domingo, 19 de junho de 2022

Três vezes olhei para o Nada



 Três vezes olhei para o Nada

Ali da minha sacada

Exausto de tanta jornada

E bem sabia que só o mal me esperava

A angústia lhe devorava

Tal qual um rio caudaloso de lava

Nem o pó restaria da empreitada

Mas ele se destacara daquela manada

Se desatara da forma como dava

Mesmo deixando toda a gente tão brava

Quando o cravo na ferradura crava

Não era no Nada em que ele pensava

Mas agora já estava ali defronte

Eclipsava todo e qualquer horizonte

E por mais histórias que um poeta conte

Ele sabe quando a poesia morre

Falta

Nada o socorre

Nenhuma rima salta

Mesmo se artista é gente incauta

Nem tudo se resolve com porre

Com porra

Com pira

Compasso

Se paro

Se pulo

Ouso

Pululo

Estouro

Mas não vem

Não veem

Ninguém

Para levá-lo além

De fazer rimar o querer-bem

Que todos sabem não tem hífen

Mas para o Nada mesmo assim está tudo bem

Pois a obliteração total e absoluta da inspiração é só a anunciação

De que

Estamos

Assim

Aquém

Sem fim

Só nada...

 

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