(Certo dia, ele resolveu beber a vida. A vida nunca foi sua bebida preferida. Começava doce.. mas sempre amargava no final. Tirou a tampa.. colocou no copo.. rodopiou-a enquanto a olhava e a vida olhou de volta.. nissou surgiu alguém, que já tivera nome, mas hoje preferia ser alguém qualquer, mais que ninguém e com um não ser que só sabe ser a mulher..)
- O que está bebendo?
- Você poderia dizer "o de sempre.."
- "O de sempre" hoje em dia eu prefiro com gelo.
- Eu sempre prefiro puro..
- Certas coisas nunca mudam.
- Tudo muda o tempo todo..
- Foi o que eu quis dizer. (ela disse antes de sentar ao lado dele ali no balcão..) Posso sentar?
(Ele olhou com seu melhor olhar de você já sentou..) - Claro. O bar não existe mais mesmo..
- Ouvi dizer. Então o que faz aqui?
- Estou bebendo.. sabe como é.. já sei foi o carnaval..
- Mais um. Agora o ano começa.
- Pois é.. mas eu não tenho pressa..
- Você nunca teve. Soube que passou num concurso.
- Passei.. pra professor substituto em Santa Maria..
- Parabens. Eu acho..
- Obrigado. Eu acho..
(Ele voltou a olhar o conteúdo do copo buscando melhor companhia..)
- Não adianta. Eu só vou quando eu quiser ir.
- Eu tinha esquecido..
- A maconha destruiu o seu cérebro. (e ela riu com deboche)
- Sei.. o que você quer afinal?
- Nada. Só resolvi dar uma passada.. ver esse seu corte novo de cabelo.. achei que você não ia cortar nunca.
- As coisas sempre mudam.. eu gostei dele um palmo mais curto..
- Pra mim ficou uma merda. (e ela acendeu um malboro light)
- Obrigado. Eu acho.. (e ele pensou se não era melhor tomar tudo de um só trago..)
- Disponha. (soprou a fumaça espeça como mármore) Você disse que gosta puro. Vai terminar o mestrado?
- Sim.. eventualmente.. em algum momento.. ao menos antes que ele acabe comigo..
- E como foi de viagem?
- Viajar é preciso. Viver..
- "Bem.. isso é uma longa conversa.. deixa eu apertar um enquanto falamos à respeito..." Você podia pelo menos mudar esses seus clichês. (e ela riu com desdém esnobe)
- Certas coisas nunca mudam.. e a viagem foi renovadora, algumas novas perspectivas, alguns redemoinhos de lama inescapáveis.. essas coisas..
- Claro, claro. Foi bom ver você.
- Gostaria de dizer o mesmo..
- Ah, mais uma coisa.
- Sim? (disse ele caindo na armadilha)
- Você sabe que eu acho essa história de metáforas vazias sobre a vida num blog ridículo né?
- Eu imaginei.. aliás estou imaginando..
- Pronto. Era isso. (ela levantou-se..) Até qualquer dia.
(Ele assistiu ela ir-se pelas ruínas do bar. Olhou mais uma vez para o copo onde a vida jazia sem gelo.. ao seu redor circulavam as quimeras de sempre, algumas novas e umas poucas ainda sem identificação.. daí tomouo tudo num gole só, limpou os lábios no antebraço, sentiu a queimação inicial no estômago e deixou-se embriagar, os sentidos se dobrarem ao entorpecimento e ver se pensava em algo mais sensual da próxima vez...)
6 comentários:
Gostei, considero muito interessante o teu texto. Um bom fim de semana.
mais uma vez bebeste vida com palavras;)
beijos
Eu sempre bebo a vida sabe, mas ela sempre é amarga no começo e doce no final.
;)
...
"- Tudo muda o tempo todo.."
E espero q continue assim!
Incrivel seu blog rapaz!
Em santa Maria não sei... mas em Porto Alegre chove por estes dias...Janelas chorando!
bjus!
Blog ridículo?
Que audácia!
Ridiculo foi quem falou que o blog é ridiculo...
Sempre me encanto com seus textos, entre um trecho e outro sempre fala algo que parece ter sido escrito para mim...
Agora vou saindo bebendo aquele gole que queima o estomago...
Beijos querido!
A vida né? Não é a melhor coisa que se pode imaginar mas não é bom deixá-la parada no copo.
Boa noite moço! Saus metáforas são lindas!
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