"O objetivo principal não é descobrir, mas refutar o que somos. (...) Não é libertar o indivíduo do Estado e de suas instituições, mas libertar-nos, nós, do Estado e do tipo de individualização que vai ligada a ele. É preciso promover novas formas de subjetividade..." Foucault
sexta-feira, 28 de dezembro de 2007
Fim de ano, Fortaleza ou Que venha 2008...
2007 vai acabando e eu descolei um computador para escrever minhas últimas elocubrações.. ando lendo bastante, muita praia, cerveja, festividades.. e daqui 36h zarpo pra Universo Paralelo..
Bom ano a todo mundo que aparece por aqui.. 2008 vai ser um ano de muitos começos.. vamos ver o que vem pela frente..
Vou aproveitar e colocar um testinho que andei lendo..
"Para haver arte, para haver alguma atividade e contemplação estética, é indispensável uma precondição fisiológica: a embriaguez. A suscetibilidade de toda máquina tem de ser primeiramente intensificada pela embriaguez: antes não se chega a nenhuma arte. Todos os tipos de embriaguez têm força para isso, por mais diversamente ocasionados que sejam; sobretudo a embriaguez da excitação sexual, a mais antiga e primordial forma de embriaguez. Assim também a embriaguez que sucede todos os grandes desejos, todos os afetos poderosos; a embriaguez da festa, da competição, do ato de bravura, da vitória, de todo movimento extremo; a embriaguez da crueldade; a embriaguez da destruição; a embriaguez sob certos influxos metereológicos, por exemplo, a embriaguez primaveril; ou sob influência de narcóticos; a embriaguez da vontade, por fim de uma vontade carregada e avolumada. - O essencial da embriaguez é o sentimento de acréscimo da energia e de plenitude. A partir desse sentimento o indivíduo dá às coisas, força-as a tomar de nós, violenta-as - este processo se chama idealizar. Livremo-nos aqui de um pré-conceito: idealizar não consiste, como ordinariamente se crê, em subtrair ou descontar o pequeno, o secundário. Decisivo é, isto sim, ressaltar enormemente os traços principais, de modo que os outros desapareçam."
Friedrich Nietzsche. Crepúsculo dos Ídolos, p. 67 e 68 da edição da Companhia das Letras, 2006.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2007
Coisas passadas ou melhor post de junho
Pelo andor da carruagem tô vendo que só vou terminar isso em janeiro.. risos
Tô viajando amanhã pra Fortaleza pra passar o Natal.. depois ano novo na Universo Paralelo e finalmente mais 15 dias em São Paulo... daí eu volto..
Se sentirem energias caledoscópicas, intensas e entrópicas energias lhe chegando, pode saber que sou eu a mandá-las...
Beijos e inté a tod@s...
Quando eu fico cansado...
Às vezes o tempo
Que segue comigo
Deixa de ser amigo
E vira turbilhão
Consome cada instante
Alheio aos meus desígnios
E me impele a ser frenético
Sem permitir que saboreie a construção
Dos passos, das vivências
Assoma de inclemência
Esse tal portifólio de Cronos
O Deus-titã
E passam trabalhos, provas, planos, seminários, qualificação
Mesmo que eu ache tempo pra almoçar com minha irmã
Que encontre o ponto certo da massagem no pé descalço
De dona Dé se espreguiçando no divã
Ainda assim o tal do tempo
Acha de me escorrer entre os dedos
Tirar-me da cama cedo
Onde havia deitado tarde
Ah engano ledo
O peso do a ser feito na carne arde
Faz os olhos vermelhos
E haja fumaça pra impelir a vida
Que eu não diria sofrida
Diria árdua
Sem querer diminuir as vitórias
Ou esvanecer as conquistas
Sem lamentar os frutos de minhas próprias investidas
E meus passos maiores que as pernas
Não suporto me esconder nas cavernas
Então não me cabe reclamar
Quando fico cansado de correr por tantas cercanias
Habitar tantas dívidas de aprendizagem
Esgotar os impulsos energéticos por toda a parte
Resta-me apenas cair na boemia
Que ao contrário dos reclamões
Alimenta minha vontade
Aumenta a inércia da sequência
Molha a goela e esfumaça as sinapses
E me faz sorver os loucos do meu dia-a-dia
O que seria de mim sem vocês?
Sem você, que não está em nenhuma parte?
Seria só um tronco seco
De esquecível particularidade
Prefiro ser um louco cansado e exaurido
Do que um descansado de boca escancarada
Cheia de dentes, esperando a morte chegar
Eu prefiro dançar com a morte
E aproveitar cada passo
Então vê se dá um tempo, ô tempo danado
E senta pra fumar um aqui comigo
Nessa encruzilhada nesse fim de tarde
Daí viverei de poesia
Cantarei às musas
E terei ainda mais energia
Para aflorar minha majestade...
segunda-feira, 17 de dezembro de 2007
Coisas passadas ou melhor post de junho...
Salve salve pessoas.. bom, estou recuperando esse como o primeiro post de junho.. risos.. (isso esmo, junho vai ter ais do que um.. estou quebrando as regras..), porque o nível tava muito alto.. este será o primeiro, porque inclusive tem a ver com o show do Infected que eu fui domingo e o clima Universo Paralelo que ando vivendo..
Trance...
"I´m under your spell
Like a man in a trance.."
Transe
Transo
Danço
E não canso
Ininterrupto vai e vem
Reverbera minhas sinapses
Reverbera e me faz bem
Entrópica concretude que me invade
Com ímpar alarde
Sempre cedo, nunca tarde
Me invade e me convém
Enxergo além das fronteiras
Das morais
Das rotinas
Dos vai-e-vem
Fico insano
Fico instigante
Fico pleno
Fico outrém
Sigo o trem das sete
E o das onze
E se deixar sigo além
Vou errando errante
Para o alto.. e avante
Para o sol
Para o mar
Até achar o big bang
Lá no nascer da realidade
O ponto nodal da entropia
Com toda minha imperiosidade
Cumprimento o artista
Rasgo os pés na pista
E falo nessa nova linguagem
De tempos oitavos
De barras
De compassos
E refaço os traços
Os mais tortos possíveis
Torno então, dizíveis, pulsões
Até então incompreensíveis
Vibro cada infinitezímal partícula
De minhas moléculas comprimidas
Faço parte e me redefino
Transcendendo a concretude insípida
Visto-me de gala
Com meus pés cheios de poeira
Ostento a cabeleira
Banhada pelo suor
Gozo para a brisa que me serpenteia
E morro no beijo mais doce
Que um explosão de dopanima pode oferecer
Daí vejo que o mundo é perfeito
Do seu jeito
Junto ao que trago no peito
E me deito
Suspirando satisfeito, enfim...
Em mim...
Assim...
Perfeito...
sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
Coisas passadas ou Melhor post de Maio...
Uma homenagem feita a uma certa moça...
Tomando a liberdade de publicar aqui um diálogo com uma fada, que encontro em cantos recôndidos de minhas sinapses...
Salve salve minha cara.. tão rara..
E nós nesse saara..
Envoltos por essa coisa amarga..
Me cansa incolor bestialidade dos ordeiros..
São como cinzeiros..
A transbordar a carga..
"Quero deixar as janelas abertas
E deixar o equilíbrio ir embora
Cair como um saxofone na calçada
Amarrar um fio de cobre no pescoço"
Pois saibas minha dama..
Nesses momentos em que me instiga a chama
Da minha face desgovernada e insana
In sana..
Acompanhe bem a trama..
"Ascender o intervalo pelo filtro
Usar um extintor como lençol
Jogar polo aquático na cama
Ficar deslizando pelo teto"
São tantos os iluminados
E tão pouos os descaídos..
Ainda menos os assumidos..
Talvez isso faça desses lados mais bonitos
E nem por isso mais convictos
Oh não..
Pobres descaídos..
Os iluminados ordenam..
Enquanto somos o caos inerente ao sistema..
"Da nossa casa cega e medieval
Cantar canções em línguas estranhas
Retalhar as cortinas desarmadas
Com a faca surda que a fé sujou"
Por sorte há lua
Com esse cheio brilhar
E o sol, que ando a buscar
Pelo alvorecer da manhã
Hoje não há de falhar
Um rodopio amigo
De pensamentos contigo
Essas nossas colisões de instigância rara
Sempre inspirador saber de vicissitudes de avatares..
Desses seres alados e asas sangradas
Sagradas
Profanas
Marcadas..
"Desarmar os brinquedos indecentes
E a indecência pura dos retratos no salão
Vamos beber livros e mastigar tapetes
Catar pontas de cigarro nas paredes"
Agradecerei-te sempre pela singela companhia
Nessa caminhada imaginária
Solitária
Do dia a dia
Conhecida, pensada, resistida, mas nunca vencida
Sempre batalhas por travar
"Nunca se vence uma guerra lutando sozinho.. cê sabe que a gente precisa entrar em contato" já diria Don Raulzito
Enfim, és ombro amigo
Que carrego comigo
Digna de sussurros
"Abrir a geladeira e deixar o vento sair
Cuspir um dia qualquer no futuro
De quem já desapareceu
Deus.. Deus.. somos todos ateus"
Que lhe andem temperados os sabores
E brilhem os depositários de seus olhares
Afortunados de tamanha sorte
Dessa sua magnificência forte
Não só nos cortes
E nos fados
Mas nos bordados
Nas pegadas guardadas..
Nos olhos brilhosos
E nas curtas madeixas..
"Vamos cortar o cabelo do príncipe
E entregá-lo a um Deus plebeu
E depois do começo
O que vier vai começar a ser o fim"
Enfim..
És sempre bem vinda em meu esfumaçado mundo..
Espero que não te importes de fazer de todos, o que era só teu...
Hei sempre de recompensá-la
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
Vivo ou Vou sim...
Nem sempre altivo
Tantas vezes nocivo
Vivo?
Vivo
Um tanto expressivo
Tão poucas decisivo
Vivo?..
Vivo
Viro
Vidro
Livro
Crivo
Quase lascivo
Nesse mundo massivo
Contido
Contudo
Com tudo
Contigo
Consigo
Sigo
Vivo
Vi
E vôo
Vou-me
Vivaz
Como lá atrás
Vem
Viver
E ver
Voar
Vivos...
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
Coisas passadas ou Melhor post de abril...
Salve salve nobilíssimas pessoas.. pois eis que chego à melhor postagem de abril.. tinha 3 pra escolher e já foram 3 de peso.. uma sobre o roubo do meu carro (que veio a ser recuperado) e outra sobre minha ida ao show do Roger Waters, que indubitavelmente foi o melhor show que já fui em minha modesta vidinha.. ainda assim, preferi escolher esta aqui.. sobre minha primeira aula.. até pra agregar umas boas energias sabe.. enfim, vamos lá então..
Minha Primeira Aula
Pois é... não é que aconteceu... confesso que uma pequena parte de mim já temia que isso nunca se concretizasse... ONTEM EU LECIONEI PELA PRIMEIRA VEZ... super bonito lecionar... risos
Sabe, desde a 6a série, quando eu resolvi que queria mexer com História, eu também já queria ser professor.. não sei se por tanto meu pai, quanto minha mãe terem sido professores (à essa altura nenhum dos dois era mais.. minha mãe já era jornalista e meu pai tinha se embrenhado no mundo da política.. trabalhava no gabinete do Magela, então deputado distrital..) mas eu achava lindo ser professor.. ensinar.. potencializar as mentes daquele monte de gente inquieta ali na frente. Tanto que eu até já tive vontade de ser professor de outras coisas... mas a história foi uma grande jornada pra mim e hoje acho que ensiná-la é o que eu faria (faço.. risos) de melhor..Pois bem, ontem tava numa ansiedade inenarrável.. peguei o carro, depois de almoçar apressadamente e dirigi os 40km até Santa Maria.. ô lugar longe.. e grande.. risos.. até a Paróquia São Francisco, pois o cursinho comunitário funciona em um galpão da Igreja.. é organizado por uma ong, a DEBATER.. e coordenado pela Betânia, uma mulher super gente boa por sinal.. cheguei lá e ainda não tinha ninguém.. o pessoal vai chegando aos poucos.. são uns 40 alunos sabe, mas na verdade tem uns 50 e poucos matriculados.. pessoal bem tranquilo e simples.. mas calma, eu chego lá.. risos
Enfim.. passei a matéria no quadro (conceitos de história e Grécia).. eu tinha duas aulas seguidas... tinha que me apresentar, introduzir os conceitos de história e dar Grécia inteira.. cursinho é foda.. ai ai.. mas enfim.. me apresentei, quando o pessoal já era suficiente e comecei a conversar.. falei sobre mim, sobre minha vida e sobre como era um prazer enorme estar lá, porque era minha 1a vez.. ai ai.. amo as primeiras vezes sabe.. elas são sempre formadoras de parâmetros.. extasiantes.. memoráveis.. e essa não ficou atrás.. pois então.. depois comecei a falar da minha experiência com vestibular e com a História.. sobre como era importante eles lerem, acreditarem neles mesmos, correrem atrás das coisas.. e fui falando, falando.. eu falo demais às vezes, desimbesto mesmo.. risos.. depois pedi pra cada um deles se apresentar e me dizer que curso queria fazer.. daí falei o que conhecia do curso.. as perspectivas de mercado.. as notas de corte.. essas coisas.. e foi tão.. tão.. tão legal.. acabei invadindo até o começo da aula seguinte.. risos.. e nem falei da Grécia.. mas de boa, fica pra próxima aula.. 5a que vem...
O pessoal, me apreceu, gostou.. é uma turma de bastante gente já mais velha, são poucos os de 18 ou 19.. só uns 5 ou 6.. tem mais gente entre 24 e 28 anos.. uns 30 ou 32.. e tem um pessoal mais velho com mais de 30 anos.. todo mundo estudando pro vestibular, enem, concurso e afins.. tentando né.. incentivei, falei que tentar é sempre necessário.. a maioria tem filhos, casados e tem pouquíssimo tempo pra estudar.. falei que aprender é o tempo todo.. e que por exemplo, a vida deles até ali, já tinha ensinado uma enormidade de coisas pra eles.. e que o que eles eram.. a História deles, não perdia em nada pra da Grécia, por exemplo.. risos
Tem gente que quer biologia, direito, arquivologia, administração, pedagogia.. até medicina, tem um corajoso lá que quer.. troquei uma boa idéia com ele por sinal..
Enfim, estou tão feliz.. exultante é uma boa palavra.. hoje eu posso falar.. sou professor.. uma identidade com a qual sempre sonhei e que labutei pra ter.. pois taí.. hoje sou o Professor Jorge.. além do Salve Jorge.. do Cabeludo Jorge.. do Maconheiro Jorge.. do Descansado Jorge.. do Tranquilo Jorge.. do Apaixonado Jorge.. do Questionador Jorge.. do Estudante Jorge.. do Boêmio Jorge.. Do Rpgista Jorge.. além de tantos Jorges, hoje eu sou o PROFESSOR JORGE..
E tem gente que diz que sonhar não vale a pena..Se vale.. e concretizá-los então.. ê mundo véio sem portera... deixa eu ir seguir o meu caminho.. (olha pro céu e sorri, já acendendo um pra pitá...)
quinta-feira, 6 de dezembro de 2007
Coisas passadas ou O melhor post de março...
À quem faz falta...
Aos que vivem nas minhas pegadas
Alicerces primordiais de minha caminhada
Vocês que me deram tanto, sem esperar nada
Cantando comigo pela jornada
Glorifico cada momento
Em que estiveram comigo
Enquanto esmero-me em não perdê-los para o tempo
Dobro-o com afinco
Busco-os em meus pensamentos
Nós abraçados sob um firmamento
Pinkfloydiando por aí...
Sejam piscianas loucas, unívocas de tão magníficas
Ou um simples baixinho, companheiro por todo e qualquer espaço
Mesmo que já não sejam o que foram
Ainda abraço o que são, lhes esbofeteando qualquer autoridade
Sobrevivi convosco a tanto horror, iniqüidade
Que poderia tudo explodir
Mas sei que lá nas entranhas
Temos apenas 19 anos, a nos embriagar por aí...
Ainda me visto de saudade
E corro contra a estrutura
Cioso de vossas presenças
E com esperanças futuras
Que se não há o que foi.. é pelo que foi que há..
A caminhada sempre segue
Mas é bom tê-los imaginários comigo
Reconfortam meu abrigo
Acampados em minha mente
Louvados sejam, Deuses de minha mutação
Se não criadores de meu universo
Responsáveis pelo seu sabor instigante
E, mesmo quando distantes, meus incansáveis campeões
Que vendamos havaianas na China
Ou simplesmente bebamos a vida
Com essa amizade de fina maestria....
segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
Coisas passadas ou Melhor post de Fevereiro
Resolvi então, no clima de fim de ano, eleger e apresentar as melhores ou mais significativas postagens de cada mês. Como todo bom historiador, afinal de contas, dou o devido valor ao passado... assim sendo, aqui está o de fevereiro, que foi inclusive o primeiro mesmo...
COMO COMEÇAR
Sempre são saborosos os começos..
Talvez excitante seja uma palavra melhor..
Há um misto de receio e expectativa, que quando vistos em retrospectiva tornam os começos marcos memoráveis...
Ainda que, na verdade, não tenham nada de marcos, apenas de marcantes.. reconstruídos sincronicamente e esvaziados da diacrônia que os definia como começos...
Vivi muitos começos e vivo tantos outros...
Este é mais um.. alheio a qualquer um e significativo apenas para mim.. um espaço virtual para conter minhas delirantes idéias...
Então por onde começar?
Mas já não está começado?
Em que ponto deixa o momento inicial de ser começo?
Começo a pensar ser muito fugidio esse tal começo...
Já dizia o Renato Russo "E depois do começo, o que vier vai começar a ser o fim.."
Não temo os fins, mas sempre fico saudoso dos começos... sou meio escravo da memória.. não um escravo passivo.. um daqueles que resistem em suas pequenas lutas cotidianas.. mas ainda assim escravo..
Saudoso do começo da faculdade.. tantos amigos.. tantos grandiosos amigos..
Saudoso do começo do amor.. daquela batida desritmada e arfante no peito...
Saudoso do começo da vida, onde responsabilidade era não tê-las...
Feliz eu fico de saber, que ainda vou vivendo muitos começos dos quais irei saudoso saudar à posteriori por saboreá-los da melhor maneira que posso...
Assim sendo, creio que começamos bem.. não acha?
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
Um pouco de crítica ou Festival de Brasília do Cinema Brasileiro...
Minha mãe, Dona Maria do Rosário Caetano, é uma apaixonada e fanática pelo festival. Há uma matéria inclusive chamando-a de "Senhora Festival", para terem uma idéia da adoração dela pelo dito. Pois além de coordenar os debates dos filmes da mostra principal (o que implica em ver todos os 6 longas e os 12 curtas), ser jurada da mostra de filmes de Brasília, lançar livros, escrever matérias pros jornais (minha mãe é jornalista, especializada em cinema latino-americano..), ela aproveita para ver os filhos (eu e meu irmão..). É claro que ficamos correndo atrás dela, tentando vê-la nos interstícios da correria.
De qualquer forma, isso foi apenas para chegar ao ponto de que, o que minha mãe realmente faz questão, é que vejamos o festival.. Assim sendo, vi todos os filmes.. religiosamente. O Festival daqui é bastante renomado Brasil afora na área cinematográfica.. notório pela dimensão crítica, pela platéia politizada e participativa, pelos debates, pelos filmes inéditos, entre outras coisas. Esse já é o 14o festival que acompanho.. da minha mãe deve ser o 30o, no mínimo.. risos
Enfim, resolvi fazer uma pequena e modesta análise do festival, principalmente depois do resultado decepcionante da premiação ontem.
Vamos lá então... irei primeiro tecer considerações sobre os filmes e depois sobre a premiação...
Na terça passada, o festival foi aberto com dois filmes (que não concorrem).. um curta e um longa, ambos recuperados pela tecnologia.. "Brinquedo Popular do Nordeste" de Pedro Jorge de Castro e "Proezas de Satanásna Vila do Leva e Trás" de Paulo Gil Soares. O primeiro era um documentário curto sobre o artesanato nordestino.. bem legal.. o segundo, um filme analisando a invasão do "capetalismo" numa pequena vila brasileira. Essa foi a definição de um dos atores do filme, que é de 67, salvo engano. A história é cheia de simbolismo.. após encontrar um poço de petróleo, envoltos em professias oníricas, os cidadãos principais.. (um cego, um aleijado e um anão) são envolvidos pelo profano avanço da força do mal (diabo / capitalismo).. o filme vai ficando muito empolgado com essa idéia.. um tanto tresloucado pro meu gosto.. mas certamente interessante..
Na quarta, dia 21/11, no célebre Cine Brasília, foi a vez da mostra competitiva. O curta "Um ridículo em Amsterdã" de Diego Gozze, era uma narrativa baseada em fatos realmente acontecidos com o protagonista. Ele ganhou uma passagem de avião para Amsterdã em uma festa numa empresa de viagem onde trabalhava por estar usando a roupa mais ridícula (era uma festa do ridículo..). Em cima disso, o diretor explora o desconforto do papel que cabe ao protagonista nessa história e sua apropriação "involuntária" pelo discurso que o quer expor... eu gostei, como disse pro Thiago meu amigo, por não ter gostado.. pois não era um filme para se gostar, mas um filme para incomodar..
O segundo curta da noite, "Espalhadas pelo ar" de Vera Egito, certamente foi o mais sensível e delicado do festival. A história falava de uma mulher, um tanto esquecida dos sabores da vida, que ao deparar-se com um grupo de meninas de seu prédio, que fumavam cigarro no fim da escadaria do prédio, sem as roupas (pra não ficar o cheiro). Desse contato nasce um diálogo que fará ela aperceber-se de seus anseios, de seus sonhos... um filme para se gostar e dar um gosto (nicotinado) de liberdade..
O longa metragem, "Amigos de risco", do pernambucano Daniel Bandeira, era não só o filme de estréia do festival, como do diretor. Um filme de baixíssimo custo, compensou isso com um roteiro intenso e muita garra. Ele conta a história de dois amigos no Recife, que deparam-se com o surgimento de Joca, um amigo problema que sumira pro Rio de Janeiro fugido dos problemas.. voltou tão subitamente quanto partira, quase como uma luz no fim do tunel da boemia para resgatar os dois companheiros do tédio do labor e do cotidiano.. arrasta-os em plena 4a feira pruma noitada, regada a cerveja, petiscos e muito mais.. essa amizade saudosa vai se revelando povoada por tensões e riscos. Joca escondia muitos segredos e aquela amizade já não era a mesma.. eles não eram os mesmos.. ao contrário de Joca, os dois não fugiram, mas pagaram o preço de seus erros.. um endividara-se com um agiota e perdera tudo, o outro acabara de ser largado pela esposa. O problema é que no justo momento de conflito, em que a poeira assoma sobre o tapete, há uma reviravolta.. Joca passa mal após cheirar pó com um puta no quarto.. daí em diante.. ininterruptos problemas.. sem carro, sem comunicação, com o transporte público de greve, sozinhos na madrugada, eles passam a arrastar o corpo inerte de Joca na tentativa de levá-lo a um hospital.. e se deparam com todo o tipo de problemas.. polícia, trombadinhas, falhas de comunicação, a greve dos ônibus, o peso do corpo.. como eu disse antes.. quase "Um morto muito louco" em Recife.. risos.. um filme interessante, com uma história pra contar.. nada sensacional, mas com algo a dizer sobre amizade...
Na quinta feira foi a vez do curta "Café com Leite" de Daniel Ribeiro.. um filme politicamente correto, sobre um casal gay que tem de lidar com o irmão de um deles, criança ainda, após a morte dos pais. Fora isso, não é nada de mais...
O segundo curta, "Décimo Segundo" de Leonardo Lacca, foi o primeiro filme vaiado do festival. O filme trás sua força do silêncio.. um silêncio ensurdecedor.. incomodou a todos, logo foi vaiado.. muitas vezes as pessoas não sabem o valor de um incômodo.. é mais cômodo ser confortável.. O filme narra o encontro entre um casal no apartamento dela. Há um abismo onde antes já houve uma ponte e cada ínfimo detalhe é explorado para escancarar a ausência do que já houve e a inabilidade dos dois em lidar com isso...
O longa foi "Meu Mundo em Perigo" de José Eduardo Belmonte, diretor insurgente e afamado desde "A Concepção".. o filme foi muito bem recebido, mas confesso que não me envolveu. Enxerguei vários dos méritos, mas ainda assim, não me identifiquei e comprei os personagens.. a história é sobre um homem que vê seu mundo ruir com a perda do filho para a ex-mulher, supostamente (segundo ele) louca. No entanto, é ele quem alija-se da sanidade nesse processo, que culmina com o atropelamento de um velho bêbado na noite da perda. Daí ele acaba por refugiar-se num hotel, à cata de uma garota falsamente muda. O mundo de ambos dialoga e ele tem uma impressão de entendimento nesse encontro.. ainda assim, o mundo lá fora seguia e viria cobrar seu preço. Interessante, mas não envolvente...
A sexta começou com o curta "O Presidente dos Estado Unidos" de Camilo Cavalcante. Um filme falsamente bem-humorado, sobre as psicoses esquizofrênicas de um homem que perde-se na mesma loucura de George W. Bush. A loucura cobra o preço do sangue da inocente esposa...
O segundo curta foi "Uma" de Nara Riella.. a Nara é amiga da Dé e formada em cinema aqui na UnB. Fala sobre o surtar de uma mulher ante o peso de sua vida insípida. Ela reverte as lágrimas, mas não converteu meu gosto... tinha algo a dizer, mas não o disse como poderia...
O longa foi "Cleópatra" de Júlio Bressane. O filme contou com elenco global (Alessandra Negrini, Miguel Falabella, Bruno Garcia...) e era esperado com muita espectativa. Bressane é notório por seus filmes "rebuscados" e iniciou a apresentção pedindo paciência com o filme. Logo vi que coisa boa não viria... para mim foi o PIOR filme do festival, anos luz à frente do segundo pior. Ele propôs construir uma visão lírica em língua portuguesa da vida da afamada rainha do Egito. Mesmo contando com ampla pesquisa e bons recursos, o filme perdeu-se no ego do diretor que acredita ser dever da platéia ter a "grandeza" de entender seu discurso empavoado. O filme foi vaiado intensamente após perder-se num delírio estético.. nem dá a ler sua personagem, nem captura os espectadores em sua trama. O saldo de Cleópatra é muita verborragia, muita técnica, muito ego e pouco público (só não digo nenhum público, porque tem umas vedetes que crêem haver ali poesia.. mas enfim, tem gosto pra tudo..).
O sábado começou com "A Enciclopédia do Inusitado e do Irracional" de Cibelle Amaral, um curta bem humorado em preto-e-branco sobre o monstro que existe em todos nós e como ele pode acabar conosco. Conta a história de um faxineiro que é demitido da biblioteca onde sempre trabalhou e tenta se vingar da responsável virando um monstro rato bem de araque.. risos. Engraçado..
O curta seguinte foi "Trópico das Cabras" de Fernando Coimbra, com excelentes imagens, fotografia e uma história que narra um casal em busca de se encontrar. Vêem a solução numa viagem pelas estradas do Brasil. Enquanto se buscam, ele assiste à volúpia dela com alheios. Ao fim, os caminhos seguem para os mesmos descaminhos, sem que pouco fique, assim como pouco muda.
O longa metragem, "Falsa Loura" de Carlos Reichenbach, conta a história de uma operária que acaba aliciada para ser "acompanhante", vítima de sua beleza e seus ímpetos. Fui surpreendido por esperar o pior, depois de ter visto "Garotas do ABC", do mesmo diretor e com temática contígua. Esse foi bem melhor.. o que não significa bom necessariamente.. risos. Ainda assim, tem momentos muito engraçados.
No domingo, o festival foi agraciado com "Tarabatara" de Julia Zakia.. um documentário sobre ciganos. O filme menos interessante do festival ao meu ver...
O curta seguinte foi "Eu Sou Assim - Wilson Batista" de Luiz Guimarães de Castro, um excelente documentário sobre a vida desse genial sambista. Irreverente e bem construído, ele passeia pela vida do personagem com musicalidade e cadência.
A seguir, o longa "Chega de Saudade" de Laís Bodanzky, mesma diretora do genial "Bicho de 7 Cabeças", para mim o MELHOR filme do festival. Ele gira em torno de um baile, desses pra 3a idade.. no melhor estilo "Short Cuts".. sem protagonista.. apenas uma pluralidade de histórias enlaçadas num mesmo balaio.. todas com seus pequenos conflitos, querelas íntimas e extremamente pessoais.. tão pessoais que nos envolvem, nos perpassam, nos prendem.. ao contrário de certos filmes "artísticos" e "vanguardistas" sabe...
Enfim, na segunda feira foi a vez de "Busólogos" de Cristina Muller, um excelente documentário sobre um grupo de vidrados em.. ônibus. Como eu já disse aqui... tem gosto pra tudo.
O segundo curta "Eu personagem" de Zepedro Gollo foi algo experimentalista sobre uma lombra de drogas nas viagens de consciência do personagem / autor que conta e viaja pela história. Parece melhor do que é.. risos
O longa metragem foi "Anabazys" de Paloma Rocha e Joel Pizzini, um documentário sobre Glauber Rocha e a construção de "A Idade da Terra" seu último filme. Através da análise do processo criativo e da construção da obra, o filme expõe a instigante figura do pai do cinema novo. Gláuber é recuperado em seu pioneirismo, (Ele sim) em seu vanguardismo e sua genialidade.
Ontem, terça feira, o festival teve seu encerramento. Foi exibido o longa "Dezesperato" de Sérgio Bernardes, também um filme recuperado e que não concorria.
A premiação culminou com a consagração de Cleópatra como grande vencedor do prêmio de Melhor Filme do júri.. restando a Laís e seu filme, os de melhor direção e prêmio do público. Eu sei que a vida não é justa e naõ seria um juri de festival que romperia com isso, mas infelizmente me parece que falta sensibilidade aos julgadores de perceber a necessidade do diálogo entre um obra e seus consumidores / produtores. Bressane e seu filme foram incapazes de se fazer palatáveis, sequer tinha um salzinho básico... nada precisa ser incompreensível para ser inteligente. Só existe inteligência no entendimento, na compreensão. Não há "orgasmo estético" (como definido por uma atriz no debate do filme) que seja válido, se só goza o diretor.. cinema e sexo dependem da conjunção das partes.. Bressane caminha, como sua Cleopatra, para um ostracismo recluso e apoteótico despojado de alicerces.. Laís caminha para fazer as pessoas perceberem que a arte está em toda parte, que ser de vanguarda não é privar a todos da arte, mas sim explicitar a arte de cada um, de cada pormenor, de cada momento singular e pequeno..
Assim sendo, à despeito dos prêmios, sabemos quem venceu...
É isso.. putz, ficou grande.. se você chegou aqui.. obrigado pela paciência e até o próximo festival...
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
Erro ou oito deitado...
Muitas vezes é o desterro
Outras tantas, a desilusão
Imprecisa percepção
De que os sonhos se desfazem
Que os brilhos são fulgazes
Que as chuvas são menores que a estiagem
Erros costumazes
Que errar presse aqui é profissão
Os erros saem pelo ladrão
E se acumulam pelo chão
Espoçados num lago imenso
Tudo por eu ser propenso
E teimar que ainda venço
No fim da procissão
Quando isso me desanima
Solapa minha estima
E eu acordo desolado
Achando o mundo insípido
E os cotornos todos quadrados
Desejoso de um mar límpido
Um refúgio para mergulhar
Onde possa me recuperar
Para seguir com a caminhada
Expandir minhas asas sangradas
E mais uma vez cantar
Nas notas destoantes costumeiras
Sobre a profundidade do abismo
Já que sigo sempre pela beira
Me equilibrando nos interstícios
E saboreando cada vício
Que eu rio
E vejo a besteira
De cansar do desafio
Pois descançar é bobeira
Viajar é preciso
O resto é conseqüência
Por isso não tenha clemência
De me atiçar a indolência
Quando eu estiver indeciso...
sexta-feira, 16 de novembro de 2007
Dano ou Estar...
- Decidi escrever-te porque não mais aguentava pensar em você, precisava expulsar esses pensamentos de mim para o papel, para fora de mim, para algo alheio a nós dois...
(Ele parou. Levantou-se e deu três passos longos. Chegou até o som e ligou-o e apenas deixou tocar o cd que por lá já estava..)
- "The lunatic is on the grass.. the lunatic is on the grass.. remembering games and daisy chains and laughs.. got to keep the loonies on the path..."
(Tomou a taça na mão esquerda e tornou à leitura manual..)
- Muitas, tantas, inúmeras vezes as palavras me assaltam, me corroem, me impelem e dobram minha vontade com todo esse potencial limitante de percepções. Não me entenda mal, o problema não é você.. nunca foi.. nunca será. O problema sou eu.. sempre foi.. sempre será. É essa maldita besta insaciável que vive em meu íntimo, desejosa de banquetes apoteóticos a todo instante e desavergonhada de pedir, ainda assim, um 'teco' de qualquer lanche de outrém que lhe passe pela vista...
"The lunatic is in the hall.. the lunatics are in my hall.. the paper holds theirs folded faces to the floor.. and every day the paper boy brings more..."
(O papel ainda tinha o perfume dela. Era sempre inebriante e instigante aquele perfume, que para ele tinha um certo cheiro de kinder ovo.. ao mesmo tempo que conseguia invadir suas narinas, penetrar escorregadio pelo seu íntimo e atiçar suas partes. Bebeu vinho..)
- Por isso cheguei até você. Por isso preciso seguir o meu caminho. Sei que deve doer muito ler o que estou dizendo, mas tenho de ir para não me perder. Ficar seria dar algo de mim, que uma vez dado, me fará uma falta suprema. Não taxe-me de egoísta.. não que eu não seja.. sou sim, por escolha, inclusive.. mas não uma egoísta qualquer, sou egoísta pelo bem do equilíbrio universal. Posso jurar meu amor, mas não posso trair a mim mesma. Você que bebeu do melhor e do pior de mim, não irá querer ficar para ver o vinho tornar-se vinagre...
"And if the dam breaks open many years too soon.. and if there is no room upon the hill.. and if your head explodes with dark forebodings too.. I'll see you on the dark side of the moon..."
(O vinho já não desceu tão doce. Ele afastou a taça amarga, que agora mais parecia um réles copo de requeijão. Tateou o cinzeiro e retirou de lá uma ponta sobrevivente.. deixou a carta e acendeu-a. Deu uma longa tragada e a prendeu dentro de si, apenas para sentir a fumaça castigar seus pulmões. Não queria sentir nada de bom naquele momento..)
- Houveram tantos antes de você. Haverão muitos ainda.. eu espero.. pelo menos é como sempre tem funcionado. Mas nenhum como você. Como sei que nunca encontrará ninguém como eu. Não por sermos especiais. Simplesmente por sermos humanos. Demasiado humanos. Incomensuravelmente humanos.. mundanos.. fulanos e ciclanos...
"The lunatic is in my head.. the lunatic is in my head.. you raise the blade, you make the change.. you rearrange me untill I'm sane..."
(Soltou a fumaça, que já era quase ar. Seus sentidos inclinaram-se um pouco, mesmo que o mundo permanecesse na escuridão de sempre. Um mundo sem cores, sem curvas, ângulos e entalhes. Um relógio para ele era muito mais um tic-tac constante, do que um círculo numérico e cíclico. Uma carta era pra ele um ato quase sexual de desvendar um corpo com seu arguto tato.. e ela sabia muito bem disso...)
- Eu queria ter o direito de te dizer que sou sua. Mas seria mentira. E não que eu não minta.. minto o tempo todo.. mas seria leviano lhe retribuir dessa forma, seria como cuspir nos seus óculos. Um dia já acreditei que podíamos ter as pessoas.. hoje sei que podemos estar com elas e nada mais. E estar com você foi profanamente divino. Nunca ninguém me tocou como você. Muitos correram a mão pela minha carne, poucos pela minha alma.. nenhum antes, pelos meus medos. E sei que eu vi em você o que me ensinastes a ver de olhos fechados. Nosso retrato sempre ficará aqui guardado, num belo lugar do álbum, com menção honrosa.. entre o meu cão Gumercindo e um coleguinha de 2a série chama Leonardo Matias da Silveira que me roubou o primeiro beijo que tenho lembranças...
"You lock the door.. and throw away the key.. there's someone in my head but it's not me..."
(O baseado findou-se, já quase lhe queimando os dedos. Largou-o de volta no cinzeiro transbordante sobre a mesa de carvalho pintada de tinta acrílica branca.. o branco sempre tinha uma textura diferenciada das demais. Largou novamente a maldita carta da maldita dama com suas malditas palavras. Levantou-se e foi até a janela. Eram cinco passos médios. Parou esticou os braços e o batente estava lá como devia. Abriu-a. Sentiu a brisa da noite, desejoso de que ela trouxesse um perfume menos embriagante. Veio apenas o cheiro da fumaça suja da cidade.. da urina feita nas junções entre o prédio e a calçada.. o excremento de pombos que recobriam o telhado.. as damas da noite, que no parque ao longe, ondulavam ao sabor do vento.. pensou por onde estaria o mar...)
- Sendo assim, meu oráculo.. meu profeta.. meu apóstata.. meu espelho.. tenho de ir e já tendo ido, deixo este pedaço de mim transcrito para que nunca digas que não lhe dei nada. Sei sim que tanto recebi e tão pouco dei.. mas assim é a nossa natureza.. você é de dar, eu sou de receber.. e sou sedenta de muitas fontes.. sou como o mar, que precisa de muitos rios e da chuva e de sabe-se lá mais o que, para seguir em seu movimento de ir e vir. Quando nos encontrarmos novamente, sorria com carinho...
"And if the cloud bursts, thunder in your ear.. you shout and no one seems to hear..."
(Retirou as mãos do batente velho e já cheio de fissuras do tempo e levou-as até o cabideiro, ao lado, sempre ao lado, onde estava seu chapéu. Colocou-o sobre os cabelos longos como faria um gângster em um daqueles filmes antigos que ele nunca vira. Pegou o sobretudo, vestiu-o sentindo desde já o peso do que havia nos inúmeros bolsos.. caminhou os oito passos que o separavam da porta.. passos pequenos...)
- Ainda assim, sei que tens todo o direito de me odiar. Não o recrimino.. talvez ninguém me odeie mais do que eu mesma. Minha mãe sempre me dizia que eu era minha pior inimiga e não que eu devia tomar cuidado. Nunca fui do tipo cuidadosa mesmo. Mas que seja um ódio amável, ódio de querer arrancar-me do mundo e prender-me numa gaiola dourada, com boa água e alpiste da melhor qualidade. Certamente, seria a mais bela gaiola de minha vida. E, ainda assim, contigo lá.. com água.. alpiste.. conforto.. vinho, poesia e boa música.. ainda assim, não seria a liberdade. Perdoe minha vaidade e minha vã idade, mas tenho pés inquietos, asas sangradas e braços abertos para receber muitas flechadas...
"And if the band you're in starts playing different tunes.. I'll see you on the dark side of the moon..."
(Pegou a bengala que sempre ficava junto à porta. Girou a maçaneta. Olhou uma última vez para mesa, onde não mais jazia a carta, que chegara ao chão levada pelo vento que vinha da janela, como se pudesse vê-la. Suspirou uma longa desilusão. O corredor o esperava com a luz que se acendia sozinha. Pensou se deveria chorar. Acabou por sorrir o sorriso de quem já chorou demais. Fechou a porta atrás de si e foi-se adiante pela escuridão...)
- Por isso tenho de ir.. sozinha.. avante pela escuridão. Até qualquer dia, até um dia qualquer, onde talvez eu não parta, onde talvez você não fique, onde talvez eu suplique por estar farta de tanta tolice. Agora só sei que preciso ser tola e nada mais.. até outro dia.. meu amor tão fulgaz...
"I can't think of anything to say except... I think it's marvellous! HaHaHa!"
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
Azares provisórios ou Expandindo repertórios
Arduamente atribulados
É como se charfundar no cimento
Afundando a cada passo dado
Mas daí me reinvento
E ostento um brado
Pelo prado
Que aqui no cerrado
Ou você grita
Ou se mistura
À gente aflita
Que se acha tão bonita
Mas se farta na usura
Prefiro ser da gente impura
Mutante na compostura
Que cantarola uma poesia
E não exita em mudar de freguesia..
E nessa de ser errante
Vou expandindo meus repertórios
Deixando os achismos simplórios
E me entendendo com o discrepante
Porque no fim é tudo subjetivo
E meu novo objetivo
Não é mais saber de Aqueus, Jônios e Dórios
Ou dos anos da Revolução
Muito mais é expandir a percepção
E contar algumas histórias
Para que se assenhore de suas memórias
E saiba dar a ler o sabor de suas vitórias
Mesmo no caos deteriorante dos instantes
Vamos avante e errantes
Que cedo ou tarde virão as glórias..
Mas permita-me explicitar
O que vim explanar
Sobre os percauços dos dias
Os engarrafamentos nas vias
Que convergem ao meu caminhar
Porque pode ser só um computador quebrado
Que levou tudo que eu tinha fotografado
Nos últimos quatro anos de andança
Fosse um ENEH cheio de bonança
Ou algum dia fulgaz capturado
Mas teve coisa pior
Aqui pelo meu lado
De dimensão muito maior
O câncer do meu pai
Que derrubá-lo não vai
Já que é bem inicial
E dia 13 ele já arranca o mal
Que anda a crescer na próstata
Logo será um dodói apostata
Que nem lembraremos no carnaval
Tem ainda a Dé lá em Paracatu
Ralando pra ganhar tutu
Mas distante toda a semana
Duzentos km do planalto central
E do amor que de mim emana
Minha distante dama
Dona da minha chama..
Mas eu assovio e chupo cana
Que até sendo difícil
Viver é sensacional
E esses azares provisórios
Vão virar poeira nos meus passos
Poesia nos meus traços
Parâmetros comprobatórios
Afirmadores da firmeza de meu abraço
Da certeza incerta de cada pegada
Na vã aspiração que essa estrada
Mesmo que finde
Siga profanamente sagrada...
terça-feira, 6 de novembro de 2007
Bom na cama ou o fio da minha trama...
As "regras" são estas, Pessoas... nomear 5 bloggers (não exclusivamente do sexo oposto) que, pelas razões mais diversas, imaginem ser bons na cama. - Expliquem, em traços gerais, o que é, para vocês, a definição de "bom na cama".
Se quiserem desenvolver e explicar as vossas escolhas, parece-nos bem. - Deixar um comentário no blog dessa pessoa para que saiba que foi nomeada.
O ideal será escreverem: "Acho que és bom/ boa na cama. Desafio-te no meu blog...", mas poderão ser mais comedidos. Não podem ser nomeados:
- Os autores do desafio: Bad e Ervi. É claro que somos bons na cama, e por isso não podemos tirar a competitividade a isto.
- Pessoas que se conheçam pessoalmente. Este é apenas um exercício de imaginação.
Sobre ser bom na cama. Bem.. minha definição é que há duas grandes virtudes para ser BNC. Uma é a capacidade de harmonizar-se com a outra parte envolvida no ninho. Outra é fazer com que aquele local seja inesquecível. Pois bem.. posso exemplificar dizendo boas coisas minhas na cama..
Dormir de conchinha.. uma arte certamente..
Ser grande o suficiente para amparar o encaixe dos corpos com precisão..
Ser dedicado a fazer tremular avidamente o corpo sobre o colchão..
Ver o leito sempre sob novos ângulos e perspectivas..
Soprar um rosto suado..
Beijar com o nariz..
Ampliar os espaços..
Tomar a dama, pela cama, envolvê-la na trama e atiçar a chama, até que a vontade se derrama, por mais ela clama, enquanto ama e ama e ama e meu peito inflama...
Além disso, também leio, confabulo, sonho na cama.. para não parecer que sou perfeito (Afinal, longe disso né..) dou minhas roncadas e mecho-me bastante.. mas ainda assim, creio ser inigualável companhia..
Vamos aos indicados então...
Dona P - http://segundas-intencoes.blogspot.com/ - Além de ser comPlicada e Perfeitinha, com raro sabor, a dita é dona de um charme próprio de quem sabe tornar o leito, a perfeita intermitência entre o céu e o inferno..
Sininho - http://negraluna.blogspot.com/ - Devo a ela, muito do que aprendi..
Borboleta endiabrada - http://borboletaendiabrada.blogspot.com/ - Porque sortudos como o Miguel são poucos...
Dragoa - http://amar-gura.blogspot.com/ - Poruqe não há lugar onde ela não seja profanamente boa..
Meu querido - http://renuncia.blogspot.com/ - Porque se tem alguma fama que o precede é esta..
Enfim, aí estão os indicados.. irei avisálos como se deve e amanhã faço um texto sobre como andam as andanças e os vôos..
quarta-feira, 31 de outubro de 2007
Cassandra ou um cigarro...
Chamava-se Cassandra. E ali onde se refugiava, Cassandra era uma rainha. Fora dali era apenas Cassandra. Tinha um emprego mundano. Colegas apagados. Atribuições burocráticas. Espectativas insossas. Devaneios vãos.
Eu disse fútil? Perdo-me, quis dizer Cassandra, a grandiosa.. nã... não.. sinto muito.. eu.. euu.. a.. aahh...)
- Porco maldito e pretencioso. Deixe-me apenas prender o cabelo e abaixar esse barulho infernal. Maldito lugar quente. "Cassandra, a fútil".. ora vá pro inferno seu autorzinho de merda. E você aí, a concordar com isso, não é? Não pense que me engana.. sei como gente como você funciona.. fica daí do seu mundinho, concordando com o que é dado e simplificando toda a minha profundidade. Tudo bem, eu me chamo Cassandra.. mas já fui a preferida de Apolo.. a primeira entre suas sacerdotisas.. a maior profetisa.. filha de Príamo.. e veja só onde fui parar.. num bloguezinho de segunda categoria.. ao som de rock dos anos 70.. por favor.. à mercê de um pretenso fanfarrão de adjetivos. Eu era cantada pelos aedos.. depois pelos bardos.. e agora tenho de deixar a Terra das Quimeras para habitar esse conjunto de pouca significância. Esnobe eu? Por favor.. eu sou divina, ser ínfimo. Deveria ser eu a ler você fazendo tolices insignificantes no entremear de seus posicionamentos levianos. Hunf.. ao menos aqui posso fumar um cigarro.. ainda que tenha de tirar essa estupidez de filtro.. filtro.. filtram tudo e apreendem nada. Hunf.
- People are strange.. when you're a stranger, faces look ugly when you're alone.. women seem wicked, when you're unwanted, streets are uneven, when you're down.. When you're strange, faces come out of the rain.. when you're strange, no one remembers your name..
Eu já tive outros nomes. Assumi muitas roupagens. A gente tem de se virar pra sobreviver.. pelo menos sei que nunca vou morrer de câncer de pulmão. Um dia só não vão mais lembrar de mim.. niinguém vai mais me acionar e PUFT.. Cassandra, "a fútil", já não existe mais. Será bom poder ir perambular por outras cercanias.. claro que vou sentir saudades daqui. Não de vocês. Nem do dono de todo esse sangue malditamente gosmento e real. Vou sentir mais falta desse cigarro, posso te garantir. Desse prazer.. tão fulgaz, que é perfeito. É a ardência inigualável de matar algumas células. Elas explodem de prazer. Azar das que vão, sorte das que ficam. Nada como o prazer de capturar os desígnios da própria mortalidade.. isso é válido mesmo pra mim, com minha mortalidade muito mais complicada que a sua. Ahhhh, inferno... inferno.. inferno! Bom.. acho que está tudo resolvido por aqui e posso ir. Você também já devia ter voltado pra sua vidinha fútil... isso mesmo.. FÚTIL!!! F.. Ú.. T.. I.. L!!! Ei.. o que diabos.. larga isso.. nã.. e.. eu não quis dizer aquilo.. voc.. c.. a.. aahh... ...
...
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
Saudade ou Distância...
Envolto pela saudade
Padeço da ausência de tuas falas
Parece tão diminuta a cidade
Por mais que adormeça o cotidiano
Sedento da reciprocidade
Daquele momento mundano
Cujo sabor fulgaz
Era minha apoteóse
Curativa do dano
E mesmo da vicissitude mordaz
Melhor que qualquer dose
Ou que todos os tragos
Custurava os rasgos
Tão largos
Dos meus aceitos
Aquecia o leito
Pra tudo davas jeito
E eu aqui morrendo dessa saudade
Me parece até maldade
De algum diabrete
Ou outra entidade
Que não quer nos ver
Dividindo um sorvete
Caçando bobagens pra fazer
Ruim é não ter-te
É ruim pra valer
Um universo eu teria a verter
Pela dona desse mar
Ah, mar teimoso
Que insiste em se mandar
E me deixar aqui saudoso...
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
Ao aniversário do Capela ou Minha contribuição musical...
Bar de minha adoração
Que fundou-se bravia tradição
Fazer dali palco da música
Pra todo tipo de celebração
Para temperar as ebriedades
E também nossas seqüelas
Abriu as portas esse Capela
Templo das festividades
Há diversas formas de musicalidade
Nem que fosse na palma da mão
Fosse um samba de primeira
Em plena terça-feira
Com gente pelo ladrão
Ou ainda um arrasta pé danado
De deixar vizinho indignado
Enquanto ferve o Gonzagão
Sempre tinha Raulzito
Rock de todo tipo
Inclusive som esquisito
Que só ali pra se ouvir
Coisas difíceis de definir
Mas boa de puxar um pito
Mas vieram as leis e a burocracia
Dizer que ali não se permitiria
Esse tipo de anarquia
Que alvará e outras primazias
Iam acabar com a cantoria
E, vejam só, não haveria
Anarquia capaz de resistir
Mas com tanta loucura bela
Na parede do Capela
Imagina se a Jujuba ia desistir
Fez roda de samba, lançamento e festival
Aniversário, campeonato e concentração de Carnaval
Nunca deixou de insistir
Que a sonzera é fundamental
E por isso o Capela tem o caneco
Mesmo sem som cotidiano
De ser o grande buteco
Com o melhor som aqui do Plano...
segunda-feira, 22 de outubro de 2007
Pasárgada ou Meu reino encantado...
Foram iniciados os preparativos. Movidos os móveis, tirada a poeira, posicionado o som.. mas creio que cabem aqui enumerar as forças que se mobilizaram contra a concretização desse evento.
Primeiramente, já no dia, descobri no local onde havia reservado o som,q ue este por lá não se encontrava. Isso acabou sendo resolvido, graças ao surgimento do Júnior, que disponibilizou uma excelente caixa de som e um amplificador de 1a qualidade..
Seguiu-se uma correria frenética e uma falta de tempo intensa, já que chegar até os portais de Pasárgada era impreender jornada pelo espaço..
Mas quando tudo estava tão pronto, que mais não podia estar, ao mecher o mouse pra dar início À sonoridade, por dois meses preparada e mixada, que ressoaria por mais de 10 horas.. eis que o computador fez PUFT.. queimou a fonte..
Junto do Gordo, meu grande amigo e dono da chácara por onde se adentra Pasárgada, voltamos pra Brasília e com outra fonte em mãos, retornamos, já muito atrasado e com todos os meus convidados me esperando, para Pasárgada. Ao ligar a fonte, o computador funcionou malandramente por 2 minutos e PUFT.. deu pau de vez..
Sorte das sortes que eu estava munido do meu mp3, onde tinha todas as músicas da festa, mesmo que não na exata ordem.. mas fazer o que.. ligeui-o nas caixas e.. bem, esqueçamos os problemas e começos a falar da festa propriamente dita..
Quando tornei à Pasárgada, para minha comoção, fui recebido pelo espectantes convidados com palmas e parabens de fazerem retumbar o peito.. dei o jeito nas caixas da sonoridade e ponto os doidos pra saltar, passei à distribuição dos temperos de felicidade.. ainda que não tenham sido suficietnes para todos, temperaram e potencializaram os ânimos de pelo menos 40 insanos.. eu acredito que tenham passado por lá umas 60 cabeças desvirtuantes de realidades dadas..
A euforia foi intensa.. os movimentos eram frenéticos.. a satisfação era plena e catarse apoteótica de prazer enlouquecido era inconteste..
Enquanto a trilha sonora da insanidade seguia numa saraivada de Fatboy Slim, Maddona, Paul Oakenfold, Infected Mushroom, GMS, Rinkadink, Protoculture, Astrix, Pink Floyd, Joe Cocker, Jorge Ben (esse foi o meu auge ao som de Jorge de Capadócia.. risos, afinal sou libriano com gosto né..), Bob Dylan, Creedence, The Doors, Led Zeppelin, Beatles, Raul Seixas, Mutantes, Secos e Molhados, Hair, Jimmy Hendrix, Black Sabbath, Kiss, Dire Straits, Michael Jackson, Cazuza, Legião, Ultraje, Planet Hemp, Chico Science, Cordel do Fogo Encantado, Chico Buarque, Paulinho da Viola, Vinícius de Moraes.. e por aí foi.. até o sol nascente nos abençoar com suas boas energias..
Foram tant@s os bons loucos por lá, que nem ousarei listá-los todos, listarei apenas os librianos que me deram a honra de por lá celebrarem seu ano iniciado, lá em meu espaço: Kauara, Estevam e Madeirite.. que foram tão louvados por lá quanto eu.. e não mereciam menos afinal de contas..
Enfim, houve tanta ebriedade, inigualável insanidade, para aumentar minhas felicidade, advinda de toda a assiduidade, de todos os companheiros, dos novos aos primeiros, que satisfez minha vaidade, vendo tamanha grandiosidade, espalhada em meu terreiro..
Agradeço a todos, por ali estarem.. por me darem o sabor da companhia.. não só lá no dia, mas por toda essa caminhada.. essa sinuosa estrada.. que se tem tropeço, tem uma vista mais que bela.. e é nessa tela, que vou dando a ler minha história.. que longe de ser simplória, é a vitória cotidiana do meu sorriso..
Obrigado a tod@s que por Pasárgada extiveram, e aos que não estiveram.. só digo que venham, porque ano que vem será melhor ainda...
"Jorge de Capadocia
Jorge de Capadocia
Jorge de Capadocia
Jorge de Capadocia (Salve Jorge)
Jorge...
Jorge sentou praça na cavalaria
Eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia
Eu estou vestido com as roupas
E as armas de Jorge
Para que meus inimigos tenha mão
E não me toquem
Para que meus inimigos tenham pés
E não me alçancem
Para que meus inimigos tenham olhos
E nao me vejam
E nem mesmo um pensamento eles possam ter
Para me fazerem mal
Armas de fogo, meu corpo não alcançará
Facas, lanças se quebrem
Sem o meu corpo tocar
Cordas, correntes se arrebentem
Sem o meu corpo amarrar
Pois eu estou vestido com as roupas
E as armas de Jorge
Jorge é de Capadocia
Viva Jorge
Jorge é de Capadocia
Salve Jorge
Perseveranca, ganhou do sordido fingimento
E disso tudo nasceu o amor
Perseveranca,ganhou do sordido fingimento
E disso tudo nasceu o amor
Ogam toca pra Ogum
Ogam toca pra Ogum
Ogam, Ogam toca pra Ogum
Jorge é de Capadocia
Jorge é de Capadocia
Jorge é de Capadocia
Jorge é de Capadocia..."
sábado, 20 de outubro de 2007
Quem não vem, que venha ou Agora só falta você...
Para eu ficar louco
Insanidade compartilhada
Com toda a companheirada
Quero todos roucos
Numa alegria rasgada
Tão logo adentrem Pasárgada
E ponham seus imaginários pra fora
Se és dos sábios doidos
Vambora
E amanhã estaremos moídos
Narrando desconexos vislumbres vividos
E lissérgicamente percebidos
Tudo será mais uma coletânea de histórias
Mais açúcar para as nossas memórias
Uma apoteose de glórias
Afinal é bom saborear as vitórias
Afinal "é preciso viver
E viver não é brincadeira não"
Já diria o Paulinho da Viola
Então passa logo a bola
Que a meta aqui é a alucinação
Pela plenitude da festividade
Só faltará a vossa magnificidade
Para acariciar minha vaidade
Nesse dia de louvação
E sendo assim o caso
Faça favor de aceitar ser convidado
Na próxima celebração
Que contigo será um arraso
Comemorar mais um ano passado
Ano de imensurável satisfação...
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
Ao 12 de outubro ou Mais um ano que começa...
E lá vou eu sem muita pressa
Que esses vinte e sete anos
Parecem deveras promissores
Se já sem tantos infalíveis planos
Muito mais assenhorado das dores
Aplainados os maiores danos
E executados os árduos labores
Vou festejando meu janeiro em outubro
E sempre convidando senhoras e senhores
Pra saborear de meu sangue rubro
Temperado pelas vicissitudes de meus amores
De honras vos cubro
Que é momento de festividades
E conto com a vossa assiduidade
Para nessa nova idade
Seguir um fauno insône
Destroçador de amenidades
E entoador do que me consome
À parte a realidade
É loucura que temos imbrincada no nome
O sempre esperado dia doze
Foi cheio de ébrias doses
De entortar as mais firmes poses
E elevar mais altos as vozes
Eram circundantes os queridos e queridas
Meu tipo de gente preferida
Que me agracia com vosso encanto
E quase trás aos olhos um satisfeito pranto
Toda essa gente referida
Que eu bordo no meu manto
Já que o carinho é tanto
Que os arrasto pra tudo quanto é lado
São expressos em cada sutileza do meu fado
Em cada nota retumbante do meu brado
Quase um espanto
Este seguir num incrível crescente
Mas é meu jeito insistente
De marcar o meu canto
Com a grandeza de toda essa gente
Que diáloga comigo
Que se veste de abrigo
E leva um tanto de mim no umbigo
Depois de muito beber
Foi então a vez de dançar
Que noitada pra valer
Tem que ter uma música pra se acabar
E eu sempre hei de gostar
De sonoridade verter
Deixar o corpo com o ar reverberar
Dispersar todo o meu ser
Enquanto deixo minha mente voar
E para tanto nada como uma bala
Uma doçura extasiante
A mais capaz de fazer ressoar
A pala mais inebriante
Capaz de meus sentidos multiplicar
E assim fui avante
Até toda a madrugada desbravar
De alma devidamente lavada
Pude tornar à minha morada
Com altivo semblante
E satisfeito com essa minha estrada
Já que sou sempre um infante
Cuidando de fazer estilosa sua caminhada...
terça-feira, 9 de outubro de 2007
Meus prolegômeros acadêmicos ou Conceitos de história nos livros didáticos de 5a série..
O ensino de história é um campo imensamente fértil para dialogar com os processos de identificação dos sujeitos - o que inclui o reconhecimento da diferença - e com os conhecimentos históricos – o que inclui o reconhecimento de sua dimensão discursiva. Isso desde que dialogue permanentemente sobre os valores e teorias que o informam, desde que os professores procurem "sair de si" e dialoguem com seus alunos. Indo, portanto, além do que apregoam os PCN:
"A intencionalidade de fornecer aos alunos a formação de repertório intelectual e cultural, para que possam estabelecer identidades e diferenças com outros indivíduos e com grupos sociais presentes na realidade vivida – no âmbito familiar, no convívio da escola, nas atividades de lazer, nas relações econômicas, políticas, artísticas, religiosas, sociais e culturais. E, simultaneamente, permitir a introdução dos alunos na compreensão das diversas formas de relações sociais e a perspectiva de que as histórias individuais se integram e fazem parte do que se denomina História nacional e de outros lugares."
E, sendo assim, corroborando com Foucault que:
"O objetivo principal não é descobrir, mas refutar o que somos. (...) Não é libertar o indivíduo do Estado e de suas instituições, mas libertar-nos, nós, do Estado e do tipo de individualização que vai ligada a ele. É preciso promover novas formas de subjetividade."
Questionando discursos que representam interesses particulares como sendo universais, há que se buscar esse espaço, essa pluralidade do conceito de história em que "esta experiencia del outro, esta experiencia de su vivencia a través de la mía, fundamenta la comprehensión de los diferentes ‘mundos’ constitutivos de determinado período" e onde "o caminho para o outro passa pelo caminho para si" e vice-versa.
Conferir visibilidade, denunciar silêncios, preconceitos, exclusões e generalizações, no visível descaso da sociedade civil e do Estado para com a educação, são fatores motivadores dessa pesquisa, onde "nunca se descubren mundos nuevos, aunque es menester saber que un trabajo específico puede y debe hacer surgir nuevos aspectos que se han dejado de lado". Entendo o rompimento com os horizontes historiográficos valorativos da política homogeneizante de identidades, como essencial na desestabilização dessas construções e atento para a necessidade de perceber como, segundo Enriquez:
"O caminho para o outro, para a aceitação de outras culturas com as quais podemos dialogar, é muito longo. É um processo interminável. Não acreditamos, em todo caso, que basta mudar as estruturas econômicas e políticas. As culturas, quaisquer que sejam elas, tendem sempre a viver mais fechadas do que abertas (para provar sua identidade). O mesmo ocorre com indivíduos. O trabalho de transformação é, por isso, um trabalho sem fim, que exige igualmente mudanças radicais no psiquismo humano e no psiquismo social, mesmo considerando os limites inerentes a uma tal transformação."
sexta-feira, 5 de outubro de 2007
Um dia para o resto de minha vida ou Vinho, vinil e verso
Eu não lembro ao certo o dia.. mas foi em setembro de 2002 que deu-se o acontecido..
Eu não andava lá muito feliz por essa época. Me desgastava por um amor perdido e já não me agradava com o amor que tinha. Havia escolhido o segundo em detrimento do primeiro e como é costumeiro das criaturas humanas, me arrependera..
Minha então namorada viajou para um congresso em Porto Alegre onde ia apresentar um trabalho da faculdade. Não pude ir, porque nessa época trabalhava na Caixa Econômica Federal.. mas foram todos do nosso grupo de pesquisa em História Antiga (meu trabalho era sobre Apocalíptica hindu no noroeste da Índia em 1200 a.C). Inclusive duas de nossas amigas viram-se solteiras à contra-gosto às vésperas do encontro. Eu e a Amanda andavamos trôpegos já.. terminávamos quase toda semana.. brigávamos bastante e já sem pudores quaisquer na frente de todos.. eram gritos e xingamentos colossais quase todo o tempo.. e ainda assim insistíamos. Ela me amava deveras e eu já não a amava tanto... mas ainda assim tinha a certeza de que abandoná-la implicaria na ruína para ela.. e bem, eu admiro até hoje a pessoa dela, além do amor havíamos nos tornado grandes amigos, que sabiam se divertir bastante...
Com a experiência das amigas, a Amanda já viajou deveras reticente.. creio até que não teria ido se pudesse..
Enquanto ela foi, para passar uma semana (9 dias na verdade), eu fiquei e ficando logo fui chamando por dois bons e velhos camaradas (Artur e Humberto) para beber no Desfruti numa 5a feira após o trabalho.. o Desfruti é um buteco pé de chinelo bem afamado aqui no Planalto Central.. tomamos muitas Santas Cervas lá e fomos para o findado Estação 109 onde poderíamos beber e conseguir unzito para fumar.. (nessa época eu ainda era maconheiro amador..)
Encontramos lá uma então caloura da história, que nesse dia viria eu a descobrir, era minha irmã.. (coisas espirituais e não de dna.. risos) junto com ela, Jack, e a Carol, amiga dela, bebemos e fumamos um.. foi uma noite deveras incrível.. talvez eu ainda a descreva em mais detalhes qualquer dia..
Mas o ponto é que nesse dia revi a Thaís.. a dita cuja perdida.. e bem, o peito mudou de ritmo sabe.. eu mal conseguia falar.. não a via a 6 meses, desde que ela me pedira licença da vida dela..
Essa digreção foi para dizer que duas coisas importantes decorreram desse dia (que ainda não é o dia que quero contar..): eu soube que realmente não amava a Amanda, mas sim a Thaís.. e eu soube que minha vida podia ser bastante divertida e não estava sendo..
Dois dias depois, fomos para a casa da Cris, em Taguatinga. A Cris é uma pessoa genial que conheci através da Juzão, minha melhor amiga. O pessoal se mobilizou para que realizássemos lá um sarau que ficou conhecido como Vinho, Vinil e Verso (aconteceram 3 deles..). Todos deviam ler poesias, próprias ou de outrém, escutaríamos apenas vinis e beberíamos muuuito vinho. Foi uma catárse criativa como nunca dantes nem depois experimentei. Esse dia realmente mudou minha vida.
Estavam lá meus mais íntimos e chegados amigos.
Lembro bem de quando o Artur recitou "Eu sou egoísta" do Raul. Primeiro tapa na cara que levei na noite.
Depois fizemos exercícios de tecer poesias ali na hora mesmo. E o Humberto sobressaiu com o "Poema da Pulga".. Humberto é meu amigo mais próximo do abismo da genialidade.. e pôs-se a falar do percauço da pulga que escalava a estátua de mármore e ao fim, quase possuído, saltava metros do chão e urrava.. "Eu só quero que você.. SE COCE!!!". Segundo tapa.
Quando já cria eu na magnificência tranquila da noite. Eis que meus amigos obrigam-me a sentar no centro de um círculo e dizem (A Ju foi a porta-voz..):
- Jorge, você tá feliz?
- Hã?
- Feliz Jorge.. você tá feliz?
- Assim.. eu tô bem.. tipo..
- J-O-R-G-E.. você está FELIZ?!? (e eu via todos aqueles olhos sobre mim..)
- ... Não.. não tô...
- Bom, isso a gente sabia.. percebeu.. e resolvemos conversar com você. Cadê aquele cara feliz e doidão de antes? A gente só te vê cabisbaixo.. triste.. desanimado..
- A vida tá difícil.. o banco.. a UnB.. a Amanda..
- Você ama a Amanda?
- Eu gosto muito dela...
- Jorge, você AMA a Amanda?
- ... Não.. não amo..
- E acha justo ficar empacando a vida dela com a sua pena?
- ... Não.. não acho... (terceiro tapa)
- A Amanda é minha amiga e ela merece mais que piedade. Você é meu amigo e merece ser feliz.
- Sim.. vocês tem razão.. eu sei o que tenho que fazer.. assim.. eu sei.. mas é que.. sei lá.. é tão difícil..
- É. É difícil..
Nessa noite, eu me decidi a terminar com a Amanda. Decidi largar o banco. Decidi voltar a fazer as coisas por querer e não por dever. Decidi voltar a escrever poesias. Decidi que não mais negligenciaria meus amigos. Decidi que iria me assenhorar de meus passos. Decidi que não mais colocaria a culpa nos outros. Decidi que iria atrás da Thaís. Decidi recomeçar, mais uma vez.. e saber que sempre estaria recomeçando.. esse dia ainda ilumina muito minhas sinapses.
Até sinto o gosto do vinho, lembro de cada música, tenho guardada cada poesia. E desde então me acostumei a recomeçar...
segunda-feira, 1 de outubro de 2007
Daqui em diante ou À chegada de outubro...
Serei no mínimo, inebriante
No máximo, intoxicante
Se não sorveres com moderação
Pois passado mais um turbilhão
Avizinham-se novamente
Ali logo em frente
As portas da percepção
Sem esperar nada dessa gente
Sigo contente
Reunindo os bons
Multiplicando os sons
E sorvendo a loucura
De quem desarmoniza os velhos tons
E transcende a negrura
A paisagem cinzenta
Dessa ordenação nojenta
Que faz da vida uma secura
Escura.. um vazio tormento
Onde só há cobiça e usura
Prefiro mudar a postura
Vestir novo ornamento
"Vê se me entende
Olha o meu sapato novo
Minha calça colorida
O meu novo way of life
Eu tô tão lindo
Porém bem mais perigoso
Aprendi a ficar quieto
E começar tudo de novo.."
A cada ciclo
Um novo começo
A cada versículo
Refaço o soneto
Se é um delírio
Eu o cometo
Se é um arbítrio
Trago-o de berço
Não faço martírio
Com o que não conheço
Prefiro sorvê-lo
Despir-me do medo
E seguir com a jornada
Mudar os ladrilhos da estrada
Para quem sejam cores variadas
Na trilha dos meus passos
"Não sei onde eu tô indo
Mas sei que eu tô no meu caminho
Enquanto você me critica
Eu tô no meu caminho
Desde aqueles tempos quando o resto da turma
Se juntava pra jogar bola
Eu pulava o muro com Zezinho no fundo
Do quintal da escola.."
Que venham os novos tempos
Com suas mudanças ininterruptas
Com sua rupturas abruptas
Aptas de vencer os comodismos intactos
Potencializar os impactos
Dos desafios que ostento
Que busco como incremento
De meus olhares plurais
Ver além das coisas banais
E saborear cada fugaz alimento
Que seja capaz de expandir o pensamento
Permita ver a cor do vento
Abarcar sempre mais
Molhar os dedos no mar
Sentado na beira do cais
Delirar por amar reinventar meu estar
E começar uma vez mais a nadar
"Vai, vai, vai..
E grita ao mundo que você está certo
Você aprendeu tudo enquanto estava mudo
Agora é necessário gritar e cantar rock
E demonstrar o teorema da vida
E os macetes do xadrez..
Você tem a resposta das perguntas
Resolveu a equações que não sabia
E já não tem mais nada o que fazer a não ser
Verdades e verdades
Mais verdades e verdades para me dizer
A declarar..."
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
Sobre as coisas antigas ou Historicizando minha poesia...
Sempre me foi caro escrever. Isso muito foi instigado pela Ju (a Juzão), amiga de quem inevitavelmente ainda hei de falar aqui em alguma das sessões do "Tenho uma amiga chamada..." Trocavamos muitas cartas. Precisam ver as cartas dela, aliás, qualquer dia.. magníficas pra dizer o mínimo. Poemas em todas as direções, colagens, desenhos.. um arsenal extenso de expressões.. Juliana é ser de rara habilidade.. e loucura.. risos..
Passei a escrever ainda mais depois do término de um de meus namoros.. minha forma de gritar ao mundo.. daí em diante explodi em verborragia, lapidei alguns verbos que costurei em minhas asas e resolvi viver o que pensava, já que nossas concretudes são a expressão mais significativa de nossas sinapses.. credos, imaginários, ideologias.. resolvi virar doidão por ser essa minha bandeira.. seja doido e escreva em abundância.. dê a ler suas razões, intenções, propostas, desgostos, afinidades.. e se puder caprichar em algum sentido estético que lhe apetece, o faça, para arranhar as satisfações alheias..
Não quero ser longo. Apenas marcar a irrupção de minha escrita, algumas de suas influências e o compasso de sua cadência..
Como certa vez - que aliás será meu próximo post, por lembrar-me disso agora - disse um grande amigo... "Eu só quero que você se COCE!!!"
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
Coisas antigas ou Diálogos com meu querido...
Quantos tipos de amor podemos sentir?
Onde o amor vai parar quando acaba?
Os olhos brilhantes não mais confortam
Eles fitam paredes brancas, mesas e cadeiras
Há somente cansaço e respeito
Cadê o amor?
Os cabelos agora ondulam em outra direção
Enquanto as palavras são temidas e avaliadas
E o vento gelado não mais suavisa o suor quente
Besteiras sentimentais diriam os tolos
Estes que se crêem sábios
Bobeiras demais diriam os calculistas otimizadores de sobrevida
Devaneios infantis diriam os experientes
Experimentados pela própria violência
De ter perdido a estrutura óssea da própria alma
Então... cadê o tal amor?
Não sentimos o corpo cair com sua perda
Será que além do coração somos todos pedras
E ficaremos parados como estátuas
Para ficarmos expostos tendo o tempo como única - e fiel - platéia?
Não.
Cada pessoa que fomos capazes de amar virá nos ver
E a cada olhada nos será restituído um pouco
Do amor sentido
Quando enfim
Não seremos mais pedras...
quarta-feira, 26 de setembro de 2007
Coisas Passadas ou Aos heróis
Pois eram bravos, destemidos, corajosos
Belos, valentes, invencíveis e magníficos
Enquanto que eu... bem, eu não era nada disso
Eu era só o garoto que admirava os heróis
Como tantos outros garotos, admirando
Admirando tantos heróis
Como outros tantos garotos
Tímidos, temerosos, medrosos
Feios, covardes, derrotados e simplórios
Querendo ser um herói
Mas de que me servem esses modelos?
Por que seguir os caminhos do mapa?
Como os malditos heróis viviam amores?
Eu aprendi o que não sabia vivendo
Criando meus próprios caminhos
Cauterizando as feridas reais dos meus amores
Meus amores antigos, presentes e fictícios
De tudo isso, nada me restou...
Nem heróis.. nem amores.. só caminhos
E, por isso, não desanimo
Veja, lá no horizonte
Lá meus caminhos somem da vista
Dessa vez vou atrás dos meus amores
Mas vou sendo corajoso, bravo, destemido
Belo, inebriante, invencível e magnífico
E não vou seguindo modelos
Desta vez, vou desconstruí-los
Havendo batalhas.. e elas haverão
Eu as vencerei e meus amores estarão comigo
Pois este universo estará contido
Dentro de mim e por mim feito
Levando a cabo isso.. tudo consigo
Tragam-me os louros da vitória
Hoje sei que não estou perdido
Mesmo não sabendo para onde estou indo
Vou eu a pé, descalço, sorrindo
Lágrimas dos olhos aos lábios
Cabelo dançante ao vento
Um lenço, um beque e meus pensamentos
Esta é minha vitória.. minha vida
Livre das barreiras do tormento
Pense o que quiser disso.. mas pense
Pense por si só e seja pleno
Ame por si só e seja divino
terça-feira, 25 de setembro de 2007
Coisas antigas ou Um amor na mesa ao lado...
Algo intocável
A finalidade é usar
Mas você tem medo de sujar
Você que sente receio de ousar
Refreia a ânsia de gozar
Perde o amor no horizonte
Vê suas estrelas se apagarem ao longe
Engole o vômito azedo
Regujita a bílis amarga
E chora... por dentro
Pois sua vida é consumida pelo quase...
Se o meu destino "eu mesmo faço"
Eu faço torto e errado
E se eu busco o certo
Mande-me à merda
Pois à latrina com os porcos
E já que nada eu provoco
Que eu sufoque em minha autopiedade...
E no ponto final de meu martírio
Eu veja...
Sonhos somem, a vida se vai, o gozo termina...
Termina doce... doce..
Doce... longe... longe...
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
Coisas antigas ou Você...
Depois de tantos desabafos e enfrentamentos, eu procuro você
Mesmo feliz e satisfeito, eu procuro você
Caminhando, vivendo e amando
E procurando você
Nas incertezas de minhas escolhas procuro você
Alucinado doidamente, eu procuro você
Não me adiantam as vitórias
Nem me derrubam as derrotas
A cegueira pode me levar por caminhos tortos
Mas logo a visão me trará à trilha correta
Pois no fim de tudo, eu estou procurando você
Queria ser um bandoleiro solitário
Um errante confiante na própria independência
Só que não o sou, pois tenho consciência
Estou preso a você por vontade
Sigo a trilha dos teus passos
Rumo a abismos distantes e mares profundos
Procurando você e consumido pela saudade
Vivendo amores fadados ao fim
E no fim procurando você
Tonto, cansado, louco e desesperado
E mesmo assim confiante
Por mais que demore e seja difícil
Por mais que me desgaste esse martírio
Eu caminho pra frente sem ver-te
Porque em algum lugar eu acho você...
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
Venha-se embora para Pasárgada ou Convite para minha festa de aniversário de 20/10
Pois cá és amigo do rei
E haverão gloriosas e tamanhas festividades
Pelas quais sempre esperei
Venha, venha-se embora para Pasárgada
Venha, venha-se embora para Pasárgada
Que aqui serás feliz
Aqui, existir será uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que loucura será traquejo
E o delírio será vertente
Tudo fazendo manejo
Da ebriedade mais potente
Irás dançar delirante
Tornar a ser infante
Expandirá suas sinapses
E tropeçará em suas sintaxes
Viverá o prazer do êxtase
Lindos e Suaves Delírios
Numa conjunta catarse
Digna das histórias
Que em seu tempo de menino
Rosa vinha lhe contar
Venha, venha-se embora para Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem processo seguro
De se expandir a percepção
Haverão sons multicoloridos
Haverão beberrâncias à vontade
Damas e senhoritos
Para um bom prosear
E se por ventura entristecer-se
Mas entristecer-se de não ter jeito
Se ao amanhecer der alguma vontade
De ir-se de vez mesmo
- Pois cá és amigo do rei –
Terás a fumaça que queres
Que eu mesmo apertei
Venha, venha-se embora para Pasárgada
A quem interessar possa, a costumeira festa épica dar-se-á na famigerada Chácara do Gordo, no altiplano da perdição. Aguardo as encomendas dos produtos necessários ao divertimento dos participantes e vos lembro, não ser permitido realidades estáticas e descoloridas por lá..
Todos os dragões, fadas, diabretes, seres místicos, poetas, loucos, entre outros, são mais do que bem vindos...
quinta-feira, 13 de setembro de 2007
Atlas ou trutas contra a correnteza
Tamanha
Levanta
E apanha
Senão arranha
A continuidade tacanha
E não reclama não
Vai pra lá ficar aturdido
Bestificado pela televisão
Incompreendido
Esse grito comprimido
Nessa eterna procissão
Enquanto tudo derrama
O buraco alarga
Escorre a lama
A vara enverga
Nas costas a carga pesa
"Vai Titã"..
A língua amarga
Esquecem Pasárgada
Pela nação impávida
A empresa modelo
A tradicional família
É trancar a porta
Esquecer os caminhos do espelho
Todos sugando a pilha
E erodindo as margens da ilha
Enquanto o cardume segue
Rio acima e inerte
Lutando pra desovar na nascente
E deixando a foz de lado
Um bando descrente
De que ainda haja um fado
Esquecidos do mar
De quão bom é voar
De gritar que cantam e dançam
Porque vomitam peculiaridades
Repetições para se contar
Amenidades que encatam
Os espectantes de pensar
E pensam
O que lhes ensinaram a pensar
Mesmo se subjetivam
Se afogam antes de respirar
"Vai Titã"..
Vai Titã
Porque ou vai ou racha
Mesmo se tudo não encaixa
Ou segues ou se esborracha
Sinta todo o peso do mundo em suas costas
E ainda sinta mais
Porque te convencem que gostas
Esses bostas
Inomináveis
Que corróem a tua paz
Seja sagaz
Corra pra cá
Pasárgada a vista
Vamos pra lá...
quarta-feira, 5 de setembro de 2007
Papos de irmão ou entre certo e errado...
O que for certo
Te alerto
Melhor ficar esperto
Pois o dito metido a besta
E que logo atesta
Não aceita fresta
Nos muros da realidade
Vã ingenuidade
Dessa representação da modernidade
Mas estando à mão o errado
Diga-o profano de tão sagrado
Estarás muy bien acompanhado
Como que bailando num fado
De êxtase inebriante
Errar é gozar o instante
De quem padece mas segue avante
De ser infante não ter temor
Padecer mas com ardor
Se tropeço enquanto ando
É por só pensar em estar voando...
terça-feira, 4 de setembro de 2007
Augúrios de ninguém ou divinações em um papel qualquer...
- Você tem emprego?
- Não, não senhora. - disse a jovem de cachos com seu melhor sorriso para ser simpática com a anciã que a atendia, à despeito de todo cansaço e correria do dia-a-dia.
- Mas então você arranjou um emprego!
- Sim, começo no fim do mês.
- É que eu vi uma luz branca aqui sabe. Sabe, eu vejo essas coisas e quando vejo, pode saber, é porque uma benção vai aparecer pelo seu caminho...
- Uma benção? - a jovem disse naquela desconfiança inicial contra tudo aquilo que é estranho, que é seguida pela certeza na senilidade da senhora de pele enrugada e olheiras.
- Sim, uma benção. Você é casada?
- Não.
- Mas é noiva!
- Sim, sou noiva, mas.. - ela ficou embaraçada com aquele acerto.
- Mas? - inquiriu a velha senhora com a satisfação do acerto.
- Mas nada... nada não, a senhora já terminou?
- Quase, minha filha... quase... eu sei que está com pressa..
- Um pouco. Tenho outras coisas a fazer.. de pegar um nada-consta na polícia...
- Certo. Bem, aqui está. Boa sorte pra você e pro seu noivo, e quando chegar a benção não façam resistência. Deixem que ela entre na vida de vocês...
- Isso não é um filho não, né senhora? - disse a jovem já em tom apreensivo.
- Não. Quando é criança a luz que eu vejo é assim.. hmmm.. mais azulada sabe.. luz branca geralmente é coisa boa, assim.. pacífica.. coisa de vida boa..
Mais aliviada por não dar importância aos presságios da velha preenchedora de carteiras de trabalho, a jovem de cachos, sorriu, e ainda assim, ficou satisfeita de saber que a benção não seria o problema de ter filhos, que não seriam uma benção por agora. Despediu-se da velha, enquanto os olhos ávidos da próxima pessoa na fila já brilhavam espectantes pelo atendimento após quase uma hora de espera naquela galeria.
A velha senhora passou os olhos pelo ambiente de ar estagnado e luz bruxulenta e vacilante de subsolo. Respirou entre o bufar e o suspirar. Era mais feliz noutros tempos, quando abriam vísseras de animais para que os lesse e levavam-lhe oferendas para que fizesse suas divinações. Mas esses tempos haviam passado a muito tempo e ela sabia que não tornariam. Os oráculos eram mais respeitados no passado e suas palavras eram tidas como alicerceadoras de verdades... Estava cada vez mais difícil nesse tempo em que ninguém quer sonhar.. todos querem viver apenas aquilo que é real, quando o real não passa de um sonho... ela pigarreou e assistiu a caminhada do rapaz que vinha até sua mesa. Quando era jovem fora treinada para ler o funcionamento do mundo no vôo dos pássaros, ver as estruturas da vida nas entranhas ensanguentadas de qualquer bicho, saber os desígnios divinos e humanos nos restos de chá ou nas pedras dispostas na praia.. até mesmo em signos criados por muitos povos que ela sequer conhecera. Hoje os lia em carteiras de trabalho para pessoas que não acreditavam...
- Bom dia. - disse o rapaz sentando-se.
- Bom dia... - ela disse cansadamente...
sexta-feira, 31 de agosto de 2007
Palavras incômodas ou lutando contra si mesmo...
"Você abre a porta e entra
Está dentro de seu coração
Imagine que sua dor é uma bola de neve que vai curar você
Esta é sua vida
É a última gota para você
Melhor do que isso não pode ficar
Esta é sua vida
Que acaba um minuto por vez
Isto não é um seminário
Nem um retiro de fim de semana
De onde você está não pode imaginar como será o fundo
Somente após uma desgraça conseguirá despertar
Somente depois de perder tudo, poderá fazer o que quiser
Nada é estástico
Tudo é movimento
E tudo está desmoronando
Esta é sua vida
Melhor que isso não pode ficar
Esta é sua vida
E ela acaba um minuto por vez
Você não é um ser bonito e admirável
Você é igual à decadência refletida em tudo
Todos fazendo parte da mesma podridão
Somos o único lixo que canta e dança no mundo
Você não é sua conta bancária
Nem as roupas que usa
Você não é o conteúdo de sua carteira
Você não é seu câncer de intestino
Você não é o carro que dirije
Você não é suas malditas "gatinhas"
Você precisa desistir
Você precisa saber que vai morrer um dia
Antes disso você é um inútil
Será que serei completo?
Será que nunca ficarei contente?
Será que não vou me libertar de suas regras rígidas?
Será que não vou me libertar de sua arte inteligente?
Será que não vou me libertar dos pecados e do perfeccionismo?
Digo: você precisa desistir
Digo: evolua mesmo se você desmoronar
Esta é sua vida
Melhor que isso não pode ficar
Esta é sua vida
E ela acaba um minuto por vez
Você precisa desistir
Estou avisando que terá sua chance."
(Tyler Durden / Clube da Luta)
Grande filme.. para quem não viu, fica a recomendação... uma incômoda maneira de se terminar o mês do cachorro louco... espero que faça algo coçar...
terça-feira, 28 de agosto de 2007
A urdidura ou quando dançam meus atrevimentos...
Os âmagos do esclarecimento
Labores ininterruptos e ferrenhos
Passos atolando no cimento
E ainda assim vai soprando o vento
Foda-se o interior em aquecimento
Os não seis, não quis e não tenhos
Por isso preferi os cascos de um pé de bode, que o luxo de sapatos confortáveis...
Esses desempenhos
Crescentes e progressivos tormentos
São coisas a que não me atenho
Sou saborosamento leviano quando tento
É discurso de prosaico invento
Sufocadamente e ininterruptamente.. lento...
É falando contra tudo isso que venho
Rasgar as costas doeu-me.. o irromper de asas não é coisa qualquer, é coisa grandiosa.. por isso as ostento, ora bolas...
Tais desempenhos
Corriqueiros e inclementes assentos
Que eu tanto desdenho
É inescapável estabelecimento
Mas nem por isso hermético aprisionamento
Há como suplantar esse pegajoso unguento
Basta apenas pensar e um tanto de empenho
"Para o infinito e além..." já diria tão sabiamente o Buzz Lightyear...
Então pense e vamos dançar
Que eu quero é movimento...
sexta-feira, 24 de agosto de 2007
Fábula ou na contra-mão dos sentidos...
Alice passou os dedos da mão direita sobre a franja, tentando ajeitá-la, apenas para vê-la retornar ao mesmo lugar.. seria o mesmo? Agiu novamente, para obter a mesma reação.. Alice deu-se por vencida.
Suspirou... assim como a Alice do espelho...
Alguém a gritou lá de dentro. Dentro de onde? Da casa.. mas ela ignorou, era experienciada em ignorar. Ignorava os professores.. os locutores.. os pais.. a maior parte dos conhecidos.. até mesmo aquele cão chato que insistia em latir quando entrava em casa... se ignorar era uma arte, Alice era uma artista. Austista. Artista.. sorriu por um segundo tão breve, que mal viu o próprio sorriso no espelho.. Alice não era de sorrir. Guardava os sorrisos para os momentos devidos. Mesmo assim alguns escapavam dos ovários... e ela não se importava muito, desleixada em tantas coisas, negligenciava qualquer preocupação mais profunda...
O grito lá de dentro da casa que diziam ser de Alice, mas a bem da verdade não era, voltou a soar.. como um sino.. como na Igreja, aqui era a casa de um Deus e demônios como Alice tinham dificuldades de ficarem confortáveis, mesmo se fossem sindicalizados...
- Alice??? ALICE??!??! - o barulho que se seguiu foi o dos murros contra a porta que faziam até mesmo o espelho tremer, tornando a imagem de Alice difusa e imprecisa, de contornos indefinidos.. como Alice.. mas lembre-se, Alice era uma artista..
Baixou os olhos para as mãos pequenas, querendo com as próprias mãos acabar com tudo aquilo. Não por não suportar.. suportar não é uma condição, é um estado.. queria-o simplesmente pela possibilidade de fazer tudo diferente. Tudo novo. Não ser Alice. Ser talvez Aline. Ou quem sabe Alícia.. e até mesmo, Bruna... Alice tinha certeza de que seria uma excelente Genoveva.. mas Alice não era artista de certezas e, mal sabia, que não conhecia nenhuma Genoveva...
- A SENHORITA QUER FAZER O FAVOR DE DESTRANCAR A M-E-R-D-A DESSA PORTA?!!!! - retumbou a voz da mão cansada de golpear a porta... Alice só aspirou. Expirou. Estava pálida... era sempre pálida, pele alva com pequeninas sardas esporádicas a perturbar a brancura de sua imensidão. Isso destacava os lábios finos e que não eram vermelhos, como diziam ser vermelhos os lábios.. aliás Alice nunca vira um vermelho que satisfizesse suas espectativas.. e ela tinha tantas espectativas, que esmeradamente esperava. Destacavam-se também os olhos cotidianamente castanhos.. castanhos como o céu cinzento de uma grande metrópole.. sobre eles dois finos riscos chamados sombrancelhas. Quando pequena.. menor que agora ao menos.. Alice gostava de arrancar pêlos das sombrancelhas.. sua mãe sempre a recriminava por isso.. e como tudo que é repreendido, Alice parava para prosseguir na solidão de sua intimidade.
Isso a fez pensar em fumar um cigarro. Tirou do bolso a carteira de alguma coisa light. Light? Era quase uma piada... fumaça light... ao menos o filtro era branco. Tinha o cigarro mas não tinha fogo.. e não poderia sair ou teria de lutar com a besta-fera que guardava a porta.. tanta vida, tantos desafios.. fitou-se no espelho...
- Tem fogo?
- Não, só cigarros..
- Então estamos na mesma.
- Pois sim..
- E de que me serves nessa prisão?
- Da serventia que me deres..
- Não serve pra acender o cigarro. - ela disse pondo-o entre a ponta de todos os dedos reunidos como se fosse um anel de casamento..
- TEM ALGUÉM AÍ COM VOCÊ?!?? MENINA.. - a voz parecia buscar alguma calma inexistente - Abra a porta, Alice.. prometo que não vou fazer nada..
- Promessas.. - Alice pensou para então falar - E o que tem desse lado aí?
- O mesmo que aí..
- Mais do mesmo?
- Sempre mais do mesmo..
- Não era isso que eu queria ouvir.
- Sinto muito..
- Sente nada.
- O nada tambem o sinto..
- Eu só sinto isso.
- O nada? Não.. não.. sentes mais..
- Não. - E foi tão retumbante aquela negação que findou qualquer possibilidade de diálogo.. Alice virou as costas para o espelho, colocou-se de joelhos e esperou que suas asas começassem a sangrar...
quarta-feira, 22 de agosto de 2007
Escavando certezas ou como folhas ao vento...
Podem ser penas, se preferir
Verdes ainda
Coloridas, se preferes
Bailando
Sendo levadas, se preferir
No vento
E aqui não tem querer que mude isso
Na verdade tem, mas não divaguemos tanto...
Não há chão onde cair
E sempre é passageiro o olho do furacão
Mas a espiral é longa
Borbulhante de profusão
Existiriam pilotos de folhas?
Ou de penas, se preferistes
Existem atores, sujeitos, agentes, cidadãos...
Numa peça tantas vezes encenada
Numa enseada sempre assujeitada
Numa agência de cartas marcadas
Numa cidadania deveras esvaziada
Existir existem, mas existir não é condição
Existir é como seguir
Ladeira abaixo para a colisão
E reclamando da queda
Esquecem a imensidão que os cerca
Só esperando o refugo
Que antecede a explosão
Devotados cegos sedentos de uma anunciação
Taí o anúncio
Dane-se a criação...
Danemo-nos todos
Que se danar
É excitação
E olhar pros lados na corrida frenética
É capaz de tirar os pés do chão
E fazer as folhas ou penas
Se não serenas
Nem senhoras
Plenas à despeito de qualquer perfeição
Verdades amenas são como a contra-mão
Melhor mentiras sinceras
Brisas singelas
E saborear cada tostão...
Folhas
Ou penas
Ao vento
Não apenas
Lamento
Ou cimento cinzento
Mares
Cores
Caos
Meus caros
Alísios e árticos
Tesouros
No meu estômago voraz de dragão...
quarta-feira, 15 de agosto de 2007
Fagulhas... ou como nascem os maiores incêndios...
Faz
Falseia
Afagos
Frangalhos...
Agulhas...
Mas fulguras
Fustigas
Figuras
Fissuras
Furtivas
Pela estrutura
Cisura
Não é a lonjura
É o calor
A chama
Que clama
Enquanto dança e lambe tudo
Consome
Tal qual fome
Da besta insone
Até o fundo
D'outro mundo
Imundo
Charfundo
Mudo
Modo
Podo
Rodo
Rede
Sede
Mede
Moda
Foda
Findo
O que fede
E pede
Que repete
Rapta
Se apta
Ou não
Do firmamento
Até o chão
De cinzas
Desde já pré-concebidas
Antevistas
Sinistras
Mas cinzas
E não finjas
Que não sabia
Aqui é o cerrado
É fogueira pra todo lado
Fazendo da grama, descampado
Mesmo que venha com o arado
A fertilidade mudou de banda
De bando
De mando
Desde quando
A mudança por aqui passou
Fez assanho
De levantar brisa
E toda passarada voou
Fugiu do fogo
Do jogo
Por isso rogo
Volta logo
Que incêndio sem você
É que nem domingo na tv
Sonolento no máximo
E emburrecedor no mínimo
Aceite o mimo
E vire energia
Aquela boa e velha entropia
Que tanto gosto de ver
E há de aquecer
Temperatura é movimento
Não só das moléculas
E esse tormento
Vai-se com as libélulas
Pequenos dragões insetos das fábulas
Mais singulares que caminhos retos
Pousadas nas bétulas
Lambedo-lhes as pétalas
E arrancando fagulhas
Com o arranhar das unhas
Fugaz..
Fuga?
Fumas?
É umas..
E amas..
Era mas..
Derramas..
Ao mar..
Mais uma vez..
Vamos....
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
Fazendo a curva...
- São multicoloridos estes fios!
- Todos o são..
- Não, este aqui é todo castanho!
- Apenas porque você assim o quer..
(Ele silenciou ofendido. "Só porque você quer" retumbava em seus pensamentos.. não era árbitro, tampouco juiz.. não havia feito direito, e era pródigo em fazer errado.. quando o cansaço o venceu, falou..) - Não sou eu quem quer.. a cor que nele está..
- Não! Não há cor no cabelo.... nem em lugar algum.. a cor é um frequência de onda da luz que o atinge e após refletida, estimula seu nervo óptico que acaricia com sensações seu cérebro.. e você chama isso de castanho.. ou melhor, alguém.. como Platão.. disse-o castanho e outros tantos o aceitaram, que aqui está você a me dizer bobagens..
(Novamente ele buscou refúgio no silêncio temendo repetir as bobagens..) - Então não existem cores? (disse em tom ofendido..)
- Não...
- Hunf!
- Mas não é culpa sua.. aliás a culpa também não há...
- Então não há nada! (Os braços dele moveram-se com aquela revolta própria de ser contida por camisas de força)
- Sim, o nada há e nele há tanto que não haveria como abarcar..
- Há sim! Só dizer.. TUDO!!!
- Tudo não quer dizer nada...
- Quer sim! Quer dizer todas as coisas..
- Mas não diz nada.. já que lhe escapa o outro..
- Que outro?
- O nada...
- Nada não existe!
- Sem o nada não há tudo, ou melhor, só pensas no tudo se pensas no nada...
(Ele buscava algo que rechassasse aquele sofisma incômodo.. soltou os cabelos de seus dedos, que se desfizeram em finas e sinuosas fumaças..)
- Não me agrada essa conversa!
- Nada mais justo... o desagrado é imanente.. assim como o degredo é necessário..
- Pensava ser este um refúgio!
- Ele é sempre que assim desejas...
- Mas aqui não acho a paz...
- A paz é uma condição e não um estado.. é uma tensão e não uma conquista... a paz é uma luta constante...
- A morte é a paz eterna! (ele disse como quem nada tem a dizer, mas quer muito dizer algo esperto e inquestionável..)
- Não foi isso que ela mesma me disse...
- Quem?
- A morte...
- Não se pode conversar com a morte!
- Talvez você apenas ainda não tenha tido essa sorte...
- E o que mais ela te disse?
- Que aquele era meu dia de sorte...
- E o que você disse para ela?
- Que me sentia com sorte... mas tinha medo..
- Medo de que?
- Da sorte...
- Mas sorte é algo bom..
- A sorte não é algo... nem intrissicamente boa... a sorte é um desejo...
- Realizado?
- Desejos não se realizam..
- Mas que diabos.. (ele protestou levantando-se e bufando... como se ficar ereto e de pés no chão o fizessem mais convicto...) Essa conversa não vai levar a lugar algum..
- Parece que finalmente você está começando a entender... tire esse terno sufocante, solte esse cabelos e dobre seus sentidos... eu adoro essa curva da espiral... (e ela lhe sorriu seu sorriso mais caprichado com seus lábios negros, fosse de batom ou da ausência de cor que representavam.. os cabelos esfumaçados dela dançavam em corcodância com a penumbra e a brancura de mármore da pele dela refletia todos os pensamentos dele.. ao fundo podia-se ouvir algum hino clássico dos anos 6o e por toda parte havia um cheiro de sândalo e orégano..) Melhor dançarmos ou podemos cair...
segunda-feira, 6 de agosto de 2007
Espelhos...
Que um narciso
Diante de seu lago
Imaginando um afago
Trabalhando um sorriso
O olhar mais singelo
Uma flor a enamorar-se dos detalhes
Uma pluma oscilante
Na brisa mais atenta
Uma espectativa vascilante
Um capricho retorcido
Desalinho que se ostenta
Daí nasce poesia
Musas dos espelhos cintilam
Contentamentos desabrocham esborrachadamente
Minhas arritimias ganham asas
Devaneios inclementes
Pernas que vacilam
Singular maestria
E um portal a derramar sintaxes
Classicismos rebuscados
Traços malfadados
A não serem dignos desse dia...