segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Vale a pena ter um cachorro?

 


Eu sempre quis ter um cachorro.

A vida inteira eu quis ter um cachorro.

Talvez por influência desses filmes americanos sessão da tarde em que um garoto e seu cachorro são parceiros de aventuras. Talvez porque meus pais sempre frisaram como cachorro para eles era apenas um bicho e não iríamos ter um cachorro em um pequeno apartamento. Talvez porque eu goste de bichos de modo geral. Enfim, sempre quis.

Quando meu pai mudou de casa no final de 2006 e ficamos Débora, Guto e eu, imediatamente concordamos que iríamos ter um cachorro.

No começo de 2007, adotamos o Raul que em menos de 2 meses morreu de cinomose. Era um filhote de vira lata na zoonose. Lembro da alegria e da esperteza dele como se fosse ontem. Um mês depois, o PT me deu o Marley.

A Pepita, cachorra dos pais dele, que já tava velha, deu uma cria inesperada. Só o Marley viveu. E como viveu. 14 anos e meio. Cabia na palma da minha mão quando chegou. Não cabe no meu coração de tão grande agora.

O maior cabeça dura que esse universo conheceu. Um companheiro fosse um filhote feliz, fosse um velho rabugento. Entre cirurgias, adaptações, passeios e viagens, um pedaço de uma vida da gente que ele docilmente representava. O mundo passou, as crianças chegaram, tudo de cabeça pra baixo, mas o Marley tava sempre lá feliz com a nossa chegada. Amor num nível perfeito demais para a humanidade conseguir engendrar.

Hoje passeei com a Mel, minha outra cachorra. O primeiro sem o Marley, não teve um passo, nem um olhar que não o procurasse. É como se um pedaço de mim não estivesse mais ao meu alcance. A alegria que resta é a saudade que dói tanto. Eu tenho isso em mim com meu pai todo dia. Agora tenho comigo mesmo. Eu tive o cachorro que eu sempre quis ter e foi melhor do que eu poderia querer, porque ele foi ele sendo eu em mim, na Ana, no João, na Dé, no Guto, na Jônia, nos outros cachorros, em todo mundo que ele latiu quando entrou na minha casa. Mas agora eu não tenho mais o Marley pra me defender. Eu não tenho mais ele pra pegar no colo pra ele parar de latir, pra dizer "Marley, vai pra sua cama". Meu bebê. Meu papai. É realmente um lance muito louco. Muito.

Ou seja, vale a pena demais. 


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