Às vezes o tempo
Que segue comigo
Deixa de ser amigo
E vira turbilhão
Consome cada instante
Alheio aos meus desígnios
E me impele a ser frenético
Sem permitir que saboreie a construção
Dos passos, das vivências
Assoma de inclemência
Esse tal portifólio de Cronos
O Deus-titã
E passam trabalhos, provas, planos, seminários, qualificação
Mesmo que eu ache tempo pra almoçar com minha irmã
Que encontre o ponto certo da massagem no pé descalço
De dona Dé se espreguiçando no divã
Ainda assim o tal do tempo
Acha de me escorrer entre os dedos
Tirar-me da cama cedo
Onde havia deitado tarde
Ah engano ledo
O peso do a ser feito na carne arde
Faz os olhos vermelhos
E haja fumaça pra impelir a vida
Que eu não diria sofrida
Diria árdua
Sem querer diminuir as vitórias
Ou esvanecer as conquistas
Sem lamentar os frutos de minhas próprias investidas
E meus passos maiores que as pernas
Não suporto me esconder nas cavernas
Então não me cabe reclamar
Quando fico cansado de correr por tantas cercanias
Habitar tantas dívidas de aprendizagem
Esgotar os impulsos energéticos por toda a parte
Resta-me apenas cair na boemia
Que ao contrário dos reclamões
Alimenta minha vontade
Aumenta a inércia da sequência
Molha a goela e esfumaça as sinapses
E me faz sorver os loucos do meu dia-a-dia
O que seria de mim sem vocês?
Sem você, que não está em nenhuma parte?
Seria só um tronco seco
De esquecível particularidade
Prefiro ser um louco cansado e exaurido
Do que um descansado de boca escancarada
Cheia de dentes, esperando a morte chegar
Eu prefiro dançar com a morte
E aproveitar cada passo
Então vê se dá um tempo, ô tempo danado
E senta pra fumar um aqui comigo
Nessa encruzilhada nesse fim de tarde
Daí viverei de poesia
Cantarei às musas
E terei ainda mais energia
Para aflorar minha majestade...
5 comentários:
Caminho junto com o tempo
e sempre me perco nas horas que marcam momentos meus insanos.
Se não fosse esse tempo não teria esquecido meus suicídios em abraços ilusórios, e minhas feridas não teriam se cicatrizado.
Nem sempre o tempo leva nossa vida...
Crescemos junto com tempo, crescemos tanto, que nosso corpo chega a não suportar o tamanho da nossa alma e estravazamos, deixando essa matéria.
O tempo é remédio e veneno.
É a cura e a doença.
o tempo, desgraçado que nos passa a perna
amarra as mãos
faz suar a testa
porque é tão curto
e tão rápido
quando não se espera
e come nossos pés
faz-nos tropeçar
mas se não fosse ele
do que adiantava continuar?
então, inebrie-se na fumaça
mergulhe na cevada
e volte sempre quentinho
pra me esquentar
porque meu deus alado
aqui por esses lados
a tua falta é mais sentida
do que qualquer coisa que se faça por mim, passar
venha logo, venha correndo
abra os braços e abrace o vento
sou eu, sou eu
a te massagear
pego nos pontos certos
penduro um pouco o tempo no teto
pra poderes por momentos
descansado ficar.
ah, doido doido
que saudade.
eu sinto saudades.
dessas que não cabem no peito
dessas que me depenam as asas
dessas que ardem de um jeito
dessas que não me deixam sossegar
dessas que me tiram o ar
dessas que me cortam os olhos
dessas que não tem como estancar
sinto saudades que parecem príncipes
desses príncipes que se disfarçam de palhaços
desses palhaços que me fazem rir de dor
dessa dor que parece vida, com cor
dessa cor que só tem em ti
e no amor.
Prazer, Poeta.
Fá-lo-ei, com as maiores das honras.
Agradecida pela companhia.
Postar um comentário