Perdido, cego e errante
Cá estou
Outrora rei
Édipo rei
Dito rei
Desdito
O mito
Nada mais fito
Ferido pela cegueira de outrora
Largado mundo afora
Com essa dor que me devora
Vendo a cada hora
O caos em que o mundo jas agora
De Antígona e Ismênia sei
Eteócles e Polinices me faltam
São sempre os machos quem assaltam
Maltratam
Desprezam e atacam
Pobre das mulheres que amei
Cansei
Depois de tudo que passei
Erínias sangrando meus passos
Moiras traçando no meu fio, laços
Desvarios
Do filho de Laio
Jocasta
Nada basta
Nem a besta
Esfinge
Esta ao menos não finge
Sangrada minha carne
Plantou a semente da morada
E em mim vive esse nada
Essa tortura infindável de quem riu da sacada
Do destino
Mas desde menino
Já tinha sua sorte traçada
Preso, ao menos, não mais me sinto
Nem santo
Só pranto
Nunca pronto
Sempre meio tonto
Desponto
Desperto
Incerto
Disserto
O peito aberto
E alerto
Num conto
Meu canto
Que é tanto
Espanto
Nunca, nunca pronto
Remonto
A Tebas
A Corinto
Aqui em Colonos
Em toda parte
E em nenhum lugar
A fortuna há de estar
Nesse oráculo de desgraça por se espalhar
Nesse caos interminável de mar
Que fingem saber os aedos
Nos governam os medos desde cedo
Mas é tarde
No apagar da chama que arde
Enquanto o pano poido que somos se encarde
Desfeito
Um fio de cada jeito
Um frio leito
Só, respeito
E um esvaziado peito
Está feito
Feito está...
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