sexta-feira, 27 de abril de 2007

E assim roubaram meu carro..

Era uma terça-feira
Não era chuvosa
Um dia qualquer.. nada mais do que uma terça-feira..
Lá estava em minha aula de Cultura Organizacional em meio à discussão de Elogio ao Ócio de Bertrand..
15 para as 9.. sabe o que 15 para as 9 significa? Hora de ir para o bar..
Hora de ir ao Capela comungar da boa boêmia de meus ébrios companheiros..
Havia já convencido o Thiago, seria uma fortuita homeopática para aplacar as chagas de cansaço que já aderiam como craca à minha carcaça..
Alguns passos anciosos e lá estava eu no estacionamento da FE...
Mas meu carro lá não estava..
Não sob o poste onde o havia deixado..
Lá havia apenas um Peugeot 206, que certamente meu não era..
Meu bom e velho Verssailles 1994 cinza descascado lá não estava..
O carro que já fora de meu avô e também do meu pai não poderia ter criado asas..
Meu corcel enlatado havia sido furtado..
Desolamento...
Seria possível?
Talvez tivesse parado em outro lugar?..
Não, era fato.. meu pégasus sem asas me havia sido tomado..
Frustração...
Seria possível?
Eu tinha enchido o tanque de manhã..
Seria azar demais..
E foi..
Telefonemas..
Avisos..
Conversas com seguranças e transeuntes solidários..
2a DP...
"Foi pro desmanche com certeza"
Ocorrência..
Frustração..
E mais nada..
Dia seguinte, um conhecido policial dá o toque..
"Procure pela Asa Norte se puder, porque 70% da chance de achar o carro está em eles terem largado por aí para buscarem depois.."
Quarta feira.. 8 horas seguidas dirigindo por todas as quadras, arrematadas ainda na quinta com mais 4 horas de busca.. e nada..
Confesso que até vi belas paisagens e certos momentos alheios de outrens contidianamente singelso e belos.. mas nada de carro..
E assim ele se foi..
Nem sei pra onde..
Sem aviso prévio ou nada do tipo..
Dos males o menor, pois sempre podia ter sido pior..
Vida que segue..
A pé.. doravante..
Mas o sorriso não arrefece, pois ainda tenho muito pelo que agradecer..
Se sua leitura te trouxe até aqui.. saiba que vou bem.. "Eu.. não ando só.. só ando em boa companhia.. com meu violão.. minha canção e a poesia.."

4 comentários:

tayná. disse...

não lamente o carro, mesmo sendo de valor tão raro. a Poesia é a que mais oferece. nos dias quentes, nas noites frias. arranca lágrimas, traz alegria. come o tempo e sacia a fome de vampiro. na loucura citadina melhor seria mesmo termos rodas. rodar por aí sem aviso, sem hora. mendigando o pão da padaria. talvez na próxima esquina, encontres o carro conversando. com alguma mulher bonita ou um interessante cigano. ou, quem sabe, a junção dos dois, que é a nossa musa. se assim for, deixe teu carro lá. ele há-de estar feliz.

tayná. disse...

na loucura da minha embriaguez
avisto teus passos,
vindos de longe
como minutos contados
em meu relógio sem ponteiros
e desço o olhar
por tuas longas madeixas
o cheiro de ti
enche o ar de Poesia
bebo do ar que respiras
e faço-me escrava dos teus pensamentos
espero, calada, pelo momento
em que apareces, de súbito
a dar-me alento.
no meu leito de flores rubras
desenhado o teu nome no ar
as borboletas o contornam
há tanta vida!
há tanto sol!
há tanto mar!
e eu me diluo na natureza
da vida de flashes,
nada quero mais
peitos bravos e mãos cansadas
luas avairadas
de quem sorri demais.
providenciarei os acordes da nossa dança
bailaremos altos como quem ama
e rosas daremos às Damas
que invejarem nossa sintonia
oh, vida humana
oh, vida sofrida
somos nós que vamos nela
de cabeças leves e unidas.

tayná. disse...

"(...)
Corre, corre. O número do telefone dissolvendo-se em tinta na palma da mão suada. Ah, no fim destes dias crispados de início de primavera, entre os engarrafamentos de trânsito, as pessoas enlouquecidas e a paranóia à solta pela cidade, no fim destes dias encontrar você que me sorri, que me abre os braços, que abençoa e passa a mão na minha cara marcada, no que resta de cabelos na minha cabeça confusa, que me olha no olho e me permite mergulhar no fundo quente da curva do teu ombro. Mergulho no cheiro que não defino, você me embala dentro dos seus braços, você cobre com a boca meus ouvidos entupidos de buzinas, versos interrompidos, escapamentos abertos, tilintar de telefones, máquinas de escrever, ruídos eletrônicos, britadeiras de concreto, e você me beija e você me aperta e você me leva para Creta, Mikonos, Rodes, Patmos, Delos, e você me aquieta repetindo que está tudo bem, tudo, tudo bem. O telefone toca três vezes. Isto é uma gravação deixe seu nome etelefone depois do bip que eu ligo assim que puder, OK?"

_"Anotações sobre um amor urbano!, C. F. Abreu_




li e o uma voz me disse que era teu retrato. e não, não tive medo.

[P] disse...

Poesia é sempre excelente companhia. E você é professor de História? Os percalços que aparecem no meio do caminho nem se comparam às recompensas que afloram no fim de um ano inteiro de trabalho. Boa sorte.

http://segundas-intencoes.blogspot.com