- Tem dia que nem tudo cabe na poesia. Hoje, eu bem preciso de prosa...
- Capaz que eu possa te ajudar.
- Foi você que eu pensei em convidar. Achei que podia passar e ficar. Beber uma cerveja gelada, dar aquele enrolada enquanto a conversa vai ficando animada. A atenção então vai se deixando enroscada. Quando vê... bem... quando vê já não é a visão que domina a empreitada. É o cheiro, a eletricidade no arrepio, a secura na boca, essa coisa da vontade ir ficando cada vez um tanto mais louca...
- Isso ainda é coisa pouca. Te profano e devoro com um canto de olho. Qualquer um vê como eu te reconfiguro e deleito com uma encarada animada.
- Primeiro a gente admira. Um tanto mais a gente venera. Simpatia sincera. Mas espera, você sabe. É tanto desejo que não tem tempo ou espaço suficiente em que essa irrupção indefinível cabe. Eu sei que você sabe. O sorriso tá me dizendo. Eu vejo ele nascendo. Eu sinto. É meu absinto. Te roubar esse sorriso. É a fresta que eu preciso, para arranhar o seu fogo. Me queimo logo. Me queimo todo. Teimo. Eu quero o desassossego.
- Não nego. Esse incêndio eu até rego.
- Uma rima?...
- Isso é coisa sua. Eu tanto estou nua, quanto alada. Não importa. Eu quero queimar, explodir, gozar, correr, viver, qualquer intervalo nessa fábula mal contada. Eu bebo, num gole só se eu quiser, devagarinho se preferir. Mas do meu jeito.
- Eu aceito. Com sua nudez no meu pensamento todo dia eu me deito. Com cada voo seu eu me deleito. Não tem jeito. Eu rimo. Me animo. Me aninho. Subo mordendo. Sem remendo. Apertando grudado e entranhando. Firme. Faminto. Envolvo envolto em volta de tantas voltas que não tem um canto do carne que não seja nós. Dois. Um. Mil. Tem beijo vadio no pescoço. Tem um troço. De um encaixe único que só pode ser nosso. E eu devoto, encantado com cada canto do teu corpo perfumado, te rezo améns profanos de te querer bem. De te querer tanto. Bebendo como demônio teu mel santo. Cada lábio. Com apelo pelo grelo. Os teus gritos de infinito mais bonito. Me agarra. Urra e esfrega enquanto me rega. Uiva. E toma a carga...
- Agora você quer? Então eu sento nessa vara. Tão dura. Que perigo, meu poeta tão lírico. Meu devasso. Como é delicioso o invadir do teu traço... eu faço... com um rebolado... ele virar um delírio infindável de galgar bem ritmado... safado... meu fauno, me fode, me come, grita meu nome, me rasga, me ama, me toma. Que falo, te falo, gemo... assim, essa delícia, arranha ainda mais e mais em cada carícia. Você me vicia, me queima viva.
- Minha rainha. Rainha. Minha. Minharainha. Ainda. Aí. Vinha. Sina. Sinta...
- Quicada atrás de quicada. Rola gostosa. Me bate, me acerta, me amarra, me larga, me cobre, me devora com a língua banhada da minha enseada. Meu mar de sereia danada tão sua na loucura em espiral da nossa jornada. Mais e mais, esquecida da paz, do pão, do chão, do céu ou do cais. MAIS! Nessa dança, nesse jeito, nessa carne, nesse canto, nesse embalo, cada espasmos, cada encaixe, cada forma, cada fonte, cada lava. Ali. Por fim. Nesse sem fim.
- Ai de mim, que a prosa se mostrou tão poderosa que nunca mais pode ser acabada. Floriu a rosa, perfumou minha imaginação alada. Estou agora com toda a percepção entregue à sua magnificidade encantada.
(Ela sorriu) - É meu absinto. Te roubar esse desejo caudaloso. É a fresta que eu preciso... (e partiu deixando labaredas de sorriso).
2 comentários:
Uaauu
Uai que texto incrível!
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