quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Carta para Hélio Lopes


Oi pai.

15 anos nego véio. Eu ainda escuto você falar "porra, negão" como se tivesse sido há 15 minutos.

Lembro dos barulhos que você fazia.. umas onomatopeias aleatórias, mas meio cantado, fingindo que não estava ouvindo o que eu tava falando, embora fosse óbvio que você estava. Hoje em dia eu sei porquê os pais fazem isso. Lembro da sua gargalhada. E da risada que escapava. Lembro do abraço.. de quando eu era menor que você e do que eu passei a te dar quando fiquei maior. Lembro até do seu jeito de cruzar as pernas no sofá vendo tv. Sua arte de comer laranjas na bacia. Queria dizer que eu lembro de tudo... queria mesmo... é impossível te esquecer, você vive em tudo que eu sou... em cada lágrima que eu tô derramando agora, pai. É uma saudade que dói tanto, que eu não aguento. Não tem nada parecido. EU amo você. Eu queria muito, mais que tudo, que você ainda estivesse aqui. 




domingo, 1 de junho de 2025

Carta para Hélio Lopes


Oi pai.

76 anos de Hélio Lopes. 7 anos de Gustavo. 1 ano de Aurora.

Tô em casa doente com as crianças. Segunda começa mais uma greve das professoras e professores. Hoje é domingo, pé de cachimbo... rs.. eu sei que o certo é pede cachimbo, mas na minha cabeça de criança sempre foi pé de cachimbo. Estamos gripados. Tá rolando uma onda de influenza pra todo lado. A semana toda assim. Tava numa correria louca com a Olimpíada de História. 27 equipes na 4a fase, acredita?

Dé tá em Manaus, foi para um congresso de medicina, passa a semana toda lá. Hoje tem festinha do Gugão e da Aurora, mas não vamos poder ir. Devo visitar o Guto essa semana quando melhorarmos. 

To vivendo o que acontece e planejando o que é possível. Uma preocupação me habita, outras me atravessam, mas eu só sei de viver o que me resta nessa festa.

Me falta um pai pra me dar conselhos. Não para segui-los, mas para tê-los. Não que eu seja um pai com bons conselhos.. rs. A vida é muito boa em sapatear sobre conselhos alheios né.

Mas escutar o seu "porra, negão".. ia ser muito bom. Ia me encher de alegria. Me alimentar as forças. Me lembrar que a solidão não é condição. Os pais tem esse poder de fazer a gente se sentir protegido, refugiado do mundo. Você tinha esse jeito. Tomava conta de todo mundo, não só de mim e do Guto. Filho de Dona Hilda né.

João acabou me pedir ajuda com uma caneta e perguntou chorando. Eu disse pra ele que é saudade do meu pai, que eu choro porque cada lágrima é o tanto que você era maravilhoso. Obrigado por ter sido o melhor pai que eu conheci e por viver em mim desse jeito sempre. Dói. Faz falta. Nunca diminui. Que bom...

Saudades. Amo você.