelo menos mudar esses seus clichês. (e ela riu com desdém esnobe)
- Certas coisas nunca mudam.. e a viagem foi renovadora, algumas novas perspectivas, alguns redemoinhos de lama inescapáveis.. essas coisas..
- Claro, claro. Foi bom ver você.
- Gostaria de dizer o mesmo..
- Ah, mais uma coisa.
- Sim? (disse ele caindo na armadilha)
- Você sabe que eu acho essa história de metáforas vazias sobre a vida num blog ridículo né?
- Eu imaginei.. aliás estou imaginando..
- Pronto. Era isso. (ela levantou-se..) Até qualquer dia.
(Ele assistiu ela ir-se pelas ruínas do bar. Olhou mais uma vez para o copo onde a vida jazia sem gelo.. ao seu redor circulavam as quimeras de sempre, algumas novas e umas poucas ainda sem identificação.. daí tomouo tudo num gole só, limpou os lábios no antebraço, sentiu a queimação inicial no estômago e deixou-se embriagar, os sentidos se dobrarem ao entorpecimento e ver se pensava em algo mais sensual da próxima vez...)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Voltas, revoltas e reviravoltas ou Interstícios da matéria

(Primeiro ele pousou. Depois escondeu as asas, porque sempre chamavam atenção demais. Prendeu os cabelos, afinal o vento soprava forte. Expremeu-se entre a multidão que acotovelava-se sobre o chão enlameado. Não gostava das pessoas.. não gostava do lugar.. mas gostava da música e veio crendo que isso bastaria.
Logo na entrada um segurança apalpou as periferias de seu corpo. Sorriu o sorriso de quem pode abusar falando..) - Esvazie os bolsos...
(O tal segurança de olhos amarelos abriu um sorriso branco quando viu dali sair alguns papelotes.. restos de papiro de uma cópia em aramaico do antigo testamento, um par de pederneiras, um sachê aromatizado e pequenos pacotes de ambrosia...) - O que é isso aqui? Não pode entrar com papel não...
- Ah não? Oras, que coisa.. pode ficar então, eu tenho algumas outras cópias...
- Ceeerto.. (disse o segurança em tom desconfiado, enquanto quase mesclava-se àquela escuridão bruxulenta..) Posso ver seus documentos?
- Eu não tenho documentos.
- Como não tem? Sem documentos não entra...
- Mas eu já paguei pela entrada... (ele mentiu como quem diz a verdade..)
- Sem documentos nada de entrada. (disse convicto e vitorioso com um certo brilho nos olhos amarelos..)
- Entendo.. isso serve? (e ele estendeu para o rapaz dois pequenos bastonetes que cheiravam à canela indiana..)
- Que porra é essa? Tá de sacanagem com a minha cara?
- Não creio que eu me dispusesse a tal feito. (ele disse enquanto o segurança cheirava os bastonetes..)
- Ei William olha só esse figura aqui... (e aproximou-se o supervisor tão mal-encarado, quanto o segurança de olhos amarelos, mas muito maior..)
- Qual o problema aí?
- Ele não tem documentos e ainda trouxe essa merda aqui.. (o brutamontes tomou os bastonetes e também os cheirou..)
- Isso é maconha gringo?
- Não.
- Bem, isso não pode entrar e nem você sem documentos. (William sorriu como sorrira o primeiro segurança..)
- Talvez exista algum substituto.. (ele disse em seu íntimo começando a se impacientar com aqueles tolos humanos..)
- Leia meus lábios, gringo. D O C U M E N T O C O M F O T O!!! (disse William abaixando-se e falando próximo o suficiente para que ele sentisse o cheiro desagradável de suor..)
- Oh sim.. vocês desejam um documento com foto. É claro. Aqui está... (e abrindo a mão esquerda deixou ver um pequeno prisma..)
- Tu tá maluco, doidão? (disse William enquanto o primeiro segurança ria..)
- Ainda não. (ele sorriu, enquanto as almas dos dois esvaiam para o pequeno recepiente, deixando-os estáticos.. invólucros de carne vazios...) Com sua licença.. (e passou por eles, enquanto a pessoa seguinte na fila caminhava feliz por finalmente poder entrar, já levantando os braços para ser revistada... dentro do prisma, antes translúcido, agora levemente fumê, as almas gritavam sem que ninguém as escutasse... ele colocou o prisma no bolso, junto ao sachê e à ambrosia...
Deu uns passos em frente, caminhando em direção à música barulhenta e reverberante... assoviava uma canção de um show de antigamente.. não se faz mais shows como antigamente...)

"Nem de vitória
Nem de derrota eu falei
Tudo o que eu quero é ouvir o povo a cantar
Pra consciência é que eu não posso mentir
Pois meu travesseiro não me deixa dormir..."