(Sorveu a fumaça na escuridão..
Ela dançou..
A fumaça dançou à frente do olhar dele..
Ela virou-se no ritmo da música, dando as costas ao parceiro para que ele pudesse apreciar a linha sinuosa e sedutora que as costas dela traçavam no espaço..
A fumaça recebia as luzes em sua disforme existência cinza esbranquiçada..
Ela demorou a voltar ao ver um corpo parado, na direção dela, mas cujo rosto não se definia por trás da fumaça..
Ele tragou lentamente, tornando a brasa incandecente, ardente e mostrando uma luz no fim do túnel..)
- Vou no bar pegar cerveja.. (ela disse para o parceiro que não a interessava mais e não esperou resposta para buscar a luz..
Ele assistiu os passos rebolados dela, o movimento desdenhoso dos ombros, os cabelos charmosamente desgrenhados, incluindo aqueles que se colaram ao pescoço pelo suor.. tragou soltando a fumaça pelas narinas como faria um dragão..)
- Uma cerveja.. (ela disse apoiando os antebraços no balcão úmido, onde teve atenções imediatas, mas reparando de canto de olho na barba por fazer.. nas sombrancelhas grossas.. nas mãos grandes presas a ante-braços morenos.. no mundo turvo por trás da fumaça..
Ele a viu receber a long-neck que custava cinco vezes mais que o normal, levar aos lábios já sem retoques e exagerar uma refrescância que aludia a comerciais ignóbeis de publicitários sem criatividade alguma.. tragou e prendeu a fumaça por um instante longo..
Ela ignorou o mar de olhares e se deteve na ilha e no vulcão que soltava fumaça, mas nenhuma lava.. ainda..) - Quente né?
- Talvez.. (ele disse batendo as cinzas no chão, olhando para os próprios pés escondidos sob o all-star preto detonado, antes de levantar os olhos e fincá-los nos dela, como se não tivesse porquê ela estar ali.. tragou, enquanto a fumaça se dissipava..) Talvez..
(Ela ficou curiosa com aquela resposta, aquele olhar, aquela boca de lábios grossos e secos equilibrando um cigarro como se fosse um dedo assanhado.. virou-se para ele, espaçou as pernas pra apoiar-se melhor, mas deixando ambos os pés apontando pra ele, e prendeu o cabelo como se quisesse provar algo.. e terminou de dissipar a fumaça existente..) - Talvez? Como assim.. talvez?
(Ele sorriu.. quase com deboche.. soltou a fumaça, que misturou-se ao ar entre os dois, sólida como uma verdade.. achou graça na pose de "quem é você pra discordar de mim e não se submeter à minha beleza" dela.. a fumaça saiu densa, contínua, enevoando o mundo, eclipsando as luzes, cerceando-os dos arredores..)
- Eu falava do lugar.. tá um forno isso aqui.. (ela disse passeando os olhos pela caledoscopia que parecia um mundo inalcançável para além da fumaça.. bebeu mais um gole da cerveja estranhando um pouco tudo aquilo.. aquele cara indefinido.. mas não precisou exagerar, talvez por já ter a atenção pretendida.. talvez por já não haver refrescância possível por ali..
A fumaça parecia começar a se fazer o próprio ar que ela respirava. Enquanto o olhar castanho-rubro dele hipnotizava a atenção dela, a fumaça se entranhava e invadia os poros do corpo dela.. deslizava pelo corpo trazendo arrepios.. condensava os arrepios como uma língua que singra uma vontade..)
- Mas.. e.. bem.. qual o seu nome? (ela disse com dificuldade.. sufocada e excitada.. na falta de ter o que dizer, como se aquilo fosse o último refrear da vontade de pular do abismo, mas que apenas confirma a certeza iminente da queda..
Ele aproximou-se dela na retumbância daquele silêncio.. transformando cada segundo na potência de um desejo lapidado.. e cuspiu fogo na boca dela. Derramou chamas caudalosas.. piras funerais cobriram a carne dela.. a pele, a gordura sob ela, os músculos, os ossos, até mesmo a medula.. com a intensidade de uma super nova estelar.. a fumaça foi rubra por um instante, teve um cheiro mais adocicado.. mas talvez fosse a luz.. logo ela se dissiparia..
E ele tragou.. e soltou fumaças pela narina.. como faria um dragão...)
"O objetivo principal não é descobrir, mas refutar o que somos. (...) Não é libertar o indivíduo do Estado e de suas instituições, mas libertar-nos, nós, do Estado e do tipo de individualização que vai ligada a ele. É preciso promover novas formas de subjetividade..." Foucault
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
41o Festival de Brasilia...
Dia 19/11
Mulher biônioca - Baseado num conto do Caio F. Abreu.. muito fraco e desinteressante, além de me soar de um machismo de mau gosto.
Que cavação é essa? - Perspectiva doidivanas da temática da recuperação da filmografia brasileira.. faz piada e fala sério num jogo da questão da recuperação dos filmes...
O Milagre de Luisa.. - Um genial documentário sobre a sanfona, sanfoneiros e a importância desse instrumento de expressão cultural brasileira.. cheia de nuances e seguindo os passos do narrador, Dominguinhos, em seus diálogos com outras assumidades no assunto...
dia 20
No 27 - O primeiro curta da noite foi sobre um rapaz que tem uma caganeira no meio da prova e enfrente (ou não..) a zombaria dos colegas.. pois é, desinteressante como você tá imaginando...
Cidade vazia - O segundo curta mostra a fuga de uma menina correndo por uma cidade ao lado do primo numa fuga do enterro do pai.. ou da mãe.. a questão é colocada em uma sequência pretensamente não-linear, mas não convence...
FilmeFobia - Talvez um dos filmes que mais deu o que falar no festival. O diretor Kiko Goifman conta com a colaboração (ou direção..) de Jean -Claude Bernadet, uma grande referência cinematográfica brasileira.. num documentário fictício ou numa ficção documental os dois exploram a catarse realística de fóbicos confrontados de maneiras inescapáveis com seus terrores maiores. Homens e mulheres são amarrados e presos a engenhocas onde são aterrorizados por ratos, cobras, altura, cabelo, palhaços, ralos de banheiros, toques de celular, sangue.. entre outras fobias. Atores, fóbicos e atores fóbicos encarnam tais aventuras. Discussões metalínguisticas surgem pontuando a narrativa do livro, questionando todo o processos e a própria identidade desse discurso. Ao fim, o filme causa impacto maior pelo mal-estar do que pelas possibilidades que propõem. Como apresentado em umas das discussões levantadas, fica o choque entre o sadismo do filme e o masoquismo de quem se dispõem a interagir com ele.
dia 21
Brasília (Título provisório) - Este pequeno curta aqui de Brasília parte de bom enredo, onde um diretor narra um pretenso filme sobre um mundo onde Brasília nunca foi concluída, tornando-se um cemitério de cidade a céu aberto no meio do Brasil. Uma obra faraônica desconhecida do restante do país. Dando a ler sua história, a diretor brinca com várias piadas clássicas de Brasília finalizando com o questionamento da própria meta-linguagem utilizada...
A arquitetura do corpo - Sem nenhuma palavra, o segundo curta da noite expõe a construção do corpo dos dançarinos. Os modos pelos quais o trabalho com dança levam seus praticantes a formar / deformar seus corpos a fim de conformarem tal prática.
Siri-Ará - Putz.. esse filme, na melhor definição que escutei, é barroco. Isso.. barroco. Ele tenta narrar a colonização do nordeste a partir do ponto de vista e das narrativas populares do sertão do Ceará, protagonizada pelos símbolos folclóricos dessa cultura. No entanto, as camadas simbólicas muitos mais se acumulam, dão volteios, cheios de babados e rococós que você acaba preferindo ir embora do cinema e xingar o diretor...
dia 22
Ana Beatriz - Curta baseado em um conto também. Narra o encontro de um casal. A narração conta sobre o sujeito e as imagens a da sujeita, até ambas se encontrarem no momento final. Bonitinho e ordinário...
Minami em close-up - Esse excelente curta (o melhor até aqui..) conta a partir da revista Minami em close-up os caminhos e descaminhos da produção cinematográfico da afamada Boca do Lixo em São Paulo. Entrevista e cenas dão a ler a diversidade de porno-gêneros que foram produzidos.
Ñande, Guarani (Nós Guarani) - Esse documentário em formato clássico, é na verdade um importante documento para a afirmação e percepção da Nação formada pelos povos guaranis que habitam Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina e da necessidade de medidas coesas e efetivas do merco-sul na real preservação e fomento dessa cultura milenar. É meio maçante, mas importante...
dia 23
A minha maneira de estar sozinho - Cheguei atrasado e não vi.
Na madrugada - Curta sobre um casal de lésbicas da terceira-idade e sobre o conflito pessoal de uma das senhoras, quanto a esse caminho.. a sede de carinho e o receio da entrega.
À margem do lixo - Esse filme pode ser inserido numa trilogia do diretor. Depois de À margem da imagem e À margem do concreto, esse terceiro filme segue a mesma linha documental para apresentar as leituras de mundo e vivências dos catadores de lixo da cidade de São Paulo. O diretor dá a ler as percepções desses personagens interpretando a própria vida, a cidade e a dinâmica política que os envolve
dia 24
Cães - Árido.. preto e branco.. esse curta trata dos conflitos inerentes à relação pai e filho. Um pai que carrega o filho Inácio nas costas e o culpa por tudo.. carrega Inácio e sua sede em meio às visões que povoam o mundo de suas desilusões numa caatinga eterna e inóspita até que a morte os aparte, sem trazer qualquer consolo, no entanto.
Superbarroco - Esse curta tem uma lírica própria. Ele narra de forma fantásticas os devaneios e loucura de um homem que comemora o aniversário da mulher morta. Através de belos recursos de câmera, a diretora transpõe o delírio louco do sujeito em meio à festa imaginária que povoa sua casa e sua vida vazias de materialidades. Muito bom.
Tudo isto me Parece um Sonho - Mais um longa documentário que força as fronteiras convencionais de definição entre documentário e ficção. No entanto, pode ser definido como um hibrido. O filme narra e busca reconstitur a vida do General pernambucano Abreu e Lima, que lutou ao lado de Simon Bolivar na libertação da América Espanhola e esteve umbilicalmente ligado às revoluções liberais pernabucanas de 1817 e 48. O filme é longo e cansativo, muito embora faça bom uso da meta-linguagem ao condensar diversas expressões culturais e históricas para não só dar a ler o citado general como articular a brasilidade envolvida em tais processos revolucionários.
Pra acrescentar:
Na abertura do Festival, houve a projeção de cópia recuperada e digitalizada do filme São Bernardo, baseado na obra de Graciliano Ramos. Pra quem não conhece, vale muito a pena.
Todos os filmes acima pertencem À mostra competitiva 35mm, mas além desta existe uma mostra paralela em 16 mm. Nela passou o filme do qual fez parte meu melhor amigo, Thiago, como pesquisador. Memórias Finais da República de Fardas trata dos dias finais da ditadura militar focando o que se passou em Brasília durante a votação da emenda das diretas já. Através de extenso material documental (pesquisado pelo Thiago) e depoimentos o diretor mostra o que se passava na capital, fechada por um estado de sítio, enquanto se votava o projeto "em segurança". Muito bom, melhor que a grande maioria das coisas do 35mm.
Mulher biônioca - Baseado num conto do Caio F. Abreu.. muito fraco e desinteressante, além de me soar de um machismo de mau gosto.
Que cavação é essa? - Perspectiva doidivanas da temática da recuperação da filmografia brasileira.. faz piada e fala sério num jogo da questão da recuperação dos filmes...
O Milagre de Luisa.. - Um genial documentário sobre a sanfona, sanfoneiros e a importância desse instrumento de expressão cultural brasileira.. cheia de nuances e seguindo os passos do narrador, Dominguinhos, em seus diálogos com outras assumidades no assunto...
dia 20
No 27 - O primeiro curta da noite foi sobre um rapaz que tem uma caganeira no meio da prova e enfrente (ou não..) a zombaria dos colegas.. pois é, desinteressante como você tá imaginando...
Cidade vazia - O segundo curta mostra a fuga de uma menina correndo por uma cidade ao lado do primo numa fuga do enterro do pai.. ou da mãe.. a questão é colocada em uma sequência pretensamente não-linear, mas não convence...
FilmeFobia - Talvez um dos filmes que mais deu o que falar no festival. O diretor Kiko Goifman conta com a colaboração (ou direção..) de Jean -Claude Bernadet, uma grande referência cinematográfica brasileira.. num documentário fictício ou numa ficção documental os dois exploram a catarse realística de fóbicos confrontados de maneiras inescapáveis com seus terrores maiores. Homens e mulheres são amarrados e presos a engenhocas onde são aterrorizados por ratos, cobras, altura, cabelo, palhaços, ralos de banheiros, toques de celular, sangue.. entre outras fobias. Atores, fóbicos e atores fóbicos encarnam tais aventuras. Discussões metalínguisticas surgem pontuando a narrativa do livro, questionando todo o processos e a própria identidade desse discurso. Ao fim, o filme causa impacto maior pelo mal-estar do que pelas possibilidades que propõem. Como apresentado em umas das discussões levantadas, fica o choque entre o sadismo do filme e o masoquismo de quem se dispõem a interagir com ele.
dia 21
Brasília (Título provisório) - Este pequeno curta aqui de Brasília parte de bom enredo, onde um diretor narra um pretenso filme sobre um mundo onde Brasília nunca foi concluída, tornando-se um cemitério de cidade a céu aberto no meio do Brasil. Uma obra faraônica desconhecida do restante do país. Dando a ler sua história, a diretor brinca com várias piadas clássicas de Brasília finalizando com o questionamento da própria meta-linguagem utilizada...
A arquitetura do corpo - Sem nenhuma palavra, o segundo curta da noite expõe a construção do corpo dos dançarinos. Os modos pelos quais o trabalho com dança levam seus praticantes a formar / deformar seus corpos a fim de conformarem tal prática.
Siri-Ará - Putz.. esse filme, na melhor definição que escutei, é barroco. Isso.. barroco. Ele tenta narrar a colonização do nordeste a partir do ponto de vista e das narrativas populares do sertão do Ceará, protagonizada pelos símbolos folclóricos dessa cultura. No entanto, as camadas simbólicas muitos mais se acumulam, dão volteios, cheios de babados e rococós que você acaba preferindo ir embora do cinema e xingar o diretor...
dia 22
Ana Beatriz - Curta baseado em um conto também. Narra o encontro de um casal. A narração conta sobre o sujeito e as imagens a da sujeita, até ambas se encontrarem no momento final. Bonitinho e ordinário...
Minami em close-up - Esse excelente curta (o melhor até aqui..) conta a partir da revista Minami em close-up os caminhos e descaminhos da produção cinematográfico da afamada Boca do Lixo em São Paulo. Entrevista e cenas dão a ler a diversidade de porno-gêneros que foram produzidos.
Ñande, Guarani (Nós Guarani) - Esse documentário em formato clássico, é na verdade um importante documento para a afirmação e percepção da Nação formada pelos povos guaranis que habitam Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina e da necessidade de medidas coesas e efetivas do merco-sul na real preservação e fomento dessa cultura milenar. É meio maçante, mas importante...
dia 23
A minha maneira de estar sozinho - Cheguei atrasado e não vi.
Na madrugada - Curta sobre um casal de lésbicas da terceira-idade e sobre o conflito pessoal de uma das senhoras, quanto a esse caminho.. a sede de carinho e o receio da entrega.
À margem do lixo - Esse filme pode ser inserido numa trilogia do diretor. Depois de À margem da imagem e À margem do concreto, esse terceiro filme segue a mesma linha documental para apresentar as leituras de mundo e vivências dos catadores de lixo da cidade de São Paulo. O diretor dá a ler as percepções desses personagens interpretando a própria vida, a cidade e a dinâmica política que os envolve
dia 24
Cães - Árido.. preto e branco.. esse curta trata dos conflitos inerentes à relação pai e filho. Um pai que carrega o filho Inácio nas costas e o culpa por tudo.. carrega Inácio e sua sede em meio às visões que povoam o mundo de suas desilusões numa caatinga eterna e inóspita até que a morte os aparte, sem trazer qualquer consolo, no entanto.
Superbarroco - Esse curta tem uma lírica própria. Ele narra de forma fantásticas os devaneios e loucura de um homem que comemora o aniversário da mulher morta. Através de belos recursos de câmera, a diretora transpõe o delírio louco do sujeito em meio à festa imaginária que povoa sua casa e sua vida vazias de materialidades. Muito bom.
Tudo isto me Parece um Sonho - Mais um longa documentário que força as fronteiras convencionais de definição entre documentário e ficção. No entanto, pode ser definido como um hibrido. O filme narra e busca reconstitur a vida do General pernambucano Abreu e Lima, que lutou ao lado de Simon Bolivar na libertação da América Espanhola e esteve umbilicalmente ligado às revoluções liberais pernabucanas de 1817 e 48. O filme é longo e cansativo, muito embora faça bom uso da meta-linguagem ao condensar diversas expressões culturais e históricas para não só dar a ler o citado general como articular a brasilidade envolvida em tais processos revolucionários.
Pra acrescentar:
Na abertura do Festival, houve a projeção de cópia recuperada e digitalizada do filme São Bernardo, baseado na obra de Graciliano Ramos. Pra quem não conhece, vale muito a pena.
Todos os filmes acima pertencem À mostra competitiva 35mm, mas além desta existe uma mostra paralela em 16 mm. Nela passou o filme do qual fez parte meu melhor amigo, Thiago, como pesquisador. Memórias Finais da República de Fardas trata dos dias finais da ditadura militar focando o que se passou em Brasília durante a votação da emenda das diretas já. Através de extenso material documental (pesquisado pelo Thiago) e depoimentos o diretor mostra o que se passava na capital, fechada por um estado de sítio, enquanto se votava o projeto "em segurança". Muito bom, melhor que a grande maioria das coisas do 35mm.
A Day in the Life ou Pequenos círculos Espiralados...
Salve salve pessoas, enfim a última postagem pro Sargent Peppers.. espero que tenham apreciado com eu apreciei.. e ainda casou de ser a 1ooa postagem aqui do blog no ano.. :D..
http://mixandoassovios.blogspot.com/
http://mixandoassovios.blogspot.com/
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Dano ou Estar...
(Ele correu os dedos pelo papel. A caneta havia caído pesada sobre a materialidade que servia de veículo àquelas palavras.. e isso facilitava sua leitura...)
- Decidi escrever-te porque não mais aguentava pensar em você, precisava expulsar esses pensamentos de mim para o papel, para fora de mim, para algo alheio a nós dois...
(Ele parou. Levantou-se e deu três passos longos. Chegou até o som e ligou-o e apenas deixou tocar o cd que por lá já estava..)
- "The lunatic is on the grass.. the lunatic is on the grass.. remembering games and daisy chains and laughs.. got to keep the loonies on the path..."
(Tomou a taça na mão esquerda e tornou à leitura manual..)
- Muitas, tantas, inúmeras vezes as palavras me assaltam, me corroem, me impelem e dobram minha vontade com todo esse potencial limitante de percepções. Não me entenda mal, o problema não é você.. nunca foi.. nunca será. O problema sou eu.. sempre foi.. sempre será. É essa maldita besta insaciável que vive em meu íntimo, desejosa de banquetes apoteóticos a todo instante e desavergonhada de pedir, ainda assim, um 'teco' de qualquer lanche de outrém que lhe passe pela vista...
"The lunatic is in the hall.. the lunatics are in my hall.. the paper holds theirs folded faces to the floor.. and every day the paper boy brings more..."
(O papel ainda tinha o perfume dela. Era sempre inebriante e instigante aquele perfume, que para ele tinha um certo cheiro de kinder ovo.. ao mesmo tempo que conseguia invadir suas narinas, penetrar escorregadio pelo seu íntimo e atiçar suas partes. Bebeu vinho..)
- Por isso cheguei até você. Por isso preciso seguir o meu caminho. Sei que deve doer muito ler o que estou dizendo, mas tenho de ir para não me perder. Ficar seria dar algo de mim, que uma vez dado, me fará uma falta suprema. Não taxe-me de egoísta.. não que eu não seja.. sou sim, por escolha, inclusive.. mas não uma egoísta qualquer, sou egoísta pelo bem do equilíbrio universal. Posso jurar meu amor, mas não posso trair a mim mesma. Você que bebeu do melhor e do pior de mim, não irá querer ficar para ver o vinho tornar-se vinagre...
"And if the dam breaks open many years too soon.. and if there is no room upon the hill.. and if your head explodes with dark forebodings too.. I'll see you on the dark side of the moon..."
(O vinho já não desceu tão doce. Ele afastou a taça amarga, que agora mais parecia um réles copo de requeijão. Tateou o cinzeiro e retirou de lá uma ponta sobrevivente.. deixou a carta e acendeu-a. Deu uma longa tragada e a prendeu dentro de si, apenas para sentir a fumaça castigar seus pulmões. Não queria sentir nada de bom naquele momento..)
- Houveram tantos antes de você. Haverão muitos ainda.. eu espero.. pelo menos é como sempre tem funcionado. Mas nenhum como você. Como sei que nunca encontrará ninguém como eu. Não por sermos especiais. Simplesmente por sermos humanos. Demasiado humanos. Incomensuravelmente humanos.. mundanos.. fulanos e ciclanos...
"The lunatic is in my head.. the lunatic is in my head.. you raise the blade, you make the change.. you rearrange me untill I'm sane..."
(Soltou a fumaça, que já era quase ar. Seus sentidos inclinaram-se um pouco, mesmo que o mundo permanecesse na escuridão de sempre. Um mundo sem cores, sem curvas, ângulos e entalhes. Um relógio para ele era muito mais um tic-tac constante, do que um círculo numérico e cíclico. Uma carta era pra ele um ato quase sexual de desvendar um corpo com seu arguto tato.. e ela sabia muito bem disso...)
- Eu queria ter o direito de te dizer que sou sua. Mas seria mentira. E não que eu não minta.. minto o tempo todo.. mas seria leviano lhe retribuir dessa forma, seria como cuspir nos seus óculos. Um dia já acreditei que podíamos ter as pessoas.. hoje sei que podemos estar com elas e nada mais. E estar com você foi profanamente divino. Nunca ninguém me tocou como você. Muitos correram a mão pela minha carne, poucos pela minha alma.. nenhum antes, pelos meus medos. E sei que eu vi em você o que me ensinastes a ver de olhos fechados. Nosso retrato sempre ficará aqui guardado, num belo lugar do álbum, com menção honrosa.. entre o meu cão Gumercindo e um coleguinha de 2a série chamado Leonardo Matias da Silveira que me roubou o primeiro beijo que tenho lembranças...
"You lock the door.. and throw away the key.. there's someone in my head but it's not me..."
(O baseado findou-se, já quase lhe queimando os dedos. Largou-o de volta no cinzeiro transbordante sobre a mesa de carvalho pintada de tinta acrílica branca.. o branco sempre tinha uma textura diferenciada das demais. Largou novamente a maldita carta da maldita dama com suas malditas palavras. Levantou-se e foi até a janela. Eram cinco passos médios. Parou esticou os braços e o batente estava lá como devia. Abriu-a. Sentiu a brisa da noite, desejoso de que ela trouxesse um perfume menos embriagante. Veio apenas o cheiro da fumaça suja da cidade.. da urina feita nas junções entre o prédio e a calçada.. o excremento de pombos que recobriam o telhado.. as damas da noite, que no parque, ao longe, ondulavam ao sabor do vento.. pensou por onde estaria o mar...)
- Sendo assim, meu oráculo.. meu profeta.. meu apóstata.. meu espelho.. tenho de ir e já tendo ido, deixo este pedaço de mim transcrito para que nunca digas que não lhe dei nada. Sei sim que tanto recebi e tão pouco dei.. mas assim é a nossa natureza.. você é de dar, eu sou de receber.. e sou sedenta de muitas fontes.. sou como o mar, que precisa de muitos rios e da chuva e de sabe-se lá mais o que, para seguir em seu movimento de ir e vir. Quando nos encontrarmos novamente, sorria com carinho...
"And if the cloud bursts, thunder in your ear.. you shout and no one seems to hear..."
(Retirou as mãos do batente velho e já cheio de fissuras do tempo e levou-as até o cabideiro, ao lado, sempre ao lado, onde estava seu chapéu. Colocou-o sobre os cabelos longos como faria um gângster em um daqueles filmes antigos que ele nunca vira. Pegou o sobretudo, vestiu-o sentindo desde já o peso do que havia nos inúmeros bolsos.. caminhou os oito passos que o separavam da porta.. passos pequenos...)
- Ainda assim, sei que tens todo o direito de me odiar. Não o recrimino.. talvez ninguém me odeie mais do que eu mesma. Minha mãe sempre me dizia que eu era minha pior inimiga e não que eu devia tomar cuidado. Nunca fui do tipo cuidadosa mesmo. Mas que seja um ódio amável, ódio de querer arrancar-me do mundo e prender-me numa gaiola dourada, com boa água e alpiste da melhor qualidade. Certamente seria a mais bela gaiola de minha vida. E, ainda assim, contigo lá.. com água.. alpiste.. conforto.. vinho, poesia e boa música.. ainda assim, não seria a liberdade. Perdoe minha vaidade e minha vã idade, mas tenho pés inquietos, asas sangradas e braços abertos para receber muitas flechadas...
"And if the band you're in starts playing different tunes.. I'll see you on the dark side of the moon..."
(Pegou a bengala que sempre ficava junto à porta. Girou a maçaneta. Olhou uma última vez para mesa, onde não mais jazia a carta, que chegara ao chão levada pelo vento que vinha da janela, como se pudesse vê-la. Suspirou uma longa desilusão. O corredor o esperava com a luz que se acendia sozinha. Pensou se deveria chorar. Acabou por sorrir o sorriso de quem já chorou demais. Fechou a porta atrás de si e foi-se adiante pela escuridão...)
- Por isso tenho de ir.. sozinha.. avante pela escuridão. Até qualquer dia, até um dia qualquer, onde talvez eu não parta, onde talvez você não fique, onde talvez eu suplique por estar farta de tanta tolice. Agora só sei que preciso ser tola e nada mais.. até outro dia.. meu amor tão fulgaz...
"I can't think of anything to say except... I think it's marvellous! HaHaHa!"
- Decidi escrever-te porque não mais aguentava pensar em você, precisava expulsar esses pensamentos de mim para o papel, para fora de mim, para algo alheio a nós dois...
(Ele parou. Levantou-se e deu três passos longos. Chegou até o som e ligou-o e apenas deixou tocar o cd que por lá já estava..)
- "The lunatic is on the grass.. the lunatic is on the grass.. remembering games and daisy chains and laughs.. got to keep the loonies on the path..."
(Tomou a taça na mão esquerda e tornou à leitura manual..)
- Muitas, tantas, inúmeras vezes as palavras me assaltam, me corroem, me impelem e dobram minha vontade com todo esse potencial limitante de percepções. Não me entenda mal, o problema não é você.. nunca foi.. nunca será. O problema sou eu.. sempre foi.. sempre será. É essa maldita besta insaciável que vive em meu íntimo, desejosa de banquetes apoteóticos a todo instante e desavergonhada de pedir, ainda assim, um 'teco' de qualquer lanche de outrém que lhe passe pela vista...
"The lunatic is in the hall.. the lunatics are in my hall.. the paper holds theirs folded faces to the floor.. and every day the paper boy brings more..."
(O papel ainda tinha o perfume dela. Era sempre inebriante e instigante aquele perfume, que para ele tinha um certo cheiro de kinder ovo.. ao mesmo tempo que conseguia invadir suas narinas, penetrar escorregadio pelo seu íntimo e atiçar suas partes. Bebeu vinho..)
- Por isso cheguei até você. Por isso preciso seguir o meu caminho. Sei que deve doer muito ler o que estou dizendo, mas tenho de ir para não me perder. Ficar seria dar algo de mim, que uma vez dado, me fará uma falta suprema. Não taxe-me de egoísta.. não que eu não seja.. sou sim, por escolha, inclusive.. mas não uma egoísta qualquer, sou egoísta pelo bem do equilíbrio universal. Posso jurar meu amor, mas não posso trair a mim mesma. Você que bebeu do melhor e do pior de mim, não irá querer ficar para ver o vinho tornar-se vinagre...
"And if the dam breaks open many years too soon.. and if there is no room upon the hill.. and if your head explodes with dark forebodings too.. I'll see you on the dark side of the moon..."
(O vinho já não desceu tão doce. Ele afastou a taça amarga, que agora mais parecia um réles copo de requeijão. Tateou o cinzeiro e retirou de lá uma ponta sobrevivente.. deixou a carta e acendeu-a. Deu uma longa tragada e a prendeu dentro de si, apenas para sentir a fumaça castigar seus pulmões. Não queria sentir nada de bom naquele momento..)
- Houveram tantos antes de você. Haverão muitos ainda.. eu espero.. pelo menos é como sempre tem funcionado. Mas nenhum como você. Como sei que nunca encontrará ninguém como eu. Não por sermos especiais. Simplesmente por sermos humanos. Demasiado humanos. Incomensuravelmente humanos.. mundanos.. fulanos e ciclanos...
"The lunatic is in my head.. the lunatic is in my head.. you raise the blade, you make the change.. you rearrange me untill I'm sane..."
(Soltou a fumaça, que já era quase ar. Seus sentidos inclinaram-se um pouco, mesmo que o mundo permanecesse na escuridão de sempre. Um mundo sem cores, sem curvas, ângulos e entalhes. Um relógio para ele era muito mais um tic-tac constante, do que um círculo numérico e cíclico. Uma carta era pra ele um ato quase sexual de desvendar um corpo com seu arguto tato.. e ela sabia muito bem disso...)
- Eu queria ter o direito de te dizer que sou sua. Mas seria mentira. E não que eu não minta.. minto o tempo todo.. mas seria leviano lhe retribuir dessa forma, seria como cuspir nos seus óculos. Um dia já acreditei que podíamos ter as pessoas.. hoje sei que podemos estar com elas e nada mais. E estar com você foi profanamente divino. Nunca ninguém me tocou como você. Muitos correram a mão pela minha carne, poucos pela minha alma.. nenhum antes, pelos meus medos. E sei que eu vi em você o que me ensinastes a ver de olhos fechados. Nosso retrato sempre ficará aqui guardado, num belo lugar do álbum, com menção honrosa.. entre o meu cão Gumercindo e um coleguinha de 2a série chamado Leonardo Matias da Silveira que me roubou o primeiro beijo que tenho lembranças...
"You lock the door.. and throw away the key.. there's someone in my head but it's not me..."
(O baseado findou-se, já quase lhe queimando os dedos. Largou-o de volta no cinzeiro transbordante sobre a mesa de carvalho pintada de tinta acrílica branca.. o branco sempre tinha uma textura diferenciada das demais. Largou novamente a maldita carta da maldita dama com suas malditas palavras. Levantou-se e foi até a janela. Eram cinco passos médios. Parou esticou os braços e o batente estava lá como devia. Abriu-a. Sentiu a brisa da noite, desejoso de que ela trouxesse um perfume menos embriagante. Veio apenas o cheiro da fumaça suja da cidade.. da urina feita nas junções entre o prédio e a calçada.. o excremento de pombos que recobriam o telhado.. as damas da noite, que no parque, ao longe, ondulavam ao sabor do vento.. pensou por onde estaria o mar...)
- Sendo assim, meu oráculo.. meu profeta.. meu apóstata.. meu espelho.. tenho de ir e já tendo ido, deixo este pedaço de mim transcrito para que nunca digas que não lhe dei nada. Sei sim que tanto recebi e tão pouco dei.. mas assim é a nossa natureza.. você é de dar, eu sou de receber.. e sou sedenta de muitas fontes.. sou como o mar, que precisa de muitos rios e da chuva e de sabe-se lá mais o que, para seguir em seu movimento de ir e vir. Quando nos encontrarmos novamente, sorria com carinho...
"And if the cloud bursts, thunder in your ear.. you shout and no one seems to hear..."
(Retirou as mãos do batente velho e já cheio de fissuras do tempo e levou-as até o cabideiro, ao lado, sempre ao lado, onde estava seu chapéu. Colocou-o sobre os cabelos longos como faria um gângster em um daqueles filmes antigos que ele nunca vira. Pegou o sobretudo, vestiu-o sentindo desde já o peso do que havia nos inúmeros bolsos.. caminhou os oito passos que o separavam da porta.. passos pequenos...)
- Ainda assim, sei que tens todo o direito de me odiar. Não o recrimino.. talvez ninguém me odeie mais do que eu mesma. Minha mãe sempre me dizia que eu era minha pior inimiga e não que eu devia tomar cuidado. Nunca fui do tipo cuidadosa mesmo. Mas que seja um ódio amável, ódio de querer arrancar-me do mundo e prender-me numa gaiola dourada, com boa água e alpiste da melhor qualidade. Certamente seria a mais bela gaiola de minha vida. E, ainda assim, contigo lá.. com água.. alpiste.. conforto.. vinho, poesia e boa música.. ainda assim, não seria a liberdade. Perdoe minha vaidade e minha vã idade, mas tenho pés inquietos, asas sangradas e braços abertos para receber muitas flechadas...
"And if the band you're in starts playing different tunes.. I'll see you on the dark side of the moon..."
(Pegou a bengala que sempre ficava junto à porta. Girou a maçaneta. Olhou uma última vez para mesa, onde não mais jazia a carta, que chegara ao chão levada pelo vento que vinha da janela, como se pudesse vê-la. Suspirou uma longa desilusão. O corredor o esperava com a luz que se acendia sozinha. Pensou se deveria chorar. Acabou por sorrir o sorriso de quem já chorou demais. Fechou a porta atrás de si e foi-se adiante pela escuridão...)
- Por isso tenho de ir.. sozinha.. avante pela escuridão. Até qualquer dia, até um dia qualquer, onde talvez eu não parta, onde talvez você não fique, onde talvez eu suplique por estar farta de tanta tolice. Agora só sei que preciso ser tola e nada mais.. até outro dia.. meu amor tão fulgaz...
"I can't think of anything to say except... I think it's marvellous! HaHaHa!"
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Pra fora...
Tenho dormido o necessário. Tenho trabalhado até o ponto de achá-lo supérfulo. Não tenho viajado nem um terço do que precisaria. Tenho digitado até os verbos tremerem nas bases. Tenho falado pelos cotovelos velados. Trabalho o tanto de perceber que não queria estar lá. Tenho estado com os amigos e idolatrado cada fagulha com que eles acendem minha pira. Tenho musicalizado cada pormenor das vibrações da existência. Fico em casa o bastante pra sentir falta da rua.. nua.. da lua.. de uma brisa mais crua. Visto tantos filmes quanto poderia. Tenho tentado fazer o dever, o lazer e o prazer, não necessariamente nessa mesma ordem. Tenho sonhado, esquecido e ressucitado memórias em ecos nobres procedentes do oriente. Tenho esperado uma vida menos inteira, mas enquanto isso eu danço. E amando tudo posso...
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quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Goog Mornig, good moorning ou Claro, menina.. claro...
http://mixandoassovios.blogspot.com/
Tá acabando, eu prometo...
Tá acabando, eu prometo...
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Mal dito ou Para se ganhar asas...
- Não dá pra continuar...
- Sempre dá. Só não dá, quando se desiste.
- Pois é.. eu desisti.. desisti de continuar.. não.. não posso suportar esse sufocamento.. essa.. essa morte lenta..
- Você preferia morrer de uma vez?
- Prefiro.. tanto que estou desistindo..
- Mas.. mas e tudo.. tudo que houve até aqui? Não é posível que não hajam sucessos, cores, amores, encantos.. qualquer merda, porra.. sei lá.. que não te façam querer continuar..
- Ainda que eu pague tributos aos meus suseranos, não sou vassalo de vivências passadas.. eu sou rei de um reino de um único súdito e assino decreto de execução sumária.. o rei está morto, viva o rei.
- Mas e eu? E.. e.. os seus amigos? Seus pais.. eles.. eles nunca vão entender.. se você me mostrar uma única pessoa que concorde com isso...
- A única pessoa que precisa concordar comigo, já concorda..
- Ah é? E eu posso saber quem é?
- Eu mesmo.
- Você fala como se fosse algum maldito auto-suficiente..
- Não.. só sou madito o suficiente.. só isso. Não tenho pretensões totalizantes.. nem devaneios de repousos divinos.. eu só quero um espetacular acabamento.
- Você não pode ser tão egoísta...
- Eu te diria o mesmo, mas respeito seu egoísmo.
- Depois de.. depois de tudo.. de tudo que a gente fez.. chegar aqui, assim.. para me mostrar.. me mostrar esse sangue maquiavelicamento borrifado na nossa tela neoclássica, é.. é só crueldade.
- Pode ser cruel.. mas está longe de ser apenas isso. O fogo quando queima está apenas realizando reações químicas. Não é cruel com o carbono.. só está redimensionando-o em novas moléculas.. "nada se cria.. nada se perde.. tudo se transforma" já dizia Lavoisier.
- Algo se cria, muito se perde, quando tudo se tranforma.. já dizia eu. E eu não sou seu carbono..
- Mas guarda minhas impressões.. a sinuosidade do meu traço.. o peso da minha mão.. o sulco das minhas marcas.. e logo, as cicatrizes dolorosas do meu fogo.
- Todos os fogos, um fogo.. me avisou Cortazar..
- Avisos nunca adiantam.. só tensionam a carne à sofrer com a dor.
- Eu devia saber..
- Você sabia. Luta-se para agregar, mas só há entropia pela frente.
- Você já disse que eu era sua entropia.. mas disse como se fosse algo bom..
- Sim. E tendo bebido dela, eu agora vou me afogar num buraco-negro... sempre foi bom, até quando não era. Das nossas desgraças eu colhi o colorido que borrifei a vida.. das nossas alegrias, eu fiz alicerces para uma escada até o infinito.
- Então por quê? Por quê?.. Você é só um tolo que quer comandar até o final.
- Eu sou só um tolo.. um tolo que não aceita o final pré-escrito.. não se prende a estruturas ancestrais.
- E por que tem de ser esse o final?
- Não tem.. e é por isso... (e um leve vento bateu e ele caiu no precipício...)
- Sempre dá. Só não dá, quando se desiste.
- Pois é.. eu desisti.. desisti de continuar.. não.. não posso suportar esse sufocamento.. essa.. essa morte lenta..
- Você preferia morrer de uma vez?
- Prefiro.. tanto que estou desistindo..
- Mas.. mas e tudo.. tudo que houve até aqui? Não é posível que não hajam sucessos, cores, amores, encantos.. qualquer merda, porra.. sei lá.. que não te façam querer continuar..
- Ainda que eu pague tributos aos meus suseranos, não sou vassalo de vivências passadas.. eu sou rei de um reino de um único súdito e assino decreto de execução sumária.. o rei está morto, viva o rei.
- Mas e eu? E.. e.. os seus amigos? Seus pais.. eles.. eles nunca vão entender.. se você me mostrar uma única pessoa que concorde com isso...
- A única pessoa que precisa concordar comigo, já concorda..
- Ah é? E eu posso saber quem é?
- Eu mesmo.
- Você fala como se fosse algum maldito auto-suficiente..
- Não.. só sou madito o suficiente.. só isso. Não tenho pretensões totalizantes.. nem devaneios de repousos divinos.. eu só quero um espetacular acabamento.
- Você não pode ser tão egoísta...
- Eu te diria o mesmo, mas respeito seu egoísmo.
- Depois de.. depois de tudo.. de tudo que a gente fez.. chegar aqui, assim.. para me mostrar.. me mostrar esse sangue maquiavelicamento borrifado na nossa tela neoclássica, é.. é só crueldade.
- Pode ser cruel.. mas está longe de ser apenas isso. O fogo quando queima está apenas realizando reações químicas. Não é cruel com o carbono.. só está redimensionando-o em novas moléculas.. "nada se cria.. nada se perde.. tudo se transforma" já dizia Lavoisier.
- Algo se cria, muito se perde, quando tudo se tranforma.. já dizia eu. E eu não sou seu carbono..
- Mas guarda minhas impressões.. a sinuosidade do meu traço.. o peso da minha mão.. o sulco das minhas marcas.. e logo, as cicatrizes dolorosas do meu fogo.
- Todos os fogos, um fogo.. me avisou Cortazar..
- Avisos nunca adiantam.. só tensionam a carne à sofrer com a dor.
- Eu devia saber..
- Você sabia. Luta-se para agregar, mas só há entropia pela frente.
- Você já disse que eu era sua entropia.. mas disse como se fosse algo bom..
- Sim. E tendo bebido dela, eu agora vou me afogar num buraco-negro... sempre foi bom, até quando não era. Das nossas desgraças eu colhi o colorido que borrifei a vida.. das nossas alegrias, eu fiz alicerces para uma escada até o infinito.
- Então por quê? Por quê?.. Você é só um tolo que quer comandar até o final.
- Eu sou só um tolo.. um tolo que não aceita o final pré-escrito.. não se prende a estruturas ancestrais.
- E por que tem de ser esse o final?
- Não tem.. e é por isso... (e um leve vento bateu e ele caiu no precipício...)
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Piada...
Passo. Passa. Cansaço. Espaço. Graça. Esparsa. Laço. Aço. Assa. Asas.. nem pensar.
Praça. Parca. Parco. Porco. Arco. Raça. Taça. Traço. Pouco. Trago. Lago. Largo.. nem tanto.
Barca. Embarca. Emborca. Boca. Pouca. Bico. Pico. Fico. Fincas. Fintas. Tintas. Infinitas.. nem sempre.
Embaraça. Desgraça. Disfarsa. Desfaça. Embaça. Caça. Casa. Acaso. Crasso. Cadarço. Cada dar só.. nem assim.
Declama. Derrama. Chama. Profana. Afana. Conclama. Trama. Dama. Fama. Treme. Geme. Expreme. Leme.. sem rumo.
Destina. Latrina. Resina. Latrocínio. Fascínio. Sina. Sino. Menino. Mesanino. Intestino. Investindo. Findo. Menina.. nem sabe.
Destrói. Dói. Corrói. Corre. Cobre. Cobra. Sobra. Sobre. Sabre. Cabe. Sabe. Desdobre. Dobro. Ou nada. Malvada. Mal vai dar. Piada.. bem contada.
Praça. Parca. Parco. Porco. Arco. Raça. Taça. Traço. Pouco. Trago. Lago. Largo.. nem tanto.
Barca. Embarca. Emborca. Boca. Pouca. Bico. Pico. Fico. Fincas. Fintas. Tintas. Infinitas.. nem sempre.
Embaraça. Desgraça. Disfarsa. Desfaça. Embaça. Caça. Casa. Acaso. Crasso. Cadarço. Cada dar só.. nem assim.
Declama. Derrama. Chama. Profana. Afana. Conclama. Trama. Dama. Fama. Treme. Geme. Expreme. Leme.. sem rumo.
Destina. Latrina. Resina. Latrocínio. Fascínio. Sina. Sino. Menino. Mesanino. Intestino. Investindo. Findo. Menina.. nem sabe.
Destrói. Dói. Corrói. Corre. Cobre. Cobra. Sobra. Sobre. Sabre. Cabe. Sabe. Desdobre. Dobro. Ou nada. Malvada. Mal vai dar. Piada.. bem contada.
terça-feira, 4 de novembro de 2008
sábado, 1 de novembro de 2008
Rebolado...
Do teu lado
Com o teu gingado
Eu que já sou errado
Fico torto
Mais que absorto
No porto
Da tua enseada
Que volteia
Passeia
Deixa a vontade aprisionada
Enamorada
De mais um virada
Da tua cintura
Que serpenteia
Enquanto a lua alteia
Sem cura
Pra minha figura impura
Capaz que não creias
Mas fico aprisionado
Nas curvas do teu passado
No movimento sambado
Dos seus quadris
Que tanto fiz
E tanto me deixam alado
Pedindo biz
Pra esticares o fado
Um volteio mais rebuscado
Teu profano
Pra mim, sagrado
Maior que os planos
Impactante dano
No meu peito insano
Teu passar perfumado
Essa tua dança
Que em mim avança
E você parece que não cansa
De ver esse doidão extasiado
Mais um bocado
Nessa ginga mansa
Você bem sabe que o peito balança
E os sentidos você trança
Dá esperança
E rebola
Na vontade se cola
Amola
Se imbola
Assola
Rola
Mas a bola
Você não passa
Só deixa hipnotizado
Com toda essa sua graça
Sedento e faminto um bocado
Para a cada passo teu, um suspiro
Levantas poeira
Enquanto eu aspiro
Esse delírio
De moça faceira
Dançante guerreira
Quer queira ou não queria
Vais dançar pelo prado
Vir pisar no meu gramado
Nesse dia ensolarado
Com esse teu rebolado
Aqui guardado
Enlaçado
Em mim...
(A imagem do rebolado eu tenho que agradecer à Dona Violeta...)
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