quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Um pouco de crítica ou Festival de Brasília do Cinema Brasileiro...

Desde terça feira da semana passada até ontem, eu andei deveras atribulado. Além da correria costumeira, estava acontecendo por cá, no Planalto Central, o 40o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e cabe uma explicação de meu envolvimento com o dito...
Minha mãe, Dona Maria do Rosário Caetano, é uma apaixonada e fanática pelo festival. Há uma matéria inclusive chamando-a de "Senhora Festival", para terem uma idéia da adoração dela pelo dito. Pois além de coordenar os debates dos filmes da mostra principal (o que implica em ver todos os 6 longas e os 12 curtas), ser jurada da mostra de filmes de Brasília, lançar livros, escrever matérias pros jornais (minha mãe é jornalista, especializada em cinema latino-americano..), ela aproveita para ver os filhos (eu e meu irmão..). É claro que ficamos correndo atrás dela, tentando vê-la nos interstícios da correria.
De qualquer forma, isso foi apenas para chegar ao ponto de que, o que minha mãe realmente faz questão, é que vejamos o festival.. Assim sendo, vi todos os filmes.. religiosamente. O Festival daqui é bastante renomado Brasil afora na área cinematográfica.. notório pela dimensão crítica, pela platéia politizada e participativa, pelos debates, pelos filmes inéditos, entre outras coisas. Esse já é o 14o festival que acompanho.. da minha mãe deve ser o 30o, no mínimo.. risos
Enfim, resolvi fazer uma pequena e modesta análise do festival, principalmente depois do resultado decepcionante da premiação ontem.
Vamos lá então... irei primeiro tecer considerações sobre os filmes e depois sobre a premiação...

Na terça passada, o festival foi aberto com dois filmes (que não concorrem).. um curta e um longa, ambos recuperados pela tecnologia.. "Brinquedo Popular do Nordeste" de Pedro Jorge de Castro e "Proezas de Satanásna Vila do Leva e Trás" de Paulo Gil Soares. O primeiro era um documentário curto sobre o artesanato nordestino.. bem legal.. o segundo, um filme analisando a invasão do "capetalismo" numa pequena vila brasileira. Essa foi a definição de um dos atores do filme, que é de 67, salvo engano. A história é cheia de simbolismo.. após encontrar um poço de petróleo, envoltos em professias oníricas, os cidadãos principais.. (um cego, um aleijado e um anão) são envolvidos pelo profano avanço da força do mal (diabo / capitalismo).. o filme vai ficando muito empolgado com essa idéia.. um tanto tresloucado pro meu gosto.. mas certamente interessante..

Na quarta, dia 21/11, no célebre Cine Brasília, foi a vez da mostra competitiva. O curta "Um ridículo em Amsterdã" de Diego Gozze, era uma narrativa baseada em fatos realmente acontecidos com o protagonista. Ele ganhou uma passagem de avião para Amsterdã em uma festa numa empresa de viagem onde trabalhava por estar usando a roupa mais ridícula (era uma festa do ridículo..). Em cima disso, o diretor explora o desconforto do papel que cabe ao protagonista nessa história e sua apropriação "involuntária" pelo discurso que o quer expor... eu gostei, como disse pro Thiago meu amigo, por não ter gostado.. pois não era um filme para se gostar, mas um filme para incomodar..
O segundo curta da noite, "Espalhadas pelo ar" de Vera Egito, certamente foi o mais sensível e delicado do festival. A história falava de uma mulher, um tanto esquecida dos sabores da vida, que ao deparar-se com um grupo de meninas de seu prédio, que fumavam cigarro no fim da escadaria do prédio, sem as roupas (pra não ficar o cheiro). Desse contato nasce um diálogo que fará ela aperceber-se de seus anseios, de seus sonhos... um filme para se gostar e dar um gosto (nicotinado) de liberdade..
O longa metragem, "Amigos de risco", do pernambucano Daniel Bandeira, era não só o filme de estréia do festival, como do diretor. Um filme de baixíssimo custo, compensou isso com um roteiro intenso e muita garra. Ele conta a história de dois amigos no Recife, que deparam-se com o surgimento de Joca, um amigo problema que sumira pro Rio de Janeiro fugido dos problemas.. voltou tão subitamente quanto partira, quase como uma luz no fim do tunel da boemia para resgatar os dois companheiros do tédio do labor e do cotidiano.. arrasta-os em plena 4a feira pruma noitada, regada a cerveja, petiscos e muito mais.. essa amizade saudosa vai se revelando povoada por tensões e riscos. Joca escondia muitos segredos e aquela amizade já não era a mesma.. eles não eram os mesmos.. ao contrário de Joca, os dois não fugiram, mas pagaram o preço de seus erros.. um endividara-se com um agiota e perdera tudo, o outro acabara de ser largado pela esposa. O problema é que no justo momento de conflito, em que a poeira assoma sobre o tapete, há uma reviravolta.. Joca passa mal após cheirar pó com um puta no quarto.. daí em diante.. ininterruptos problemas.. sem carro, sem comunicação, com o transporte público de greve, sozinhos na madrugada, eles passam a arrastar o corpo inerte de Joca na tentativa de levá-lo a um hospital.. e se deparam com todo o tipo de problemas.. polícia, trombadinhas, falhas de comunicação, a greve dos ônibus, o peso do corpo.. como eu disse antes.. quase "Um morto muito louco" em Recife.. risos.. um filme interessante, com uma história pra contar.. nada sensacional, mas com algo a dizer sobre amizade...

Na quinta feira foi a vez do curta "Café com Leite" de Daniel Ribeiro.. um filme politicamente correto, sobre um casal gay que tem de lidar com o irmão de um deles, criança ainda, após a morte dos pais. Fora isso, não é nada de mais...
O segundo curta, "Décimo Segundo" de Leonardo Lacca, foi o primeiro filme vaiado do festival. O filme trás sua força do silêncio.. um silêncio ensurdecedor.. incomodou a todos, logo foi vaiado.. muitas vezes as pessoas não sabem o valor de um incômodo.. é mais cômodo ser confortável.. O filme narra o encontro entre um casal no apartamento dela. Há um abismo onde antes já houve uma ponte e cada ínfimo detalhe é explorado para escancarar a ausência do que já houve e a inabilidade dos dois em lidar com isso...
O longa foi "Meu Mundo em Perigo" de José Eduardo Belmonte, diretor insurgente e afamado desde "A Concepção".. o filme foi muito bem recebido, mas confesso que não me envolveu. Enxerguei vários dos méritos, mas ainda assim, não me identifiquei e comprei os personagens.. a história é sobre um homem que vê seu mundo ruir com a perda do filho para a ex-mulher, supostamente (segundo ele) louca. No entanto, é ele quem alija-se da sanidade nesse processo, que culmina com o atropelamento de um velho bêbado na noite da perda. Daí ele acaba por refugiar-se num hotel, à cata de uma garota falsamente muda. O mundo de ambos dialoga e ele tem uma impressão de entendimento nesse encontro.. ainda assim, o mundo lá fora seguia e viria cobrar seu preço. Interessante, mas não envolvente...

A sexta começou com o curta "O Presidente dos Estado Unidos" de Camilo Cavalcante. Um filme falsamente bem-humorado, sobre as psicoses esquizofrênicas de um homem que perde-se na mesma loucura de George W. Bush. A loucura cobra o preço do sangue da inocente esposa...
O segundo curta foi "Uma" de Nara Riella.. a Nara é amiga da Dé e formada em cinema aqui na UnB. Fala sobre o surtar de uma mulher ante o peso de sua vida insípida. Ela reverte as lágrimas, mas não converteu meu gosto... tinha algo a dizer, mas não o disse como poderia...
O longa foi "Cleópatra" de Júlio Bressane. O filme contou com elenco global (Alessandra Negrini, Miguel Falabella, Bruno Garcia...) e era esperado com muita espectativa. Bressane é notório por seus filmes "rebuscados" e iniciou a apresentção pedindo paciência com o filme. Logo vi que coisa boa não viria... para mim foi o PIOR filme do festival, anos luz à frente do segundo pior. Ele propôs construir uma visão lírica em língua portuguesa da vida da afamada rainha do Egito. Mesmo contando com ampla pesquisa e bons recursos, o filme perdeu-se no ego do diretor que acredita ser dever da platéia ter a "grandeza" de entender seu discurso empavoado. O filme foi vaiado intensamente após perder-se num delírio estético.. nem dá a ler sua personagem, nem captura os espectadores em sua trama. O saldo de Cleópatra é muita verborragia, muita técnica, muito ego e pouco público (só não digo nenhum público, porque tem umas vedetes que crêem haver ali poesia.. mas enfim, tem gosto pra tudo..).

O sábado começou com "A Enciclopédia do Inusitado e do Irracional" de Cibelle Amaral, um curta bem humorado em preto-e-branco sobre o monstro que existe em todos nós e como ele pode acabar conosco. Conta a história de um faxineiro que é demitido da biblioteca onde sempre trabalhou e tenta se vingar da responsável virando um monstro rato bem de araque.. risos. Engraçado..
O curta seguinte foi "Trópico das Cabras" de Fernando Coimbra, com excelentes imagens, fotografia e uma história que narra um casal em busca de se encontrar. Vêem a solução numa viagem pelas estradas do Brasil. Enquanto se buscam, ele assiste à volúpia dela com alheios. Ao fim, os caminhos seguem para os mesmos descaminhos, sem que pouco fique, assim como pouco muda.
O longa metragem, "Falsa Loura" de Carlos Reichenbach, conta a história de uma operária que acaba aliciada para ser "acompanhante", vítima de sua beleza e seus ímpetos. Fui surpreendido por esperar o pior, depois de ter visto "Garotas do ABC", do mesmo diretor e com temática contígua. Esse foi bem melhor.. o que não significa bom necessariamente.. risos. Ainda assim, tem momentos muito engraçados.

No domingo, o festival foi agraciado com "Tarabatara" de Julia Zakia.. um documentário sobre ciganos. O filme menos interessante do festival ao meu ver...
O curta seguinte foi "Eu Sou Assim - Wilson Batista" de Luiz Guimarães de Castro, um excelente documentário sobre a vida desse genial sambista. Irreverente e bem construído, ele passeia pela vida do personagem com musicalidade e cadência.
A seguir, o longa "Chega de Saudade" de Laís Bodanzky, mesma diretora do genial "Bicho de 7 Cabeças", para mim o MELHOR filme do festival. Ele gira em torno de um baile, desses pra 3a idade.. no melhor estilo "Short Cuts".. sem protagonista.. apenas uma pluralidade de histórias enlaçadas num mesmo balaio.. todas com seus pequenos conflitos, querelas íntimas e extremamente pessoais.. tão pessoais que nos envolvem, nos perpassam, nos prendem.. ao contrário de certos filmes "artísticos" e "vanguardistas" sabe...

Enfim, na segunda feira foi a vez de "Busólogos" de Cristina Muller, um excelente documentário sobre um grupo de vidrados em.. ônibus. Como eu já disse aqui... tem gosto pra tudo.
O segundo curta "Eu personagem" de Zepedro Gollo foi algo experimentalista sobre uma lombra de drogas nas viagens de consciência do personagem / autor que conta e viaja pela história. Parece melhor do que é.. risos
O longa metragem foi "Anabazys" de Paloma Rocha e Joel Pizzini, um documentário sobre Glauber Rocha e a construção de "A Idade da Terra" seu último filme. Através da análise do processo criativo e da construção da obra, o filme expõe a instigante figura do pai do cinema novo. Gláuber é recuperado em seu pioneirismo, (Ele sim) em seu vanguardismo e sua genialidade.

Ontem, terça feira, o festival teve seu encerramento. Foi exibido o longa "Dezesperato" de Sérgio Bernardes, também um filme recuperado e que não concorria.
A premiação culminou com a consagração de Cleópatra como grande vencedor do prêmio de Melhor Filme do júri.. restando a Laís e seu filme, os de melhor direção e prêmio do público. Eu sei que a vida não é justa e naõ seria um juri de festival que romperia com isso, mas infelizmente me parece que falta sensibilidade aos julgadores de perceber a necessidade do diálogo entre um obra e seus consumidores / produtores. Bressane e seu filme foram incapazes de se fazer palatáveis, sequer tinha um salzinho básico... nada precisa ser incompreensível para ser inteligente. Só existe inteligência no entendimento, na compreensão. Não há "orgasmo estético" (como definido por uma atriz no debate do filme) que seja válido, se só goza o diretor.. cinema e sexo dependem da conjunção das partes.. Bressane caminha, como sua Cleopatra, para um ostracismo recluso e apoteótico despojado de alicerces.. Laís caminha para fazer as pessoas perceberem que a arte está em toda parte, que ser de vanguarda não é privar a todos da arte, mas sim explicitar a arte de cada um, de cada pormenor, de cada momento singular e pequeno..
Assim sendo, à despeito dos prêmios, sabemos quem venceu...

É isso.. putz, ficou grande.. se você chegou aqui.. obrigado pela paciência e até o próximo festival...

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Erro ou oito deitado...

O preço do meu erro
Muitas vezes é o desterro
Outras tantas, a desilusão
Imprecisa percepção
De que os sonhos se desfazem
Que os brilhos são fulgazes
Que as chuvas são menores que a estiagem
Erros costumazes
Que errar presse aqui é profissão
Os erros saem pelo ladrão
E se acumulam pelo chão
Espoçados num lago imenso
Tudo por eu ser propenso
E teimar que ainda venço
No fim da procissão

Quando isso me desanima
Solapa minha estima
E eu acordo desolado
Achando o mundo insípido
E os cotornos todos quadrados
Desejoso de um mar límpido
Um refúgio para mergulhar
Onde possa me recuperar
Para seguir com a caminhada
Expandir minhas asas sangradas
E mais uma vez cantar
Nas notas destoantes costumeiras
Sobre a profundidade do abismo
Já que sigo sempre pela beira
Me equilibrando nos interstícios
E saboreando cada vício
Que eu rio
E vejo a besteira
De cansar do desafio
Pois descançar é bobeira
Viajar é preciso
O resto é conseqüência
Por isso não tenha clemência
De me atiçar a indolência
Quando eu estiver indeciso...

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Dano ou Estar...

(Ele correu os dedos pelo papel. A caneta havia caído pesada sobre a materialidade que servia de veículo àquelas palavras.. e isso facilitava sua leitura...)

- Decidi escrever-te porque não mais aguentava pensar em você, precisava expulsar esses pensamentos de mim para o papel, para fora de mim, para algo alheio a nós dois...

(Ele parou. Levantou-se e deu três passos longos. Chegou até o som e ligou-o e apenas deixou tocar o cd que por lá já estava..)

- "The lunatic is on the grass.. the lunatic is on the grass.. remembering games and daisy chains and laughs.. got to keep the loonies on the path..."

(Tomou a taça na mão esquerda e tornou à leitura manual..)

- Muitas, tantas, inúmeras vezes as palavras me assaltam, me corroem, me impelem e dobram minha vontade com todo esse potencial limitante de percepções. Não me entenda mal, o problema não é você.. nunca foi.. nunca será. O problema sou eu.. sempre foi.. sempre será. É essa maldita besta insaciável que vive em meu íntimo, desejosa de banquetes apoteóticos a todo instante e desavergonhada de pedir, ainda assim, um 'teco' de qualquer lanche de outrém que lhe passe pela vista...

"The lunatic is in the hall.. the lunatics are in my hall.. the paper holds theirs folded faces to the floor.. and every day the paper boy brings more..."

(O papel ainda tinha o perfume dela. Era sempre inebriante e instigante aquele perfume, que para ele tinha um certo cheiro de kinder ovo.. ao mesmo tempo que conseguia invadir suas narinas, penetrar escorregadio pelo seu íntimo e atiçar suas partes. Bebeu vinho..)

- Por isso cheguei até você. Por isso preciso seguir o meu caminho. Sei que deve doer muito ler o que estou dizendo, mas tenho de ir para não me perder. Ficar seria dar algo de mim, que uma vez dado, me fará uma falta suprema. Não taxe-me de egoísta.. não que eu não seja.. sou sim, por escolha, inclusive.. mas não uma egoísta qualquer, sou egoísta pelo bem do equilíbrio universal. Posso jurar meu amor, mas não posso trair a mim mesma. Você que bebeu do melhor e do pior de mim, não irá querer ficar para ver o vinho tornar-se vinagre...

"And if the dam breaks open many years too soon.. and if there is no room upon the hill.. and if your head explodes with dark forebodings too.. I'll see you on the dark side of the moon..."

(O vinho já não desceu tão doce. Ele afastou a taça amarga, que agora mais parecia um réles copo de requeijão. Tateou o cinzeiro e retirou de lá uma ponta sobrevivente.. deixou a carta e acendeu-a. Deu uma longa tragada e a prendeu dentro de si, apenas para sentir a fumaça castigar seus pulmões. Não queria sentir nada de bom naquele momento..)

- Houveram tantos antes de você. Haverão muitos ainda.. eu espero.. pelo menos é como sempre tem funcionado. Mas nenhum como você. Como sei que nunca encontrará ninguém como eu. Não por sermos especiais. Simplesmente por sermos humanos. Demasiado humanos. Incomensuravelmente humanos.. mundanos.. fulanos e ciclanos...

"The lunatic is in my head.. the lunatic is in my head.. you raise the blade, you make the change.. you rearrange me untill I'm sane..."

(Soltou a fumaça, que já era quase ar. Seus sentidos inclinaram-se um pouco, mesmo que o mundo permanecesse na escuridão de sempre. Um mundo sem cores, sem curvas, ângulos e entalhes. Um relógio para ele era muito mais um tic-tac constante, do que um círculo numérico e cíclico. Uma carta era pra ele um ato quase sexual de desvendar um corpo com seu arguto tato.. e ela sabia muito bem disso...)

- Eu queria ter o direito de te dizer que sou sua. Mas seria mentira. E não que eu não minta.. minto o tempo todo.. mas seria leviano lhe retribuir dessa forma, seria como cuspir nos seus óculos. Um dia já acreditei que podíamos ter as pessoas.. hoje sei que podemos estar com elas e nada mais. E estar com você foi profanamente divino. Nunca ninguém me tocou como você. Muitos correram a mão pela minha carne, poucos pela minha alma.. nenhum antes, pelos meus medos. E sei que eu vi em você o que me ensinastes a ver de olhos fechados. Nosso retrato sempre ficará aqui guardado, num belo lugar do álbum, com menção honrosa.. entre o meu cão Gumercindo e um coleguinha de 2a série chama Leonardo Matias da Silveira que me roubou o primeiro beijo que tenho lembranças...

"You lock the door.. and throw away the key.. there's someone in my head but it's not me..."

(O baseado findou-se, já quase lhe queimando os dedos. Largou-o de volta no cinzeiro transbordante sobre a mesa de carvalho pintada de tinta acrílica branca.. o branco sempre tinha uma textura diferenciada das demais. Largou novamente a maldita carta da maldita dama com suas malditas palavras. Levantou-se e foi até a janela. Eram cinco passos médios. Parou esticou os braços e o batente estava lá como devia. Abriu-a. Sentiu a brisa da noite, desejoso de que ela trouxesse um perfume menos embriagante. Veio apenas o cheiro da fumaça suja da cidade.. da urina feita nas junções entre o prédio e a calçada.. o excremento de pombos que recobriam o telhado.. as damas da noite, que no parque ao longe, ondulavam ao sabor do vento.. pensou por onde estaria o mar...)

- Sendo assim, meu oráculo.. meu profeta.. meu apóstata.. meu espelho.. tenho de ir e já tendo ido, deixo este pedaço de mim transcrito para que nunca digas que não lhe dei nada. Sei sim que tanto recebi e tão pouco dei.. mas assim é a nossa natureza.. você é de dar, eu sou de receber.. e sou sedenta de muitas fontes.. sou como o mar, que precisa de muitos rios e da chuva e de sabe-se lá mais o que, para seguir em seu movimento de ir e vir. Quando nos encontrarmos novamente, sorria com carinho...

"And if the cloud bursts, thunder in your ear.. you shout and no one seems to hear..."

(Retirou as mãos do batente velho e já cheio de fissuras do tempo e levou-as até o cabideiro, ao lado, sempre ao lado, onde estava seu chapéu. Colocou-o sobre os cabelos longos como faria um gângster em um daqueles filmes antigos que ele nunca vira. Pegou o sobretudo, vestiu-o sentindo desde já o peso do que havia nos inúmeros bolsos.. caminhou os oito passos que o separavam da porta.. passos pequenos...)

- Ainda assim, sei que tens todo o direito de me odiar. Não o recrimino.. talvez ninguém me odeie mais do que eu mesma. Minha mãe sempre me dizia que eu era minha pior inimiga e não que eu devia tomar cuidado. Nunca fui do tipo cuidadosa mesmo. Mas que seja um ódio amável, ódio de querer arrancar-me do mundo e prender-me numa gaiola dourada, com boa água e alpiste da melhor qualidade. Certamente, seria a mais bela gaiola de minha vida. E, ainda assim, contigo lá.. com água.. alpiste.. conforto.. vinho, poesia e boa música.. ainda assim, não seria a liberdade. Perdoe minha vaidade e minha vã idade, mas tenho pés inquietos, asas sangradas e braços abertos para receber muitas flechadas...

"And if the band you're in starts playing different tunes.. I'll see you on the dark side of the moon..."

(Pegou a bengala que sempre ficava junto à porta. Girou a maçaneta. Olhou uma última vez para mesa, onde não mais jazia a carta, que chegara ao chão levada pelo vento que vinha da janela, como se pudesse vê-la. Suspirou uma longa desilusão. O corredor o esperava com a luz que se acendia sozinha. Pensou se deveria chorar. Acabou por sorrir o sorriso de quem já chorou demais. Fechou a porta atrás de si e foi-se adiante pela escuridão...)

- Por isso tenho de ir.. sozinha.. avante pela escuridão. Até qualquer dia, até um dia qualquer, onde talvez eu não parta, onde talvez você não fique, onde talvez eu suplique por estar farta de tanta tolice. Agora só sei que preciso ser tola e nada mais.. até outro dia.. meu amor tão fulgaz...

"I can't think of anything to say except... I think it's marvellous! HaHaHa!"

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Azares provisórios ou Expandindo repertórios

Os tempos andam cinzentos
Arduamente atribulados
É como se charfundar no cimento
Afundando a cada passo dado
Mas daí me reinvento
E ostento um brado
Pelo prado
Que aqui no cerrado
Ou você grita
Ou se mistura
À gente aflita
Que se acha tão bonita
Mas se farta na usura
Prefiro ser da gente impura
Mutante na compostura
Que cantarola uma poesia
E não exita em mudar de freguesia..

E nessa de ser errante
Vou expandindo meus repertórios
Deixando os achismos simplórios
E me entendendo com o discrepante
Porque no fim é tudo subjetivo
E meu novo objetivo
Não é mais saber de Aqueus, Jônios e Dórios
Ou dos anos da Revolução
Muito mais é expandir a percepção
E contar algumas histórias
Para que se assenhore de suas memórias
E saiba dar a ler o sabor de suas vitórias
Mesmo no caos deteriorante dos instantes
Vamos avante e errantes
Que cedo ou tarde virão as glórias..

Mas permita-me explicitar
O que vim explanar
Sobre os percauços dos dias
Os engarrafamentos nas vias
Que convergem ao meu caminhar
Porque pode ser só um computador quebrado
Que levou tudo que eu tinha fotografado
Nos últimos quatro anos de andança
Fosse um ENEH cheio de bonança
Ou algum dia fulgaz capturado
Mas teve coisa pior
Aqui pelo meu lado
De dimensão muito maior
O câncer do meu pai
Que derrubá-lo não vai
Já que é bem inicial
E dia 13 ele já arranca o mal
Que anda a crescer na próstata
Logo será um dodói apostata
Que nem lembraremos no carnaval
Tem ainda a Dé lá em Paracatu
Ralando pra ganhar tutu
Mas distante toda a semana
Duzentos km do planalto central
E do amor que de mim emana
Minha distante dama
Dona da minha chama..

Mas eu assovio e chupo cana
Que até sendo difícil
Viver é sensacional
E esses azares provisórios
Vão virar poeira nos meus passos
Poesia nos meus traços
Parâmetros comprobatórios
Afirmadores da firmeza de meu abraço
Da certeza incerta de cada pegada
Na vã aspiração que essa estrada
Mesmo que finde
Siga profanamente sagrada...

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Bom na cama ou o fio da minha trama...

Salve salve minhas queridas pessoas que por aqui passam.. bem, fui desafiado.. ou melhor, fui definido como sendo BOM NA CAMA. Modéstia à parte, sou mesmo sabe.. risos.. mas enfim, Minha Querida que se fosse puta, eu lia definiu-me como tal, claro que na base do achismo.. disse ela "porque Deus só pode ser brasileiro..eheheh, e como tal só pode ser BNC…" Haveria lisonje maior? Creio que não.. pois bem.. vamos ao regulamento..

As "regras" são estas, Pessoas... nomear 5 bloggers (não exclusivamente do sexo oposto) que, pelas razões mais diversas, imaginem ser bons na cama. - Expliquem, em traços gerais, o que é, para vocês, a definição de "bom na cama".
Se quiserem desenvolver e explicar as vossas escolhas, parece-nos bem. - Deixar um comentário no blog dessa pessoa para que saiba que foi nomeada.
O ideal será escreverem: "Acho que és bom/ boa na cama. Desafio-te no meu blog...", mas poderão ser mais comedidos. Não podem ser nomeados:
- Os autores do desafio: Bad e Ervi. É claro que somos bons na cama, e por isso não podemos tirar a competitividade a isto.
- Pessoas que se conheçam pessoalmente. Este é apenas um exercício de imaginação.

Sobre ser bom na cama. Bem.. minha definição é que há duas grandes virtudes para ser BNC. Uma é a capacidade de harmonizar-se com a outra parte envolvida no ninho. Outra é fazer com que aquele local seja inesquecível. Pois bem.. posso exemplificar dizendo boas coisas minhas na cama..
Dormir de conchinha.. uma arte certamente..
Ser grande o suficiente para amparar o encaixe dos corpos com precisão..
Ser dedicado a fazer tremular avidamente o corpo sobre o colchão..
Ver o leito sempre sob novos ângulos e perspectivas..
Soprar um rosto suado..
Beijar com o nariz..
Ampliar os espaços..
Tomar a dama, pela cama, envolvê-la na trama e atiçar a chama, até que a vontade se derrama, por mais ela clama, enquanto ama e ama e ama e meu peito inflama...
Além disso, também leio, confabulo, sonho na cama.. para não parecer que sou perfeito (Afinal, longe disso né..) dou minhas roncadas e mecho-me bastante.. mas ainda assim, creio ser inigualável companhia..

Vamos aos indicados então...

Dona P - http://segundas-intencoes.blogspot.com/ - Além de ser comPlicada e Perfeitinha, com raro sabor, a dita é dona de um charme próprio de quem sabe tornar o leito, a perfeita intermitência entre o céu e o inferno..
Sininho - http://negraluna.blogspot.com/ - Devo a ela, muito do que aprendi..
Borboleta endiabrada - http://borboletaendiabrada.blogspot.com/ - Porque sortudos como o Miguel são poucos...
Dragoa - http://amar-gura.blogspot.com/ - Poruqe não há lugar onde ela não seja profanamente boa..
Meu querido - http://renuncia.blogspot.com/ - Porque se tem alguma fama que o precede é esta..

Enfim, aí estão os indicados.. irei avisálos como se deve e amanhã faço um texto sobre como andam as andanças e os vôos..