domingo, 1 de novembro de 2020

Fim

 Acabou

Para ela bastou

O mar secou

Me esqueceu

O camafeu

Quebrou

Soltou

No chão

Sem perdão

Sem ponderação

Sem outra opção

Desfez

Os porquês

Eram de menos

Pequenos

Ingênuos

Terrenos

Humanos

Meros planos

De um insano

Sozinho

Em seu mundo mesquinho

Tanto espinho

Tanto pranto

Espanto?

És pranto

És...

sábado, 8 de agosto de 2020

Sobre ser pai 8


Ser pai é coisa profunda

É limpar a bunda

Escovar o dente

Saber que tudo depende

E, de repente,

Ensinar a ser independente

Abraçar quando a dor for pungente

É esperar ali logo em frente

É torcer pela gente

Proteger da parte imunda

Explicar que maravilhas abundam

Mas que na tormenta

Os mais fracos que afundam

Que a gente tenta

Mesmo se tudo mais desalenta

A gente enfrenta

Se reinventa

Espera

Que uma hora a poeira assenta

A parada é lenta

Mesmo com a barulheira frenética

Dança

Tudo balança

João nunca cansa

Ana também

Mas colo sempre cai bem

Aprende a dividir esse trem

Irmão é a companhia mais longa

Nessa tonga da mironga

Irmandade vai bem

E à paternidade convém

Serenar furacões

Adoçar os limões

Sorrir aos borbotões

Voar com os dragões

Decorar as piores canções

Brigar em algumas situações

Problematizar sempre que houver opções

Sabendo como a gente está amarrado

Não pelo fio

Mas por esse querer bem alado

Que mesmo depois que o pai parte

A gente sente que tá lá...

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Sem título 2

Dói
Corrói
Horror de mil sóis
Sois
Oras pois
Horas
Eras
Heras
Erínias
Errôneas
Harpias
Arpões
Há pães
Pois
Pais
Mães
Sem paz
Só pois
Depois
Demais
De maios
De meios
De medos
Descalços
Decalques
Recalques
Recados
Riscados
Rincados
Rispidamente calados
Cansados
Cancreados
Caricaturados
Concomitantemente
Cacos

Cal
Sal

Sim
Super
Sempre
Isso...

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Sem título 1

Eu tenho olhos tristes e cansados
Eu te olho, triste e cansado
Te molho, riste e casado
E colho isto calado
Encolho tocado
Olho todo
Outro

Dou
Ó
...

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Carta para Hélio Lopes


Salve Negão... feliz aniversário, desculpe o horário, mas o mundo está todo ao contrário. Uma mega pandemia de um vírus da gripe tomou o país e o mundo. Já morreram 30 mil pessoas só no Brasil. Um mundo em quarentena fazendo o vírus humano perceber a sequela ambulante que é. Nem todos, claro. Você estaria com 71 xingando bastante.
Estamos todos confinados em casa. As crianças tendo aula pela internet, eu ainda por resolver as questões na escola nova, onde mal cheguei e veio a interrupção das aulas. Estou meio em lugar nenhum, mas passando muito tempo com a Ana e o João. Eles são incríveis. Hoje, o Gustavo já tá fazendo 2 anos e seus três netos vão muito bem. Dé tem trabalhado horrores com isso tudo.
O fascismo saiu do armário e os idiotas já não são tantos, mas os canalhas cruéis são em número muito maior do que eu pensava.
Meu peito tem doído, meu jeito tem arrefecido, não que tenha desistido, mas sinto que entre tanto que podia ter sido, certos espinhos são muito doloridos. Saudade, pai. Muita saudade. Queria um colo pra estar protegido. Queria me sentir salvo como no refúgio que ofereço aos meus pequenos. Eles tem um pai incrível. Um pai amoroso e dedicado que brinca pra todo lado, que da bronca, chora e fica frustrado. Um pai que os faz voar e está sempre a acompanhar tombos e risadas. Um pai que aprendeu muito mais do que pensava com o pai mais incrível que existiu.
Voltando ao Brasil. Suspenderam tudo, mas o Sistema segue matando. Um policial branco matou um homem negro nos EUA. George. Acendeu o estopim. Entornou o caldo. Foi a gota dágua. Aqui a intervenção sem fim é de policial matando adolescente no morro com tiro de fuzil pelas costas. João. Nada vai mudar. Eu sinto. Mas lutamos por não saber como não lutar. Cuidamos nessa resistência que somos com nossas táticas das pequenas coisas.
Mas te digo, nunca estive tão triste. Tão precisado de um abraço.
Ano você... desculpa as poucas palavras. Nunca haverão palavras, sintaxes e fonemas suficientes para dar conta desses quase 10 anos de falta que você faz. Obrigado por tudo.
Você segue sendo incrível.
Amo você.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Édipo em Colono

Perdido, cego e errante
Cá estou
Outrora rei
Édipo rei
Dito rei
Desdito
O mito
Nada mais fito
Ferido pela cegueira de outrora
Largado mundo afora
Com essa dor que me devora
Vendo a cada hora
O caos em que o mundo jas agora
De Antígona e Ismênia sei
Eteócles e Polinices me faltam
São sempre os machos quem assaltam
Maltratam
Desprezam e atacam
Pobre das mulheres que amei
Cansei
Depois de tudo que passei
Erínias sangrando meus passos
Moiras traçando no meu fio, laços
Desvarios
Do filho de Laio
Jocasta
Nada basta
Nem a besta
Esfinge
Esta ao menos não finge
Sangrada minha carne
Plantou a semente da morada
E em mim vive esse nada
Essa tortura infindável de quem riu da sacada
Do destino
Mas desde menino
Já tinha sua sorte traçada
Preso, ao menos, não mais me sinto
Nem santo
Só pranto
Nunca pronto
Sempre meio tonto
Desponto
Desperto
Incerto
Disserto
O peito aberto
E alerto
Num conto
Meu canto
Que é tanto
Espanto
Nunca, nunca pronto
Remonto
A Tebas
A Corinto
Aqui em Colonos
Em toda parte
E em nenhum lugar
A fortuna há de estar
Nesse oráculo de desgraça por se espalhar
Nesse caos interminável de mar
Que fingem saber os aedos
Nos governam os medos desde cedo
Mas é tarde
No apagar da chama que arde
Enquanto o pano poido que somos se encarde
Desfeito
Um fio de cada jeito
Um frio leito
Só, respeito
E um esvaziado peito
Está feito
Feito está...

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Tudo que você precisa

Tudo que você precisa
Não é a atenção
De uma multidão
Ou mesmo a badalação
A marejada brisa
Independente de onde pisa
Com quem sua a camisa
Que faz diferença
Aquela gente que compensa
Que tem a alma imensa
Pega tudo aquilo que te prensa
E em um rodopio
No abraço
No incomensurável desvario desse laço
O mundo de aço
Inoxidável
Fica amável
Fica leve
Por mais que seja breve
Um sopro
Nunca mais eu vou dormir
Pero no tropo
A vida vai vir
Nunca deixa de seguir
Te envolver até subsumir
Lutar, conter o mar e emergir
Daí que a gente se atreve
E veve
Volve
Dissolve
Dissipa
Um ano
Uma década
Uma vida
Tanta lida
Pranto lido
Parcos tidos
Barcos todos
Palcos bobos
Abraços bons
Bençãos
Abrigos que levo comigo quando persigo o perigo
São
Tudo que eu preciso